Não foi num beco escuro
Ou em algum ermo esquecido
Que a democracia foi estuprada
Na Câmara do Deputados
Sob comando de um gangster evangélico
Foram centenas de estupradores e estupradoras
Tangidos por deus e pela família
O estupro foi ao vivo
A violência se deu em cadeia nacional
Violência de um veleiro destroçado nas rochas
Quando a democracia afinal quedou-se inerte
Hordas em transe acenderam fogos de artifício
A classe mérdia gozou nas cuecas e calcinhas
A democracia estava ali espancada
O corpo marcado por hematomas
As roupas rasgadas
Mas havia festa e urros de puro êxtase
Pelo estupro da democracia
Quem mandou, democracia,
Você permitir que um metalúrgico
Retirante de pouca instrução
Pernambucano arretado
Um brasileiro inviável
Se elegesse para ser
O maior presidente que este país já teve?
Quem você pensa ser, sua vadia?
Democracia, sua vadia,
Você é para nosso exclusivo usufruto
Quem você pensa que é, democracia?
Quem você pensa que é, sua vadia?
Que povo de merda é esse que você quer proteger?
Quem são os negros e os brancos
Todos quase pretos de tão pobres
Quem são os indígenas
As mulheres
Os quilombolas
O povo LGBTT
Os sem terra
Quem são os que não mais passam fome
Quem você pensa que é, democracia vadia?
Mas o estupro precisa ser didático
Agora está a ocorrer no Senado Federal
A democracia duramente conquistada
Por homens e mulheres que deram suas vidas por ela
A democracia já não reage
Suas marcas na cara e no corpo são evidentes
Mas o estupro não tem fim
Senadores e senadoras abusam da democracia
Cospem na cara da democracia
Rasgam as já rotas vestes da democracia
Fodem a democracia
E mais uma vez a classe mérdia goza nas cuecas e calcinhas
Urra berros de êxtase gozoso e pornográfico
A culpa é sua, democracia!
Sua vadia, quem lhe deu permissão para eleger Lula?
Como você acha possível que governo de esquerda
Tenha tirado o Brasil do Mapa da Fome?
Quem você pensa ser, sua vadia?
Mas os velhos sábios de togas esvoaçantes
Provocados pela democracia
E pelos pobres índios negros mulheres gays
Lésbicas quilombolas gente de rua
Os sábios sob suas togas esvoaçantes
Proclamam que a democracia, essa vadia
Não gritou o suficiente
Não se debateu com firmeza
E merece o estupro
Que está a ser praticado a luz do dia
Com transmissão ao vivo
Estupro feito segundo as regras do estupro
Dizem os sábios togados
Infestados pela mais abjeta sarna
Que escondem sob suas togas
Que a democracia pode ser estuprada
Desde que os estupradores sigam as regras
A culpa é sua, democracia!
Sua vadia, quem lhe deu permissão para eleger Lula?
Como você acha possível que governo de esquerda
Tenha tirado o Brasil do Mapa da Fome?
Quem você pensa ser, sua vadia?
3 comentários:
Linda e triste poesia. É o paradoxo de que muitos poetas encontram em momentos de dor a inspiração. Um abraço fraterno. Não podemos desistir. Ocupar e Resistir é o que nos ensina essa maravilhosa juventude da periferia do Brasil.
Definitivo, seu poema. Nada mais há a se dizer desse golpe.
Eu vejo o Brasil como o cenario do Ensaio sobre a cegueira do Saramago, onde os brasileiros sao os cegos...estou perplexa!
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