Copiei do meu amigo Walter Silva
Outro dia um garoto me mandou ir matar uns "bode" no meio de uma discussão, numa evidente nota de desprezo pelo fato de eu ser nordestino.
Mas o bairrismo é um preconceito etnocêntrico muito fuleiro; não chega a ser xenofobia, mas parece pretender alçar tais alturas.
É mais uma ofensa rasteira que propriamente um ato de ódio; é como xingar a nossa mãe; parece que a ofensa é ainda mais profunda quanto maior é o amor pela mãe.
Você nasce e cresce aborrecendo-se com tudo e todos na sua terra, sonhando com o dia em que vai partir para longe e fechar enfim a porteira atrás de si; você fica mais velho e descobre então que não pode viver longe da sua casa.
Há quatros eu tentei ir embora; eu me despedi dos meus, e por um instante virei as costas no aeroporto e vi a minha mãe desaparecer rápido no meio dos estranhos, o olhar pesaroso e sentido, as lágrimas brotando sem parar. E com ela se iam a minha história, o meu lugar, os beijos nas manhãs dos meus aniversários, o café e o cuscuz, o calor escaldante, o céu de turmalina, a flor branca do mandacaru, os espinhos do xique xique, a muralha dourada das serras no pôr do sol, as chuvas de inverno, os cajus vermelhos, o pó das ruas, o bosque do juremal, as pedras e as bocas de furnas, o cheiro acre da tacaca, o sapo cururu, o sotaque manhoso do povo, os "Oxentes" e "Oxi" e "vixi Maria", e as deliciosas variações; "armaria","Afemaria", "Vigi Maria"....
Eu voltei alguns dias depois; a dor foi tanta que eu pensei que morreria.
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