Agora pela manhã, por volta das 10 horas, eu e Sônia, minha mulher, fomos até o SAMAE (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) com o propósito de protocolar o documento cujo teor reproduzo a seguir.
"Em 16 de fevereiro, pela manhã, estive nesta Samae para requerer esclarecimentos sobre a ligação 0006196, vez que a caixa d'água estava vazia e o medidor não mais se movia.
Na mesma data, no período da tarde, por volta das 16:30 horas, equipe desta autarquia compareceu e constatou que, a montante do medidor, havia fluxo abundante do precioso e caro líquido; em seguida, um dos integrantes da equipe veio comigo até a casa e removeu a torneira do tanque, que é alimentada diretamente pela rede e não pela caixa d'água, tendo constatado que não havia nenhum fluxo d'água.
A equipe, considerando que havia fluxo a montante do medidor e que, como na torneira do tanque, a jusante do medidor, não havia fluxo do precioso, caro e cada vez mais escasso líquido, o entupimento e/ou restrição seria de minha responsabilidade, e que uma raiz poderia ter provocado o estrangulamento do encanamento.
Ainda que me pareça claro que, de fato, o entupimento está localizado a jusante do medidor, quero, com a ênfase necessária, refutar expressamente que isso seja minha responsabilidade e, mais ainda, que raízes malvadas e descontroladas tenham provocado estrangulamento da linha interna de abastecimento. Explico:
Linhas de abastecimento doméstico de água são de PVC, material de conhecida rigidez, ainda que tenha certa flexibilidade, desde que ao longo de grandes extensões, isto é, se uma terrível e malvada raiz, cumprindo o seu destino de crescer, encontrasse pela frente a porcaria da linha de PVC de minha casa, que fique bem claro, ela não a estrangularia feito uma serial-killer de lábios vermelhos e sorriso sinistro, por ser impossível dobrar um tubo de PVC como se fosse uma mangueira de jardim, pois o tubo
acabaria por romper inexoravelmente, e disso vocês aí da Samae certamente sabem muito mais que eu.
Devo lembrar, por oportuno, que a Samae é o único fornecedor de água tratada desta cidade, o que significa que o claro e evidente entupimento a jusante do medidor - fato que equipe desta autarquia constatou - foi provocado por alguma coisa que veio com a água que vocês me entregam.
Assim sendo, para todos os fins e na forma do melhor direito, requeiro que no prazo mais que razoável de 24 horas, a Samae remova a porcaria que enviou para a minha linha de abastecimento, vez que estamos sem água, que é bem essencial."
Expliquei o caso para a atendente, que resolveu chamar o servidor de nome Henrique, para o qual contei a história toda de novo e ele, enfático, declarou que somente receberia o documento se "a firma fosse reconhecida", como se tal exigência descabida estivesse inscrita em algum diploma legal ou coisa parecida.
Mais ou menos como faço aqui neste blog, elevei claramente o tom da minha voz para, na condição de cidadão puto dentro das calças, insurgir-me aos berros contra decisão tão completamente despropositada, contra o fato evidente que o servidor tinha, por assim dizer, resolvido não resolver coisa alguma, e disse-lhe que, querendo, chamasse mesmo a polícia. O servidor, então, acedeu em protocolar o documento mas, vejam que absurdo, informou-me que a autarquia não responderia por escrito (por falta da tal firma reconhecida) e que, afinal, a responsabilidade pela solução do problema seria mesmo minha.
Disse-lhe que o teor da resposta não me interessava e que a autarquia poderia até considerar meu pleito sem fundamento, mas insisti que sim, a Samae, estava obrigada a responder-me por escrito, isso sempre aos berros, o que vou reconhecer que fiz, declaro desde logo, mesmo diante do Juiz da Comarca, ora essa.
É assim: tem gente que, para prestar serviço público decente, esquece que é servidor público. Mas, para cagar regras absurdas e ameaçar-me, ainda que educadamente, ah, imediatamente lembra sua condição de servidor público.
Como fui imediatamente até a prefeitura e conversei com um assessor direto do prefeito, a resposta virá, eu sei.
Vejam como são as coisas, meus caros. Estava pronto para concluir a postagem quando, oh, que surpresa, 11:15, a Samae bateu palmas em meu portão. O problema está agora completamente resolvido, o precioso e cada vez mais raro líquido vital está de volta, não morreremos de sede, podemos tomar banho e, oh, faremos nossas próprias refeições, tudo porque dei uns berros e umas porradas virtuais na mesa. Não gostaria de ter feito, mas está provado que às vezes, serviço público só funciona desse jeito.
"Em 16 de fevereiro, pela manhã, estive nesta Samae para requerer esclarecimentos sobre a ligação 0006196, vez que a caixa d'água estava vazia e o medidor não mais se movia.
Na mesma data, no período da tarde, por volta das 16:30 horas, equipe desta autarquia compareceu e constatou que, a montante do medidor, havia fluxo abundante do precioso e caro líquido; em seguida, um dos integrantes da equipe veio comigo até a casa e removeu a torneira do tanque, que é alimentada diretamente pela rede e não pela caixa d'água, tendo constatado que não havia nenhum fluxo d'água.
A equipe, considerando que havia fluxo a montante do medidor e que, como na torneira do tanque, a jusante do medidor, não havia fluxo do precioso, caro e cada vez mais escasso líquido, o entupimento e/ou restrição seria de minha responsabilidade, e que uma raiz poderia ter provocado o estrangulamento do encanamento.
Ainda que me pareça claro que, de fato, o entupimento está localizado a jusante do medidor, quero, com a ênfase necessária, refutar expressamente que isso seja minha responsabilidade e, mais ainda, que raízes malvadas e descontroladas tenham provocado estrangulamento da linha interna de abastecimento. Explico:
Linhas de abastecimento doméstico de água são de PVC, material de conhecida rigidez, ainda que tenha certa flexibilidade, desde que ao longo de grandes extensões, isto é, se uma terrível e malvada raiz, cumprindo o seu destino de crescer, encontrasse pela frente a porcaria da linha de PVC de minha casa, que fique bem claro, ela não a estrangularia feito uma serial-killer de lábios vermelhos e sorriso sinistro, por ser impossível dobrar um tubo de PVC como se fosse uma mangueira de jardim, pois o tubo
acabaria por romper inexoravelmente, e disso vocês aí da Samae certamente sabem muito mais que eu.
Devo lembrar, por oportuno, que a Samae é o único fornecedor de água tratada desta cidade, o que significa que o claro e evidente entupimento a jusante do medidor - fato que equipe desta autarquia constatou - foi provocado por alguma coisa que veio com a água que vocês me entregam.
Assim sendo, para todos os fins e na forma do melhor direito, requeiro que no prazo mais que razoável de 24 horas, a Samae remova a porcaria que enviou para a minha linha de abastecimento, vez que estamos sem água, que é bem essencial."
Expliquei o caso para a atendente, que resolveu chamar o servidor de nome Henrique, para o qual contei a história toda de novo e ele, enfático, declarou que somente receberia o documento se "a firma fosse reconhecida", como se tal exigência descabida estivesse inscrita em algum diploma legal ou coisa parecida.
Mais ou menos como faço aqui neste blog, elevei claramente o tom da minha voz para, na condição de cidadão puto dentro das calças, insurgir-me aos berros contra decisão tão completamente despropositada, contra o fato evidente que o servidor tinha, por assim dizer, resolvido não resolver coisa alguma, e disse-lhe que, querendo, chamasse mesmo a polícia. O servidor, então, acedeu em protocolar o documento mas, vejam que absurdo, informou-me que a autarquia não responderia por escrito (por falta da tal firma reconhecida) e que, afinal, a responsabilidade pela solução do problema seria mesmo minha.
Disse-lhe que o teor da resposta não me interessava e que a autarquia poderia até considerar meu pleito sem fundamento, mas insisti que sim, a Samae, estava obrigada a responder-me por escrito, isso sempre aos berros, o que vou reconhecer que fiz, declaro desde logo, mesmo diante do Juiz da Comarca, ora essa.
É assim: tem gente que, para prestar serviço público decente, esquece que é servidor público. Mas, para cagar regras absurdas e ameaçar-me, ainda que educadamente, ah, imediatamente lembra sua condição de servidor público.
Como fui imediatamente até a prefeitura e conversei com um assessor direto do prefeito, a resposta virá, eu sei.
Vejam como são as coisas, meus caros. Estava pronto para concluir a postagem quando, oh, que surpresa, 11:15, a Samae bateu palmas em meu portão. O problema está agora completamente resolvido, o precioso e cada vez mais raro líquido vital está de volta, não morreremos de sede, podemos tomar banho e, oh, faremos nossas próprias refeições, tudo porque dei uns berros e umas porradas virtuais na mesa. Não gostaria de ter feito, mas está provado que às vezes, serviço público só funciona desse jeito.
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