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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Direita em ação: teocracia, censura e medo

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, 
publicado no blog Escrevinhador:  

Com a generosa ajuda da velha mídia brasileira, e uma mãozinha da candidatura de Marina Silva, Serra conseguiu pautar a reta final do primeiro turno e o inicio do segundo turno com uma temática religiosa.  É um atraso gigantesco para o Brasil.  Parte dos apoiadores de Dilma acha que a campanha do PT deve fugir desse debate, recolher apoios de evangélicos e católicos, e rapidamente mudar de assunto.  Penso um pouco diferente.  É evidente que essa temática religiosa não é o que interessa para o Brasil. Mas se Serra escolheu o obscurantismo, é preciso mostrar isso à população. A esquerda, tantas e tantas vezes, foge dos enfrentamentos. Acho que desse enfrentamento não deveria fugir.  Por que ninguém do PT é capaz de dar uma resposta a Serra, deixando a Ciro Gomes a tarefa de pendurar o guiso no gato? Ciro disse - de forma muito apropriada - que o discurso de Serra é o caminho para um regime teocrático. Vejam:  Ciro Gomes: “Por que o PSDB, que nasceu para ajudar a modernidade do País, resolveu agora advogar o Estado teocrático? O Serra tem de dizer que, na República que ele advoga, primeiro falam os aiatolás, e aí os políticos resolvem o que os aiatolás querem que seja feito.”  O Brasil, agora digo eu, precisa que se faça esse debate.  O Brasil precisa, também, comparar os resultados econômicos e sociais de FHC e Lula. Mas precisa de politização, precisa que se enfrente o pensamento conservador.  Essa é uma hora boa para desmascarar a intolerância religiosa.  Aliás, é preciso tomar cuidado ao associar “evangélicos”, apenas, a esse discurso intolerante. Não. Os ataques mais coordenados e mais perigosos partem da Igreja Católica.  É preciso – com muito cuidado e respeito pelos milhares de católicos e evangélicos que praticam a religião apenas para confortar suas almas, e para difundir o amor ao próximo – lembrar que já houve um tempo em que a religião mandava na política.  No Brasil Colonial, tivemos a Inquisição católica a prender, torturar e executar. A intolerância religiosa já matou muito – no mundo inteiro. Aprendemos isso na escola, ou deveríamos aprender (quem não se lembra da “Noite de São Bartolomeu” ,na França, pode ler algo aqui).  Já que Serra quer travar esse debate, devemos pendurar o guiso no gato, e perguntar se o que ele quer é um Estado teocrático. É isso?  Do lado de Serra, certamente ficará muita gente. Mas tenho certeza que do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país.  Na Espanha, esse debate é travado nas eleições. O PP (partido conservador) tem uma parceria muito próxima com a Opus Dei e com o catolicismo mais reacionário. O PSOE (social-democrata) não tem medo de assumir a defesa de um Estado laico – respeitando as práticas religiosas.  O PSOE ganhou eleição prometendo união civil de homossexuais. A direita católica do PP realizou marchas com quase um milhão de pessoas, contra essa plataforma. Levou bispos e padres (de batina e tudo) para as ruas. O PP tentou intimidar o PSOE. O que fez a centro-esquerda? Travou o debate, resistiu, deu uma banana para o terrorismo religioso. E ganhou.  É preciso ter coragem.  O círculo da direita se fecha: ela tem as igrejas (algumas), ela tem a velha mídia, ela tem a prática da intolerância.  “A ideologia da direita é o medo”, já nos ensinava Simone de Beauvoir.  A intolerância e o medo é que levaram o “Estadão” (que, diga-se, abre espaços para a Opus Dei) a demitir Maria Rita Kehl por ter escrito um artigo que contraria a linha oficial de “somos Serra até a morte”.  Nas redações, não há espaço para dissenso. Quem levanta a cabeça tem a cabeça cortada.  “Folha” (que censura blogs), “Estadão” (que demite colunista), “Veja” (com seu esgoto jornalístico a céu aberto) e “Globo” (sob comando de Ali “não somos racistas” Kamel) são a armada a serviço desse contra-ataque conservador. Isso já está claro há muito tempo. Mas Lula parece ter minimizado essa articulação, e acreditado que enfrentaria tudo no gogó – sem politizar o debate. Não deu certo. É preciso enfrentamento, politização.  Esse é um combate que merece ser travado. Para ganhar ou perder. E acho que temos toda chance de ganhar.  Até porque, se Serra ganhar com esse discurso de ódio, e com esses apoios (panfletos da TFP, reuniões no Clube Militar, pregação e intolerância religiosas), o país (empresários, trabalhadores, classe média) precisa saber que teremos uma nação conflagrada durante 4 anos.  Não dá pra fazer de conta que isso não está acontecendo.  Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida, como fazem os espanhóis e como fez o Ciro Gomes.  
Com coragem.

Um comentário:

Amigos do Jekiti disse...

Concordo plenamente.
Dilma não pode fazer de conta que essa campanha canalha não existe. Ela tem obrigação de levar essa discussão para o debate. O povo merece isso.