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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um ornitorrinco puto dentro das calças

Agora pela manhã, por volta das 10 horas, eu e Sônia, minha mulher, fomos até o SAMAE (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) com o propósito de protocolar o documento cujo teor reproduzo a seguir.

"Em 16 de fevereiro, pela manhã, estive nesta Samae para requerer esclarecimentos sobre a ligação 0006196, vez que a caixa d'água estava vazia e o medidor não mais se movia.
Na mesma data, no período da tarde, por volta das 16:30 horas, equipe desta autarquia compareceu e constatou que, a montante do medidor, havia fluxo abundante do precioso e caro líquido; em seguida, um dos integrantes da equipe veio comigo até a casa e removeu a torneira do tanque, que é alimentada diretamente pela rede e não pela caixa d'água, tendo constatado que não havia nenhum fluxo d'água.
A equipe, considerando que havia fluxo a montante do medidor e que, como na torneira do tanque, a jusante do medidor, não havia fluxo do precioso, caro e cada vez mais escasso líquido, o entupimento e/ou restrição seria de minha responsabilidade, e que uma raiz poderia ter provocado o estrangulamento do encanamento.
Ainda que me pareça claro que, de fato, o entupimento está localizado a jusante do medidor, quero, com a ênfase necessária, refutar expressamente que isso seja minha responsabilidade e, mais ainda, que raízes malvadas e descontroladas tenham provocado estrangulamento da linha interna de abastecimento. Explico:
Linhas de abastecimento doméstico de água são de PVC, material de conhecida rigidez, ainda que tenha certa flexibilidade, desde que ao longo de grandes extensões, isto é, se uma terrível e malvada raiz, cumprindo o seu destino de crescer, encontrasse pela frente a porcaria da linha de PVC de minha casa, que fique bem claro, ela não a estrangularia feito uma serial-killer de lábios vermelhos e sorriso sinistro, por ser impossível dobrar um tubo de PVC como se fosse uma mangueira de jardim, pois o tubo
acabaria por romper inexoravelmente, e disso vocês aí da Samae certamente sabem muito mais que eu.
Devo lembrar, por oportuno, que a Samae é o único fornecedor de água tratada desta cidade, o que significa que o claro e evidente entupimento a jusante do medidor - fato que equipe desta autarquia constatou - foi provocado por alguma coisa que veio com a água que vocês me entregam.
Assim sendo, para todos os fins e na forma do melhor direito, requeiro que no prazo mais que razoável de 24 horas, a Samae remova a porcaria que enviou para a minha linha de abastecimento, vez que estamos sem água, que é bem essencial."


Expliquei o caso para a atendente, que resolveu chamar o servidor de nome Henrique, para o qual contei a história toda de novo e ele, enfático, declarou que somente receberia o documento se "a firma fosse reconhecida", como se tal exigência descabida estivesse inscrita em algum diploma legal ou coisa parecida.

Mais ou menos como faço aqui neste blog, elevei claramente o tom da minha voz para, na condição de cidadão puto dentro das calças, insurgir-me aos berros contra decisão tão completamente despropositada, contra o fato evidente que o servidor tinha, por assim dizer, resolvido não resolver coisa alguma, e disse-lhe que, querendo,  chamasse mesmo a polícia. O servidor, então, acedeu em protocolar o documento mas, vejam que absurdo, informou-me que a autarquia não responderia por escrito (por falta da tal firma reconhecida) e que, afinal, a responsabilidade pela solução do problema seria mesmo minha.

Disse-lhe que o teor da resposta não me interessava e que a autarquia poderia até considerar meu pleito sem fundamento, mas insisti que sim, a Samae, estava obrigada a responder-me por escrito, isso sempre aos berros, o que vou reconhecer que fiz, declaro desde logo, mesmo diante do Juiz da Comarca, ora essa.

É assim: tem gente que, para prestar serviço público decente, esquece que é servidor público. Mas, para cagar regras absurdas e ameaçar-me, ainda que educadamente, ah, imediatamente lembra sua condição de servidor público.

Como fui imediatamente até a prefeitura e conversei com um assessor direto do prefeito, a resposta virá, eu sei.

Vejam como são as coisas, meus caros. Estava pronto para concluir a postagem quando, oh, que surpresa, 11:15, a Samae bateu palmas em meu portão. O problema está agora completamente resolvido, o precioso e cada vez mais raro líquido vital está de volta, não morreremos de sede, podemos tomar banho e, oh, faremos nossas próprias refeições, tudo porque dei uns berros e umas porradas virtuais na mesa. Não gostaria de ter feito, mas está provado que às vezes, serviço público só funciona desse jeito.

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