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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Lula não presta como todos nós, povo brasileiro

Copiei de Malu Aires

O que a gente tá assistindo, estes últimos instantes de agonia dessa imprensa ridícula, tá me revoltando um tanto que vocês nem imaginam como anda esse meu pobre coração.

O barco do Lula, uma embarcação pra pescar tilápia no lago, de alumínio (imagina encostar naquilo depois de exposto no sol quente), ser motivo pra essa insanidade vendida em primeira página...

A gente sabe que pra estes 1%, o melhor seria que Lula tivesse morrido daquele câncer na garganta. Proibido até de proferir suas últimas palavras, antes de morto... É tanto ódio que chega a ser crime.

Dona Marisa, Primeira-Dama, no dia da posse, estes mesmos canalhas lançavam manchetes ridicularizando sua simplicidade. Criticando até o fato dela ter usado um cabeleireiro pra ocasião. Seus filhos não podem trabalhar. Fossem traficantes, seriam glamourizados. Nem seus netos são respeitados pelos abutres.

Onde estão os donos e herdeiros da grande mídia, hoje? Seus simples empregados, vendedores de preconceitos e vilanias mil? Em espaçosas coberturas de frente pra cartões-postais. Em iates que consomem milhares de reais em diesel para pequenos passeios em Angra. Em casas cinematográficas irregularmente construídas no meio de reservas ambientais. Cercados de seguranças armados que transformam qualquer espaço público em privado.

Os que atacam Lula hoje e sempre, são os mesmos personagens que enriqueceram com a miséria do nosso povo. Que se fartaram de tudo o que o Brasil produzia, em troca do abandono do nosso povo, do analfabetismo do nosso povo, da pobreza extrema do nosso povo. São os que recebiam prêmios no exterior por reportagens da miséria, da fome, do descaso, da morte. São os que se entopem de cocaína pra fazerem cobertura de troca de tiros entre traficantes e a polícia. São os que contratam pedófilos pras suas emissoras. Os que dão prêmios às propagandas mais machistas. Os que produzem programas racistas. Novelas autodepreciativas. São os promotores do nosso atraso, da nossa esculhambação, de todos os preconceitos na nossa sociedade e são os porta-vozes do escárnio ao Brasil.

Lula não presta como todos nós, povo brasileiro, também não prestamos pra eles. Lula não pode ter apartamento numa praia poluída de SP, assim como os negros não podem frequentar universidades, assim como mulheres não podem ser empoderadas a quilômetros do fogão. Lula não pode ter um barco, nem a remo, assim como os pobres não podem ter carros. Assim como os índios não podem ter terra e água pra pescar e plantar mandioca, assim como, aos camponeses e seus filhos, só o tiro certeiro que os espere desprevenidos. Lula não pode dar palestras, assim como gays e lésbicas não podem exigir respeito, segurança e direito à vida. Lula não pode viajar pelo mundo e receber prêmios pelo combate à fome, assim como crianças pobres não podem ter comida na mesa, assim como pobres não podem andar de avião. Lula não pode ser visto ao lado de gente rica ou que tenha um sítio em Atibaia, assim como os meninos da periferia não podem ir ao shopping ou praia da Zona Sul.

A perseguição ao Lula simboliza a perseguição ao povo brasileiro e suas famílias que hoje podem exercer as mesmas conquistas de diploma, casa própria, carro do ano e viagens pra fora do país. A banalização de privilégios, responsáveis pelo abismo social que fazia de nós 3º mundo no século XVIII, interrompeu os planos da elite que queria deixar o Brasil entrar no século XX, só daqui 500 anos.

"Cortem as cabeças de quem pensa!"

"Cortem as mãos de quem produz!"

"Cortem as pernas de quem deu um passo à frente na vida!"

Ao Lula, nada. Aos pobres, nada. Aos nordestinos, fome e seca. Às mulheres, estupro e culpa. Aos negros, a marginalização eterna. Aos índios, a extinção. Aos brasileiros, a vergonha.

Este é o presente da mídia ao povo brasileiro - perseguição, escárnio, ódio e preconceito.

Lula, não os perdoe porque eles sabem muito bem o que estão fazendo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Juízes de Curitiba terão garçons na hora do expediente. A farra será de R$ 10 milhões

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Depois do escandaloso auxílio-moradia aos juízes, agora temos a notícia de que o Tribunal de Justiça do Paraná contratará 104 garçons para servir lanches e cafezinhos aos magistrados em todos os Fóruns da capital. Serão gastos 10 milhões de reais em três anos para bancar a mordomia. Os sanduíches encomendados também custarão o olho da cara ao erário.

Para que mesmo juiz precisa de garçom na hora do lanche?

Só se for para manter a pose de senhor da Casa Grande, com serviçais à sua disposição.

Não bastassem as vestimentas com mantos negros esvoaçantes e togas de duvidosa contemporaneidade, lembrando à vezes uma convenção a la Harry Potter, a justiça compõe um figurino de vestimentas e comportamentos (sem falar em certas sentenças!) mais apropriados ao ritual dos antigos monarcas do que de aproximação com a cidadania.

Essa fábula de 10 milhões gasta com garçons poderia muito bem ser empregada para outras medidas emergenciais que dessem agilidade e presteza à justiça para proteger os direitos dos cidadãos.

No entanto, o berço esplêndido do judiciário é cada vez mais uma redoma de privilégios. Na cara dura esta gente se auto-institui “direitos” e satisfações que são um acinte contra a população.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Ai de ti, Antonina!

Copiei do Urublues

Palavra do Senhor no Evangelho de São Maneco Cego:

Ai de ti, Antonina!

Ai de ti, pobre e velha cidade! Ai de ti, cidade mesquinha e miserável, com suas ruas cheirando a mijo, suas casas cheirando a mofo, castigada pelo sol e pelos ventos e maltratada pelas chuvas e pelas marés!
Ai de tuas ruas cheias de mato, de teus muros caídos, de tuas casas sem cuidado! Ai de teus miseráveis quintais, tanto os cheios de trastes, velharias e sujeira, quanto os limpinhos e recendendo a flores. Ai de tua baia assoreada, cheia de mato e sujeira!
Ai de ti e de teus filhos, perdidos em suas ruas, perdidos nas casas, perdidos no mundo imenso além da Serra e além do Mar!
Mandei marés de lua, mas vós não vos importunastes! Mandei marés de sete anos, mas ninguém deu a mínima! Mandei assorear a baia, para enchê-la de entulhos e lodo, mas continuastes no pecado!
Enviei temporais e chuvas imensas que fizessem derreter teus morros e destruir suas casas, mas nada mudou vossa conduta, Antonina!
Ai te ti, Antonina!
Ai de teus filhos que se perderam no mar: enfrentando as águas salobras de nossa baia, ou enfrentando os mares bravios para além da barra de Superagui! Ai dos teus filhos que se perderam além da Serra: enfrentando o frio, o vento e as outras cidades, tão mais amistosas e hospitaleiras que a nossa! Ai dos bagrinhos que enfrentaram o barro e o pó das estradas, dos que trabalharam em grandes plantações, em imensas fábricas e escuras minas! Ai também dos que trabalharam em escritórios ou nas mil vezes malditas profissões liberais! Ai dos que encontraram colegas, amigos e amores para longe do Morro do Bom Brinquedo ou da Ponta da Pita! Ai dos que se enganaram achando que este mundo além da Serra era melhor, ou mais injusto, ou a última chance!
Ai também dos que permaneceram caminhando em tuas ruas ou vivendo em tuas casas, Antonina! Ai dos que tentaram ganhar dinheiro e dos que não mexeram uma palha. Ai dos que viveram das heranças, dos que roubaram as pensões dos avós ou dos que trabalharam honestamente! Ai de teus profissionais liberais, teus comerciantes e teus funcionários públicos! Ai, sobretudo, de teus trabalhadores, que moram na Pita ou Batel ou Tucunduva ou Praia dos Polacos ou Portinho, e que em vão carpiram quintais, fizeram faxina, carregaram caminhões e cuidaram de crianças e velhos! Ai também dos trabalhadores que no passado carregaram navios, cavaram estradas e construíram pontes, e tentaram sinceramente, construir uma cidade no fundo daquela infecta baia. Ai das mulheres que, por gerações, pariram filhos e alimentaram suas preguiçosas famílias, que costuraram roupas e fizeram rendas de bilros e fizeram bolos e doces para vender fora. Ai das mulheres que lavaram roupa pra fora, ai das cozinheiras, copeiras e ai das pobres criadas, abusadas por todos!
Ai de teus políticos, teus sindicalistas, teus policiais, teus juízes! Ai de teus padres e teus pastores! Ai de teus jornalistas e blogueiros! Ai dos teus haters, que pensam estar a salvo sob o anonimato da internet! Ai dos deputados, governadores, senadores, e de todos os que vêm aqui pedir voto! Ai dos que usam a inocência das pessoas, dos que compram voto, dos que te corrompem e te roubam, pobre cidade!  
Ai de ti porque você se deixa roubar, Antonina! Não és mais pobre de espírito do que aqueles te expoliam, falsa e hipócrita cidade! Você não é melhor nem pior que Goianésia, que Anicuns, que Laranjeiras do Sul. Ai dos que querem teu mal, Antonina, mas presta atenção! Ai dos que querem teu bem! Ai daqueles que querem te salvar de alguém, de alguma coisa, de qualquer coisa, deles mesmos!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Quem me estuprou não foi só aquele cara. Você também fez isso

Copiei de Estrela Fernandez

Hoje fui estuprada. Subiram em cima de mim, invadiram meu corpo e eu não pude fazer nada. Você não vai querer saber dos detalhes. Eu não quero lembrar dos detalhes. Ele parecia estar gostando e foi até o fim. Não precisou apontar uma arma para a minha cabeça. Eu já estava apavorada. Não precisou me esfolar ou esmurrar. A violência me atingiu por dentro.
A calcinha, em frangalhos no chão, só não ficou mais arrasada do que eu. Depois que ele terminou e foi embora, fiquei alguns minutos com a cara no chão, tentando me lembrar do rosto do agressor. Eu não sei o seu nome, não sei o que faz da vida. Mas eu sei quem me estuprou.
Quem me estuprou foi a pessoa que disse que quando uma mulher diz “não”, na verdade, está querendo dizer “sim”. Não porque esse sujeito, só por dizer isso, seja um estuprador em potencial. Não. Mas porque é esse tipo de pessoa que valida e reforça a ação do cara que abusou do meu corpo.
Então, quem me estuprou também foi o cara que assoviou para mim na rua. Aquele, que mesmo não me conhecendo, achava que tinha o direito de invadir o meu espaço. Quem me estuprou foi quem achou que, se eu estava sozinha na rua, na balada ou em qualquer outro lugar do planeta, é porque eu estava à disposição.
Quem me estuprou foram aqueles que passaram a acreditar que toda mulher, no fundo no fundo, alimenta a fantasia de ser estuprada. Foram aqueles que aprenderam com os filmes pornô que o sexo dá mais tesão quando é degradante pra mulher. Quando ela está claramente sofrendo e sendo humilhada. Quando é feito à força.
Quem me estuprou foi o cara que disse que alguns estupradores merecem um abraço. Foi o comediante que fez graça com mulheres sendo assediadas no transporte público. Foi todo mundo que riu dessa piada. Foi todo mundo que defendeu o direito de fazer piadas sobre esse momento de puro horror.
Quem me estuprou foram as propagandas que disseram que é ok uma mulher ser agarrada e ter a roupa arrancada sem o consentimento dela. Quem me estuprou foram as propagandas que repetidas vezes insinuaram que mulher é mercadoria. Que pode ser consumida e abusada. Que existe somente para satisfazer o apetite sexual do público-alvo.
Quem me estuprou foi o padre que disse que, se isso aconteceu, foi porque eu consenti. Foi também o padre que disse que um estuprador até pode ser perdoado, mas uma mulher que aborta não. Quem me estuprou foi a igreja, que durante séculos se empenhou a me reduzir, a me submeter, a me calar.
Quem me estuprou foram aquelas pessoas que, mesmo depois do ocorrido, insistem que a culpada sou eu. Que eu pedi para isso acontecer. Que eu estava querendo. Que minha roupa era curta demais. Que eu bebi demais. Que eu sou uma vadia.
Ainda sou capaz de sentir o cheiro nauseante do meu agressor. Está por toda parte. E então eu percebo que, mesmo se esse cara não existisse, mesmo se ele nunca tivesse cruzado o meu caminho, eu não estaria a salvo de ter sido destroçada e de ter tido a vagina arrebentada. Porque não foi só aquele cara que me estuprou. Foi uma cultura inteira.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mães e pais, por favor, não criem suas filhas para terem medo. Criem seus filhos para respeitarem o corpo da mulher

Copiei de Quezia Gurgel
 

Raspei o cabelo.
Raspei em protesto à acusação da minha mãe de que "mulher que é estuprada tem culpa, pois provocou". Raspei porque abusaram de mim E EM NENHUMA DAS VEZES A CULPA FOI MINHA. 
Raspei porque tenho nojo dessa cultura de estupro que justifica "ah, mas homem você sabe..." enquanto culpabiliza mulheres. Raspei porque meu corpo pertence somente a mim e tenho a liberdade de usar a roupa que quiser, beber o quê e quanto quiser e sair e voltar o horário que quiser. 
Homens andam sem blusa e usam shorts. E não são estuprados. 
Homens bebem e voltam pra casa tarde. E não são estuprados.
Homens andam em lugares escuros e não tentam se proteger de possíveis estupradores. 
Por que eu não teria OS MESMOS DIREITOS? Por que meu direito de ir e vir é cerceado/limitado? Por que não posso usar short num calor de quase 40ºC? Por que não posso beber sem correr o risco de tocarem meu corpo de forma indevida?
Entendam: a culpa é SEMPRE do agressor, nunca da vítima.
A culpa é de quem passa a mão na bunda da mulher no ônibus. A culpa é de quem embebeda uma moça a fim de se aproveitar dela. A culpa é de quem rouba um beijo numa boate. A culpa é de quem não entende que é "não" e continua insistindo.
Mães e pais, por favor, não criem suas filhas para terem medo. Criem seus filhos para respeitarem o corpo da mulher.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Procrastinos, o deus de nosso tempo

Copiei do Urublues
Estatua inacabada de Procrastinos (sec IV aC, Jônia setentrional, a esquerda de quem vai para Mileto) 
Para Ricardo Castillo 
(que não é absolutamente 
devoto de Procrastinos...)

Ateus, agnósticos e outros incréus em geral, creiam neste pobre bagrinho: Procrastinos é o Deus de nosso tempo.
Um dos muitos e mal conhecidos deuses olímpicos, Procrastinos era filho de Cronos, o Tempo, e Réia, a Terra. Desde pequeno, Procrastinos era um deus muito cruel e amoral, o que lhe conferiu uma grande legião de seguidores, cujas origens nascem na Grécia Clássica e chegam a nosso tempo. Procrastinos, em lugar de fazer o que seu pai Cronos mandava, ficava pelas ruas do Olimpo fazendo nada, caçando formigas pra arrancar as cabeças ou matando passarinho com cetra (ou bodoque ou estilingue, dependendo da região da Grécia que estamos falando).
No entanto, houve um tempo em que Procrastinos se revoltou contra seu Destino, e tentou matar o Tempo. Cronos, seu pai colérico e vingativo, sentindo-se ameaçado pelo jovem deus, o atirou num imundo sofá cheio de ácaros e o condenou a assistir Sessão da Tarde até o fim dos tempos. Procrastinos só sobreviveu este castigo com grandes doses de Ovomaltine e bolachas negresco, que lhe eram dadas as escondidas pelas ninfas advertises. Vendo que o comportamento do deus não melhorava, Cronos ampliou o castigo, e o condenou a também assistir Malhação.
Esta existência cruel e tediosa não impediu, porém, que Procrastinos tivesse uma imensa legião de seguidores. Trata-se de um culto brando e cotidiano, exercido em silencio e devoção. De fato, o culto a Procrastinos não tem o voluntarismo do estridente culto das religiões monoteístas modernas. Apesar de ter alguns inegáveis pontos de contato, seu culto também não segue a linha das religiões orientais e seus ritos de silencio e paz interior.
O culto a Procrastinos é um culto do desassossego, da anti-paz de espirito. Seus adeptos estão sempre num grande estado de confusão mental, de desordem interior, procurando um vir-a-ser num futuro próximo e ao mesmo tempo distante, onde tudo terá uma solução mágica e misteriosa. Momentaneamente saciados, os adeptos do deus então se atiram num sofá reverencial, para assistir sabe-se lá o que na televisão, ou, em tempos mais recentes, no computador. Hoje, as Redes Sociais são um grande espaço de culto a Procrastinos.
Não existiam, na Grécia Antiga, muitos espaços para o culto a Procrastinos. O que se sabe é que, embora mais reverenciado que Zeus e muito mais amado que Apolo, os seguidores de Procrastinos não construíram nenhum tempo de culto digno de nota. Ao que parece, houve muitos projetos, mas poucos saíram do papel, dado o empenho dos fieis aos cultos de procrastinação (prokrastineia), como vieram a ser chamados. Algumas vezes, os cultos de Procratinos eram feitos juntamente com os cultos báquicos, desde que não exigissem muito esforço. A ênfase na produção de uva, o culto das videiras e o envase do vinho não eram entendidos pelos procrastinadores, como vieram a ser chamados os seguidores de Procrastinos.
Platão tinha uma visão bastante positiva de Procrastinos, e colocou no Timeu um dialogo com Flésias de Epidauro, onde havia um elogio da atividade dos procrastinadores, muitas vezes mal compreendido pelos platônicos mais diligentes. Já Aristóteles (sempre ele!) condenava o culto a Procrastinos, tendo escrito alguns parágrafos furibundos no terceiro volume de sua Física. No entanto, esta foi uma obra que, por influência de Procrastinos, o Estagirita não conseguiu terminar. Em Roma, os epicuristas viam com bastante simpatia o culto a Procrastinos, o qual, entretanto, era veementemente combatido pelos estoicos.
Já Santo Tomas de Aquino condenou com veemência o culto a Procrastinos, que se desenvolvia sem cessar por toda a Idade Media, mesmo após a morte do culto dos deuses clássicos. Em seu clássico “blasfêmia procrastinas vulgus in teolodiceam nostram" escrita em 1257 em Paris, o sábio e santo iniciou uma veemente  obra contra Procrastinos, a procrastinação e os procrastinadores. No entanto, por motivos que permanecem  um tanto obscuros até para os estudiosos da vida e da obra de S. Tomás, a obra infelizmente não foi concluída.

(este pequeno opúsculo sobre o grande deus Procrastinos deveria prosseguir em quinze volumes e dois tomos, com notas das edições grega, latina e árabe. Entretanto, isso exige muito esforço! Vou deixar a segunda parte, de mais três paginas pra amanhã, e continuo depois do almoço, assim que tomar um café. Eu juro!! Por Procrastinos!!)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Merda no ventilador: violência, gênero, lesbofobia

Copiei de Luana Costa
1. Vou tentar tirar todas as dúvidas que a mim tem sido direcionadas nos últimos dias. Eu tava tentando me esconder, contando pela metade, sentindo sei lá - vergonha do jeito que as pessoas na rua olhavam pra mim. E na real: foda-se. Eu não tenho que sentir vergonha desse olho (que garanto, pessoalmente ta infinitamente mais bizarro com uns bagulho estourado na esclerótica). E aí vou tentar juntar tudo aqui pra compartilhar com minhas manas, minha família, todas as companheiras que senti vontade de abraçar e os macho escroto gggg que eu to ligada que precisam de um choque de real Emoticon heart 

2. Minha virada de ano foi incrível: acompanhada de pessoas que gosto com uma energia maravilhosa. Até eu me sentir livre o suficiente para, depois de pular minhas 7 ondinhas, entrar no mar acompanhada e entender que, na verdade, não. Que na verdade não, acham que o meu corpo não é meu, e se eu não me pertenço, minha liberdade sexual é, no mínimo, uma falácia.
E é isso: passaram dois caras. Pararam. Acharam massa incomodar... Apareceram mais quatro.
"Se você quer ser homem, vai apanhar como um", ela ouviu como já ouviu durante muito tempo e como já apanhou durante muito tempo. Eu me enfiei na frente, não queria que ela ouvisse. Não de novo. Apanhei junto. Puxei quatro deles pra conversar e ela não ouvir mais. Ela apanhou mais.
Um casal de amigas que estavam conosco entrou no rolê e se fodeu também - uma delas levou na cara. Mais uma. Só mais uma.
E o que muda agora?

3. Sim, depois de dois dias, a gente criou coragem e se preparou pra um possível tratamento de merda na delegacia da mulher. E não é que, opa, não foi tão ruim assim?!
"Vocês acham que o que aconteceu foi relacionado a orientação sexual de vocês?", "Qual o seu gênero, >andreógena<, feminino, masculino...?", "E qual sua orientação sexual? Lésbica?! Ah, homossexual...", "E além disso, aconteceu alguma outra coisa?"

4. Sei lá, sabe, eu poderia escrever MUITA coisa a respeito do que rolou e como eu to me sentindo em relação a isso. Mas to ligada que a merda poderia ter sido MUITO maior, e tem mana que passa por coisa mais fodida, não pode nem se autoafirmar, todos os dias, em todos os lugares... É só foda. Foda demais.
Então assim: não, não ta tudo bem.

5. E aí, àquele escroto que acertou a gente e me falou que "o problema não é você, linda", eu queria dizer que sim, o problema também sou eu. Eu sou tão lésbica quanto ela. E que linda, a primeira mina que ele acertou, é muito. É linda demais, e eu tô extremamente agradecida por, já que isso teve que acontecer, ter rolado com ela: sapatão convicta, lésbica resistente, mina que apanhou enquanto mina, levantou enquanto mina, cuidou de mim com o braço fodido na tala enquanto mina, e que é muito dona de si pra que digam o que ela é ou deveria ser. E ela só é incrível.

6. Quanto ao silenciamento: espero que entendam porque eu bato tanto nessa tecla em qualquer espaço político que eu ocupo. Não é à toa que eu decidi jogar essa merda no ventilador. 

AVANTE, SAPATÃO!