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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A menor das dores

Copiei de Retalhos Sentidos

Ana Pérola Veloso

O amor dói – disse. Eu fiquei perplexa, pois como podia uma criança ter esta opinião formada? E refleti por muitos dias todos os amores que tive e que doeram, o amor que doía naquele presente. Porque o amor dói mesmo, frustra, tamanha as esperas e expectativas que depositamos nele. O amor decepciona, porque no início somos vitrines do nosso melhor. Depois, todas as ervas daninhas começam a aparecer e não sabemos ao certo o que fazer com todas aquelas imagens que nos apresentaram e pior, com as que apresentamos. Nos tornamos insustentáveis. Porque primeiro a gente se vende, depois a gente vê.

Curiosa, enquanto voltávamos do seu dia de escola, perguntei-lhe: por que diz isso? E ela com aquela profundidade noturna nos olhos, voz marejada me responde “O amor dói porque hoje na aula eu sorri para ele e ele não sorriu para mim”. Céus, ela só tem seis anos, pensei, e esta é a menor das dores. Eu, dilacerada, imaginei aquela criatura quando mais adulta, vendo todas as maldades do mundo e dos amores insanos. E descobri que não sorrir está tudo bem. Porque nem sempre estamos no nosso melhor dia e ficamos introspectivos.

Descubro que tudo está crítico quando o amor sorri para a rede social e apanha silenciosamente no último cômodo da sala que é para ninguém, ou quase ninguém ouvir. Descubro a angústia de segurar um choro e um pedido de socorro numa volta na rua de mãos dadas e apertadas. Não, este aperto não é seguro. Este aperto de mãos é posse, e ai de mim gritar. Porque eu só posso ser sua, eu ouvia, e eu sentia medo de morrer. E me perguntava: a liberdade vale a morte? Não sei.

Quisera eu doer por todos eles nunca terem sorrido para mim, nunca terem me notado. Mas nós, mulheres, nos doemos porque calamos, porque temos uma maldita crença à submissão, porque precisamos nos manter frágeis e vulneráveis a eles. Mas não. Chega um ponto onde o limite surge, e ao arregaçar as mangas, o amor doente corre e por mais que me deixe marcas, prossigo em paz.

Amar, sobretudo, é um ato de desapego e coragem.

Um comentário:

Ana Pérola Veloso disse...

Que honra a minha estar aqui meio a tanta riqueza.