SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sábado, 31 de janeiro de 2015

São Coisotão do GPS Erecto, rogai por nós!

Copiei do inoxidável Professor Diógenes de Oliveira
(o título escatológico acima é de minha descontrolada lavra)

A foto veio daqui

Fica lá em Portugal, vú!
Vale registrar que essa expressão, além de se referir ao pênis, é muito usada para exprimir raiva, admiração ou espanto.
A palavra caralho, que é um vulgarismo ou palavrão, vem do lat[im] *caraculu-, "pequena estaca", segundo se encontra no Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora.
Por outro lado, o Dicionário Eletrônico Houaiss diz que o vocábulo é de orig[em] duv[idosa]; Leo Spitzer propôs o lat[im] *characŭlus, dim[inutivo] de *charax,ācis, do gr[ego] chárax,akos, "esteio, estaca, empa"; apesar de tal étimo satisfazer tanto semântica quanto foneticamente, o vocábulo, que por sua sufixação arcaica (dim[inutivo em -cŭlus) teria de ser uma forma bastante antiga, jamais foi encontrado em latim. [Ciberdúvidas]

Tradutor Online de Português para Miguxês/Fofolês

Copiei a imagem daqui

Conheçam o MiGuXeiToR, meninos e meninas!

"No seu orifício anal, enfie de forma decidida dedão previamente untado com a gosma do seus preconceitos e, de inopino, realize movimento vigoroso que cause a rasgadura do citado orifício". 
Esta frase de rara singeleza, escrita de forma escorreita, terá as seguintes traduções para o Miguxês:

1. Miguxês Arcaico
"no seu orificio anal, enfie de forma decidida dedao previamente untado c/ a gosma do seus preconceitos e, de inopino, realize movimento vigoroso q cause a rasgadura do citado orificio".

2. Miguxês Moderno
"nu seu orificiu anau...enfie d forma decidida dedaum previamenti untadeenhu kom a gosma du seus preconceitus i...d inopinu...realize movimentu vigorosu ke kause a rasgadura du citadeenhu orificiu......"

3. Neo-Miguxês
"NU SEu oRIFICiu aNaU...enFIE DI fORmAH dECIDIdAh DedAum PReViaMENTi uNtadeEnhU KUM A GOsmAH Du SeUxXx prEcONcEitUxXx i...Di inopinu...reaLize moVimEnTU viGoROsu ki kAuSe A rAsgadurah DU cITadeENHU ORiFIcIU......"

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Modesta homenagem ao Dr. Rosinha

Em tempos de pragmatismo gosmento e de sinistros deputadões petistas, a ausência do Dr. Rosinha no Parlamento é uma perda para a luta dos trabalhadores. Faço minhas as palavras certeiras de Andrea Caldas.
---xxx---

Copiei de Andrea Caldas

 

Hoje estive na emocionante homenagem dos movimentos sociais ao Doutor Rosinha.
Tenho imenso orgulho de ter sido dele o meu primeiro voto, de ter partilhado, ao seu lado, minhas primeiras experiências no movimento sindical (há 26 anos).
Ainda que com pequenas divergências no percurso, nossa relação sempre foi marcada pelo respeito, carinho e amizade.
Já discordamos publicamente em Encontros do PT, mas nunca tive dele nenhuma palavra ofensiva ou desrespeitosa, ao contrário, sempre o mesmo olhar brilhante e carinhoso.
Teve um importante e destacado papel no Parlamento do Mercosul, sempre foi um apoiador das causas da educação pública e um militante partidário com disciplina árdua - que, as vezes, lhe custou muito!
Dos inúmeros relatos emocionados, no Ato de hoje, de militantes de varias agremiações e movimentos, há algumas marcas distintivas que pude testemunhar:
Sua sensível e humilde capacidade de escuta - Rosinha é aquele deputado que não vai para as atividades só para a mesa de abertura. Senta, ouve, faz intervenções cuidadosas.
Nas campanhas que fazíamos, das portas de fábrica aos equipamentos municipais, Rosinha era sempre o primeiro a chegar - mesmo que o horário marcado fosse as 6h da manhã.
Seu compromisso coletivo foi e é sempre notável, ainda que, muitas vezes, as estruturas partidárias não tenham tido consigo a mesma retribuição.
Fará falta no Parlamento e sua ausência deve nos inspirar a lutar contra o modelo do financiamento privado de campanhas, que tem a cada tempo, retirado mais e mais parlamentares compromissados da cena institucional.
Mas como ele disse: "não sairá da política, seja onde for."
Avante, camarada!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Desconfio que meu couro ateu está negociado a preço vil



A notícia é de 2013.

O Papa Francisco disse que "Fomos criados filhos à semelhança de Deus e o sangue de Cristo redimiu a nós todos! E todos temos o dever de fazer o bem. E esse mandamento para todos fazermos bem, penso ser um belo caminho para a paz. Se nós, cada um fazendo a sua parte, fizermos o bem uns aos outros, se nos encontrarmos lá, fazendo o bem, então iremos gradualmente criando uma cultura de encontro. Devemos nos encontrar na prática do bem. "Mas eu sou ateu, padre. Eu não creio…". "Faça o bem e nos encontraremos lá."

Já o Reverendo Thomas Rosica, porta-voz do Vaticano, disse que pessoas que conhecem a Igreja Católica "não podem ser salvas" se "recusarem-se a entrar nela ou fazer parte dela".

Pois é, meninos e meninas, como não acredito no patifão esfumaçado que vive nas nuvens e não quero fazer parte da Igreja Católica, por considerá-la instituição mentirosa, sexista, machista, misógina, LGBTT-fóbica, racista, genocida, intolerante e visceralmente corrupta, mesmo fazendo o que posso para ajudar as pessoas, não tem jeito, meu couro ateu está negociado, e a preço vil.  

O novo e radical sabor do iogurte grego

Copiei a imagem daqui

Copiei de Maringoni Gilberto

O POVO GREGO VIU MAIS SEGURANÇA NO RISCO

A vitória da esquerda na Grécia representa um formidável tento popular contra o terrorismo econômico vivido pelo pais há quase sete anos.
O crescimento do Syriza, a derrota da direita e o encolhimento surpreendente da esquerda moderada – o PASOK – pode expressar também uma situacão nova para a União Europeia.
O novo quadro evidencia que as ameaças da troika – FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia – não representam mais um fantasma para a populaçao grega.
O mergulho vertical da qualidade média de vida e a devastaçao social falam mais alto. Ou seja, diante de um caminho aparentemente seguro para se obter a tao propagada credibilidade internacional – um eterno ajuste fiscal -, o eleitorado preferiu o risco de uma política anti-austeridade.
A revista Economist publicou há poucas semanas uma matéria com indicadores econômicos e sociais da tragédia grega (aqui). Desde 2008, o PIB caiu mais de 25%! O desemprego alcanca 60% dos jovens e a dívida pública chega a 175% do PIB.
Mais do que números, estamos diante de uma catástrofe para milhões de pessoas.
A tarefa que uma administração encabeçada pelo Syriza não será fácil.
A primeira atitude dos centros da finança global será buscar dobrar o novo governo, que não assinou uma "Carta aos gregos". Ate aqui, o Syriza tem se mostrado firme e ousado. Tudo indica que seguirá assim.
Mas não bastam boas intenções.
A vitória da esquerda grega pode representar também – sublinhe-se varias vezes esse "pode" – o início de um novo ciclo na disputa global contra a ditadura dos mercados.
Para isso, será necessário construir uma ampla aliança internacional em apoio a um país pequeno e periférico. O isolamento seria fatal para a nova situação que se constrói ao sul da Europa.
A Grécia prova que as eleições podem ser ganhas com propostas claras de esquerda.
Em dias de vergonhosa capitulação daquilo que um dia foi a esperança de transformação social no Brasil, vale torcer para que a disputa grega acenda um facho de esperança para a esquerda socialista em todos os países.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Eles, os LGBTT-fóbicos, passarão; nós, passarinhos!

Copiei de Dirce Pereira da Silva

Olá a todas e a todos. Inicialmente gostaria de salientar que já sou mãe, digamos assim, por "três vezes": tenho uma filha com 60 anos de idade, meus netos (ele 33, ela 26) e um bisneto de 4 anos. Dá para perceber que não sou jovem: já são 80 anos de caminhada. Uma caminhada muito árdua, diga-se de passagem. Não sou homoafetiva mas, sempre que conheço alguém que fuja à condição sexual dominante, lembro-me um pouco de minha mãe. 
É uma pena que mamãe já tenha falecido em 1997: mesmo analfabeta ela adoraria ouvir a leitura de diversas postagens aqui. Ao contrário de mim, mamãe não era propriamente alguém simpatizante da causa gay ou de qualquer outra. Hoje percebo que minha mãe, sem saber, pregava a compaixão no sentido do budismo. Na nossa cultura compaixão significa ter dó, piedade, enfim, ver o outro como um coitado. No budismo não: ter compaixão é conhecer a dor do outro e dar a ele o seu ombro, para ajudá-lo a caminhar. E essa foi minha mãe a vida toda.
Eu tive experiências horrendas com o preconceito racial. Sou de um tempo muito anterior à lei do racismo e aturei desde violência verbal (como me chamarem de macaca) até agressão física (expulsar-me de um baile porque eu era negra e me jogar na sarjeta, ou cuspirem na minha cara).
O maior amigo que tive em minha vida era gay. Faleceu há alguns anos, vitimado por enfarte. Embora eu desconfiasse bastante, ainda na distante década de 1950 ele me contou sobre sua condição sexual. Aos poucos fomos percebendo as semelhanças existentes nas formas em que éramos excluídos da sociedade: eu fui recusada pelos pais de meu noivo em casamento (por ser negra e ele branco) e, por isso, adotei minha filha. Eu e meu ex-noivo tivemos idas e vindas, mas ao acertarmos nossa vida o câncer o matou.
Com meu amigo foi pior. Morávamos em uma cidade pequena do interior de São Paulo e ele me dizia que, por vezes, conhecia alguns homens no banheiro da rodoviária. Depois havia um lugar em que os gays da cidade se encontravam - até mesmo quis ir um dia, mas ele me disse que isso traria medo a todos. Vivíamos sob a ditadura militar.
Uma palavra que ele me dizia e marcou minha vida foi "migalhas". Ele dizia ter migalhas de amor, apenas isto. Conhecia alguém numa noite, tinha ou não relações sexuais e, no dia seguinte, ninguém se olhava no rosto. Havia homens e mulheres casados que, na verdade, eram gays. O único local seguro para falar sobre isto era minha casa, pois na dele os pais sequer tocavam em assuntos dessa natureza.
Minha mãe, depois de certo tempo, passou a se "intrometer" nas questões. Mamãe era uma mulher inteligente, apesar de pouco instruída: ela queria aprender. Cheguei a ficar surpresa quando ela, católica fervorosa que era, disse que ele ainda encontraria "um rapaz" a quem amar. Não, isso não foi no século XXI: foi na virada da década de 1960 para 1970. 
Lembro-me de quando nós dois fomos passar férias em São Paulo, capital, e nos dirigimos a uma boate gay. Na época passava a novela "Dancin' Days" e tanto as casas quanto o público buscavam imitar personagens da novela. Lá ele conheceu seu primeiro namorado, e eu mesma sugeri que ele se mudasse para São Paulo: lá haveria mais liberdade que no interior. Ficávamos na casa do meu ex-noivo que, por ser um homem muito culto e à frente de seu tempo, também apoiava meu amigo nessa questão. No entanto, a mãe do meu amigo ficou viúva e alegava estar doente todo o tempo. As idas a São Paulo tornaram-se cada vez mais raras.
Meu ex-noivo finalmente pôde se divorciar graças à aprovação da lei (antes era apenas "desquitado": não podia casar novamente) e seguiu ainda os protocolos da década de 1950: foi falar com meu pai, que o tratou muito mal. Só que dessa vez enfrentamos tudo - sobretudo a mãe dele, que era racista - porque já tínhamos mais de 50 anos de idade. Meu pai achava "absurdo" se casar nessa idade, mas desde quando há tempo para o amor? Só que ele morreu... e eu o amei até sua morte. Na verdade, ainda o amo, mesmo passados 62 anos do início de nosso noivado. 
Eu e meu amigo às vezes nos questionávamos: o que seria pior? Um amor correspondido e proibido de se viver (como o meu) ou nunca ter um amor, como era o caso dele? O preconceito existe, a homofobia atinge níveis que assustam e eu não sou tola ao ponto de desconsiderar nada disso. Só que há 40 anos sequer ouvíamos falar em namoros gays, embora alguns existissem. O mundo já conseguiu ser pior do que é hoje. 
Mais que por mim ou por meu falecido amigo adotei desde minha aposentadoria, dada aos 70 anos de idade, que minha bandeira seria a criminalização da homofobia (embora o termo nem existisse). O preconceito contra nós, afrodescendentes, continua a existir... mas graças à Lei ninguém fala! Bem ou mal, conseguimos formar já umas duas gerações sem ouvir os constantes insultos que eram dirigidos às pessoas negras.
Penso que criminalizar a homofobia tornará a sociedade melhor. Continuará a existir preconceito, mas ao menos ninguém poderá falar! As novas gerações talvez consigam ser mais generosas do que a minha foi. Considerando que estou provavelmente na geração mais velha ainda viva (nasci em 1934), eu me envergonho pelo que nós legamos e continuamos a legar ao mundo. Só que mesmo gerações mais novas, como a da minha filha, ou a dos meus netos, continuam com práticas sectárias dignas de minha juventude.
É hora de mudar. Sou mãe, avó e bisavó em luta pela igualdade. Nossa bandeira não tem limitações nem idade para ser hasteada. E se eu puder contribuir em algo com esta luta, acredito que uma parte muito considerável de minha vida não terá sido em vão. 
Acredito que aqui há muitas mães pela igualdade. Sintam-se meus filhos, caso queiram, embora eu me ache mais avó que mãe em meio a tantos rostos jovens. Que nossa luta e nossa voz sejam uma só coisa e reverbere no coração das pessoas.

Cartas de amor cristão para Richard Dawkins

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Levítico no dos outros é leite e mel. Agora, tente aplicá-lo a si mesmo e depois me conte

Copiei de Boca no Trombone

A Bíblia que condena os homossexuais ou Na cama com Levítico

Por Wilson Gomes

Levítico é um dos meus livros preferidos da Bíblia. Não exatamente por ser um tratado sobre a ternura entre os seres humanos ou sobre um Deus amoroso, que disso nele nem vestígio há. Gosto é da experiência etnográfica que esse livro proporciona, porque nele estão fixados e expostos, sem disfarces, filtros ou peias, as mentalidades, o sistema moral e legal de um povo antigo e do modo como conecta tudo isso com a sua experiência religiosa. O retrato não é bonito, longe disso, mas é muito interessante.

Em tempo: é Levítico o livro que provê a “autorização bíblica” mais recorrente para a homofobia evangélica. Os católicos não curtem muito esse livro, usado contra eles pelo proselitismo dos evangélicos populares há muitas décadas, principalmente por causa da proibição de imagens. Na verdade, é um livro judaico por excelência e as referências são exclusivas para “os israelitas”, mas os evangélicos adoram se sentir parte de passado nobre e remoto e entendem que, mediante algum hocus pocus cujo sentido me escapa, ganharam como herança o direito de se incluir entre os israelitas do Antigo Testamento. O livro é simplesmente o código sacerdotal e teocrático da comunidade política de Israel (parte do conjunto legal do Pentateuco) e refere-se a uma experiência histórica que terá acontecido lá por 1.200 a.C. (segundo uns) ou 1.400. Faz um tempinho, né?

Como Levítico é base do argumento “a Bíblia condena”, deixem-me dizer alguma coisa sobre esse livro, ainda que não dê para fazer isso de maneira muito breve. Vejam aí se vocês gostariam, como querem os evangélicos populares, que esse livro fosse a norma e o farol moral das suas vidas.

Um livro ameaçador e sem concessões

Primeiro, o livro é uma lista de interdições sociais e morais, atribuídas diretamente a Deus (ordem cósmica) e a Moisés (ordem política) – “Disse Deus a Moisés…” está para os israelitas como o “a Constituição diz” está para nós. Só que há mais ou menos 2.900 anos antes que a civilização cogitasse distinguir entre comunidade religiosa (o liame social estabelecido pela fé e pelos laços étnico-religiosos) e comunidade política (ou Estado, em que o cimento social é dado pela lei). E numa fase em que leis sobre pureza e impureza se misturam com regras de higiene e normas sobre agricultura, tudo junto, misturado e coordenado pela autoridade dos sacerdotes (levitas). É como se hoje prescrições religiosas fossem ao mesmo tempo Código Penal, políticas públicas e material ideológico para formar a ideia de povo. Puxado. Em Levítico, violações leves das regras, todas descritas em detalhes, podem ser purificadas com rituais (em geral, sacrifícios de animais e de produtos agrícolas), e as graves são resolvidas com penas de morte mesmo, que 3.400 anos atrás não estavam para brincadeira.

Segundo, é um livro duríssimo, ameaçador, sem concessões. O “Deus” que empresta voz às prescrições é, por consequência, um sujeito assustador, ciumento pra caramba (“te salvei do Egito, você é meu, mas vou te botar na linha” é o mote) e ameaçador. Não tem a menor noção de direitos humanos e misericórdia. Terceiro, não tem hierarquia nas regras, não, vem tudo misturado – pecou, perdeu! Quarto, 98% das regras se aplicam a homens. É um mundo masculino. Peca-se com mulheres, mas mulheres não pecam. Fora a obsessão com menstruação, quase não se menciona punição a mulheres.

É bom lembrar que esse Levítico que abomina “homens que se deitam com homens como se fossem mulheres”, admite a escravidão numa boa, viu? Só avisa que um israelita não pode escravizar outro. De resto, está liberado. Lv 25, 44-46: “Vossos escravos, homens ou mulheres, tomá-los-eis dentre as nações que vos cercam; delas comprareis os vossos escravos, homens ou mulheres. Podereis também comprá-los dentre os filhos dos estrangeiros que habitam no meio de vós, das suas famílias que moram convosco dentre os filhos que eles tiverem gerado em vossa terra: e serão vossa propriedade. Deixá-los-eis por herança a vossos filhos depois de vós, para que os possuam plenamente como escravos perpétuos. Mas, quanto a vossos irmãos, os israelitas, não dominareis com rigor uns sobre os outros”. Não é certamente uma boa premissa para um livro considerado tão santo e tão verdadeiro que dele não pode se desviar uma vírgula quando se trata de condenar os homossexuais. Então, não se enganem, meus amigos, o mesmo Levítico hoje usado para a “condenação bíblica” dos homossexuais foi secularmente usado para a “autorização bíblica” à escravidão dos não cristãos.

O santo livro também se ocupa imensamente de purezas e impurezas morais, religiosas e físicas (não há qualquer distinção entre os níveis). Lv 11 estabelece os animais que podem ou não ser comidos. Não podem ser comidos coelhos, lebres, porcos, peixes sem escama, assim como avestruz, cisne, cegonha, garça, morcegos (viu, Ozzy?), toupeira, rã e camaleão. Réptil de nenhuma espécie, “uma coisa abominável” (Lv 11,41). Banha de porco e toucinho, mesmo de gado, torna você impuro também (Lv 7, 22-23). Sarapatel, chouriço, molho pardo ou qualquer coisa que leve sangue são, literalmente, pecado (Lv 7,26; 17,11). Aposto que Feliciano e Marisa Lobo nunca tocaram num torresminho ou costeleta. Porque basta encostar em um desses animais proibidos, vivos ou mortos, no todo ou em parte, e você fica automaticamente impuro. Para ficar puro de novo só sacrificando algum bicho ritualmente. Se uma linguicinha que seja cair no fogão, tem que destruir o fogão (Lv 11,35).

Sabe o que mais é impureza total segundo o livro santo e verdadeiro? Mulheres que deram à luz. Sim, senhoras. Mas o nível de impureza varia, viu. Se o bebê for homem, a mulher fica impura por sete dias; se for uma menininha, por duas semanas (Lv 12, 2, 4-6). Entenderam a sutileza da dosimetria? E só passado o tempo em que é “imunda” (sorry, it’s the Bible!) é que poderia matar algum bicho “em sacrifício pelo pecado”. Pecado, sim, senhora, tá pensando o quê? E sabe quando mais as mulheres são impuras? Acertou quem pensou “todo mês”. Menstruou, pecou (Lv 15,19) – impura por sete dias, viu? Se alguém tocar nela (não é transar, não, é só encostar a mão mesmo) naqueles dias, fica impuro até o fim do dia; se uma mulher menstruada sentar em algum lugar, o lugar fica impuro (Lv 15,24). Se algum parceiro na secura transar com ela nesse período, pega sete dias de gancho de impureza também, que é para aprender a não mexer com impuras.

A parte sobre homossexualidade vem no meu capítulo favorito, Lv 18, que é todo para garantir que os israelitas não copiem os costumes dos egípcios, de onde fugiram, nem dos cananeus, cujas terras eles invadiram, numa boa, “porque Deus mandou”. Por isso, a lista é aleatória, acho que alguém foi vendo do que não gostava nos costumes dos outros povos e saiu proibindo tudo.

O versículo 20 diz que os homens não devem ter relações sexuais com a mulher dos outros. Notem, contudo, que no século 14 a.C. não há norma sobre o comportamento sexual das mulheres, exceto uma regra que proíbe que copulem com bichos. Além disso, como veremos adiante, um homem transar com uma escrava é, digamos assim, uma contravenção, e não um crime. Parece, portanto, que o problema consiste no fato de a mulher ser “dos outros”.

Moloc e os moleques

Prestem atenção agora a três versículos seguidos de Lv 18. Lv 18,21 diz: “Não darás nenhum dos teus filhos para ser sacrificado a Moloc”. Ok, eu gosto dos meus filhos e não conheço nenhum Moloc, então, nada de sacrificar um deles. Sim, meus pagãos, Moloc deve ter sido um deus, e nesta época a Bíblia admitia haver outros deuses, o que distinguia o dos israelitas é que era exclusivo daquele povo. O único requerimento do deus particular do antigo povo de Israel era que, já que ele foi legal e os retirou do Egito, fosse considerado o maior de todos (Ex 20, 3: “Não terás outros deuses diante de mim”). Lv 18,22 salta bruscamente da competição com Moloc para “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é uma abominação”. Estão no mesmo nível: nada de degolar o meu moleque para agradar a Moloc e nada de ser passivo numa transa gay – a pena, inclusive, é a mesma. Com a mesma incompreensível coerência, Lv 18,23 proíbe que homens transem com animais. E, pela primeira vez, acha que é melhor estender a interdição também às mulheres. A galera por lá devia andar a perigo, não é? “Uma mulher não se prostituirá a um animal: isso é uma abominação.”


Levitico01 

Aliás, há apenas quatro pecados “só para mulheres” em Levítico: parir, menstruar, transar com animais e fazer adivinhações. Faz sentido para vocês, meninas? As lésbicas, entretanto, tiveram algum lucro, já que não há qualquer interdição que mulheres se deitem com mulheres. Que tempos! Adoro as listas supercoerentes de Levítico: parir no mesmo nível que copular, sacrificar o filho é praticamente o mesmo que sexo entre homens.
O Antigo Testamento hebraico não tem uma palavra para “homossexualidade” ou “homossexualismo” – a preocupação é com o comportamento. Não se pode transar com parentes, não se pode transar com bicho (nem as mulheres podem, está confirmado), não se pode transar com a mulher de outro homem e não se pode transar com outro homem “como se fosse mulher” (em Canaã a preocupação era só com o sexo homossexual passivo, viu meninos?).

Depois de cuidar do sexo, no capítulo 18, Levítico dá regras sobre agricultura (não se pode misturar dois cereais diferentes no mesmo campo) e dispara mais um monte de mandamentos no capítulo 19, dentre os quais dois dos meus prediletos: a proibição de xingar surdos (v. 14) e a de dar rasteira em cegos. Isso me parece aquelas proibições que se leem por aí em locais públicos, como a de urinar no chão do banheiro ou de cuspir no metrô. Como ninguém proíbe o que as pessoas naturalmente não fariam, derrubar ceguinhos e dizer palavrões a surdos devem ter sido duas das diversões locais no século 14 a.C. O meu terceiro mandamento predileto está em Lv 19,27: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem rapareis a barba pelos lados”. Se eu fosse Moisés, completaria com um mandamento só para mulheres “Não abusareis do animal print nem vos enfeitareis com mais de cinco acessórios dourados ao mesmo tempo”. Cada um com seu gosto: Moisés curtia um barbão, eu não curto peles de répteis.


Acho particularmente interessante o Lv 19,20, especificamente sobre sexo com escravas. Notem que se o cara for para a cama com a mulher de alguém, tem que morrer, ele e a mulher. Pois bem, “se um homem se deitar com uma mulher escrava desposada com outro, mas não resgatada nem posta em liberdade, serão ambos castigados, mas não morrerão, porque ela não era livre”. Basta oferecer um carneiro como “sacrifício de reparação” e está liberado. Alegrem-se, meninos: é só controlar quantos carneiros ainda se tem no pasto e se jogar na fornicação; só não se pode fazer com a mulher que pertence a outro homem. É a origem do “lavou [com sangue de cordeiro], tá novo”.


Na lista do proibidão ainda tem: usar roupas tecidas com duas espécies de fio, comer os frutos das três primeiras colheitas da sua roça (a agroindústria deve praticar muito isso em Israel hoje) e fazer tatuagens com figuras (“Wilsão, amor para sempre” está superliberado).


No capítulo 20, o santo livro que os homofobíblias querem que substitua o nosso Código Penal trata das penas pela violação das interdições. Sacrificar filhos a Moloc (acho um nome digno para um deus), amaldiçoar pai e mãe, fazer adivinhações, transar com mulher casada, madrasta, nora, ou outro homem “como se fosse mulher” (v. 13), com sua mãe ou sua filha, ou com bicho, tudo isso se paga com a morte. Incesto, adultério masculino, sexo homossexual masculino, práticas divinatórias, zoofilia e amaldiçoar os pais estão todos no nível máximo da transgressão. E há penas de excomunhão, como no caso de se transar com uma mulher menstruada, comer sangue de animais (Lv 17), fazer sacrifícios fora do templo. No capítulo 21 tem uma dessas penas adoráveis da lei mosaica (Lv 21, 9): se a filha de um sacerdote tiver relação sexual sem ser casada “será queimada no fogo”. Nice and sweet! Em Lv 24, 17-20 se apresenta, enfim, toda a doçura da Lei do Talião, a que manda cobrar olho por olho e dente por dente. Tão levítico!


Excomunhão e pena de morte são para os indivíduos, mas se essas doces leis não forem aplicadas, o deus de Levítico manda dizer que vai detonar geral. E o diz sem palavras suaves nem misericordiosas no final do livro (Lv 27): mandará doenças, soltará feras “que devorarão vossos filhos” (v. 22) e animais de criação, lançará a peste, entregará o povo aos seus inimigos, destruirá as cidades e, por fim, “comereis a carne dos vossos filhos e filhas” (v. 29). Canibalismo total no horizonte.


Não se pode fazer uma moral seletiva

Eis o espírito da “Bíblia que condena os homossexuais”. Quando alguém me diz que organiza todo o seu julgamento moral sobre a homossexualidade a partir de Levítico eu só consigo pensar que ele nunca leu ou entendeu Levítico ou não tem a menor ideia do que seria organizar sua vida e a experiência social por esse livro. Ao pé da letra, Levítico é arcaico, anacrônico, cruel. Muito cruel. Como alguém pode sequer imaginar que uma sociedade de 3.400 anos atrás poderia prover a norma moral e legal para sociedades democráticas do século 21 é algo que me escapa ao entendimento. E como se pode sequer suspeitar que um livro escrito por sacerdotes e para justificar o domínio social dos sacerdotes (claramente, o livro é feito para colocar a tribo de Aarão no topo do poder político) possa ser base moral, intelectual e legal para sociedades laicas, baseadas no conhecimento científico, na tolerância moral, no Estado de Direito, na ideia de direitos humanos e no princípio da igualdade entre todas as pessoas?

E, se alguém diz que o livro deve ser seguido ipsis litteris porque é fruto da revelação de Deus, eu só consigo pensar que essa pessoa não tem a menor ideia do que possa teologicamente significar “revelação”. Uma pessoa dessas só pode ter uma concepção infantil da fé, segundo a qual um deus que tem semelhança aos homens teria ditado, palavra a palavra, e já em sua forma final, cada letra dos livros sagrados do judeo-cristianismo. Uma compreensão dessas está para a teologia como a crença em dragões e unicórnios está para o universo científico.

De qualquer modo, o teste definitivo a que devem ser submetidos os que querem fazer de Levítico a régua e o compasso para a sua decisão moral (e a dos outros) é exigir-lhes coerência. Primeiro, não se pode fazer uma moral seletiva: não há razão aceitável para dizer que vale a regra da “abominação homossexual” e não a outra centena de regras que abominam milhares de comportamentos humanos, práticas, pessoas e coisas, inclusive os tabus alimentares. Segundo, não se pode ficar só com as proibições, então temos que assumir todo o quadro moral: passaremos os dias fazendo sacrifícios rituais pelos nossos pecados matando ovelhas e cordeiros nos altares das cidades? Faremos excursões aos povos vizinhos para adquirir escravos e escravas (sexo à vista!) que passaremos aos nossos filhos como propriedade? Toda a tarde reuniremos os adúlteros da cidade para um ritual coletivo de apedrejamento básico? Alguns dias por mês não faremos um carinho sequer nas nossas filhas e não tocaremos sequer as roupas das nossas mulheres para evitar que fiquemos impuros com a sua imundície moral? Proibiremos o abate de porcos e o uso de gordura animal de qualquer espécie? Uma vez ou outra, tocaremos fogo em alguma mulher para honrar a Lei do Senhor?

Porque é lícito exigir que se alguém escolhe Levítico como regra moral para decidir o que é certo e errado para os outros, tem que assumi-lo por inteiro para si e viver segundo as suas normas. Mas, não: principalmente essas pessoas, em geral, não aceitam examinar racionalmente a norma moral que eles depreendem desse livro. Não seriam anacrônicas e excessivamente relacionadas a mentalidades que, depois, foram superadas? Será que o propósito do livro, na verdade, não era garantir a fecundidade, e não há razão hoje para mantermos a norma X, uma vez que a norma Y e Z claramente não podem ser aplicadas? Essas perguntas, que caberiam num universo moral conduzido pela razão, são, em geral, recusadas dogmaticamente. Então, só resta a solução contrária: quem crê na norma X de Levítico tem que viver todo Levítico. Aí, eu quero ver. Levítico no dos outros é leite e mel, agora tente aplicá-lo a si e depois me conte.

Na verdade, gente que diz “sigo a Bíblia”, antes de cuspir uma condenação à orientação homossexual, faz mais mal à religião do que aos homossexuais. Afinal, se leitores e seguidores da Bíblia não forem moralmente superiores aos do Mein Kampf, mais vale que leiam o livro de Hitler, já que é mais curto. Se os filhos da luz forem mais preconceituosos e malvados e tiverem o coração mais impermeável (que é a definição de “impiedade”) do que os filhos das trevas, melhor seria sair com os segundos, sabidamente mais espertos e mais divertidos. Da minha parte, nunca consegui identificar um único artigo da fé cristã violado pela admissão da homossexualidade como parte da natureza humana. Na verdade, a homofobia de base religiosa parece-me menos um ato de fé do que uma via reta para a impiedade.

Wilson Gomes é professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.

Ilustrador convidado: Mário César.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Leblon, sábado, calor do cão, porta do Bracarense

Copiei do DCM
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Gilberto Maringoni

– Ei, Joca!

– Caralho, Armínio!

– O Edmar ta vindo aí. Que surpresa! Achei que você tava direto em Brasília…

– Pois é. Fiquei de novembro até agora. Como o pontapé inicial tá dado, vim pegar um sol de fim de semana.

– Foi no estádio?

– Não O Fogão vai me dar uma dor de cabeça que eu não preciso agora.

– Mas me conta, como anda a coisa lá? A mulher pega muito no pé?

– Nada…

– Ei, ó o Edmar chegando. Vem com o Ilan.

– Pô, Ilan, tu perdeu peso, mas não a barriga, hein?

– Mas tu aluga, hein, Joca?…

– Gente, peraí. O Joca ta me contando aqui como anda a coisa por lá. Diz aí, Joca, tu já entrou pro PT?

– Deus me livre, Mínio, Deus me livre. Além de tudo, não carece…

– Mas como tá lá?

– Tá ótimo. Nem uma contrariedade, nem nada. Cheguei, falei pra presidente…

– Tu não chama ela de presidentA?

– Fala sério! Pra mim é presidente e acabou.

– E ela não chia?

– Sei lá, pra mim, não…

– Mas vai, conta.

– Então, cheguei lá, no primeiro dia e ela me chamou. Tava ela e aquele gaúcho…

– O Miguel?

– Isso, o Miguel e o Aloísio. Aí eu falei, sabe, presidente, a senhora me chamou, mas eu tenho uma linha. E aí ela me cortou…

– Eu sabia. Ela corta, berra, xinga…

– Tá maluco? Nada disso. Ela me cortou pra dizer assim. Seu Joaquim. Ela me chama de seu Joaquim. Seu Joaquim, nós chamamos o senhor…

– Senhor? Ela te chama de senhor?

– Tudo na moral, no maior respeito. Seu Joaquim, nós chamamos o senhor porque sabemos qual sua orientação e damos carta branca. A coisa tá feia, o mercado ta arisco, o investimento caiu e nós não podemos brincar em serviço. O senhor indique quem tem de indicar, faça o que tem de ser feito e nós vamos conversando aí…

– Como é que é?

– É, cara. Senti que os caras tão no mato sem cachorro e querem que eu resolva.

– Sei. O Mr. Wolf, do Pulp Fiction. “I solve problems”.

– Pensei isso na hora. Fazem a merda, lambuzam tudo e aí chamam Mr. Wolf. Quase falei “I solve problems”…

– Mas o Aloísio, todo metido a desenvolvimentista, todo Unicamp, todo, todo, não chiou?

– Edmar, deixa eu te falar. Esse é o que menos chia. Ninguém ali chia. Eles estão apavorados com o mercado, com a balança comercial, com a queda dascommodities, com a China, com a transmissão disso no emprego, com o teto da meta e o caralho. Tão com o cu na mão, se me entende. Fizeram uma campanha tosca, sabem que mentiram pra cacete e tão se borrando todos. Topam qualquer coisa!

– Topam tudo?

– Acho que menos beijar na boca! Se o Aécio tivesse levado, Mínio, aí você ia ver o que é bom pra tosse. O Serra – que ta meio gagá – ganhou força com a eleição. Ia fazer aquela demagogia de política industrial, investimento etc. Aqui não tem disso. Querem resolver problemas.

– Mas e aquele abaixo assinado, o Belluzzo, a Conceição, a Unicamp?

– Fala pra mim, Ilan: quem no governo quer saber deles? Quantos votos têm?

– E o esporro que ela deu no Nelson?

– Mas o Nelson é meio PT, ela não respeita muito o Nelson. Ele cagou com aquele negócio do salário mínimo e teve o troco. Eu não entro nessa. De mais a mais, resolvi testar.

– Testar?

– É, testar.

– Peraí, antes de você contar, vamos pedir alguma coisa? Caipirinha de vodka pra todo mundo? E aquele bolinho de carne seca invencível?

– Pede lá. Então, logo que fui nomeado, quis fazer um teste. E fui pesado. Falei pra presidente – coisa que o Nelson não fez – , olha, vamos fazer um superávit baixo, mas não podemos sangrar o empresariado, se não, não dá nem para começar o trabalho.

– Você é um filho da puta, hahahahaha!

– Calma, Edmar. Isso é só o intróito… Falei, vamos ter de mudar algumas coisas aí no seguro-desemprego, nas pensões e tal. E ela pulou.

– Pulou, como?

– Ficou puta da vida, disse que tinha falado na campanha que não mexeria e tal, aquela história da vaca tussa e o cacete. E aí veio o Aloísio e serenou os ânimos.

– Esse topa tudo!

– Topa, Mínio, topa. Eu entrei com um argumento baixo – números -, mas é o que ela gosta. Olha lá, clima tenso, ela chiando, o Aloísio tentando acalmá-la. E eu soltei a bomba: vamos economizar R$ 18 bilhões só nisso, presidente. E não vamos mexer com quem está na ativa, com quem tem poder de mobilização. Vai ter uma semana de chiadeira e acaba.

– Eu falo, tu é um filho da puta! Rárárárá!! E ela topou?

– Na hora, Edmar! Esse foi o teste. Se o PT que é o PT topa mexer com os assalariados, o resto sai na urina. Abrir o capital da Caixa, arredondar para menos o reajuste do mínimo – que ninguém nota, pois são dois reais, mas dá um puta efeito -, aumentar os juros da casa própria… Tudo vem na banguela, na descida…

– Tu tem carta branca, então?

– Mais do que você teria, Mínio. E depois que o Rui, na reunião do diretório lá deles falou que minha nomeação era assunto encerrado, acabou!

– E você ainda veio com aquela de “patrimonialismo”… Rááráráráárárárá!!!

– Pois é… Coloquei na última hora no discurso. E isso fodeu com o Guido, que engoliu seco. Ele e o PT, o Lula e o escambau. Mas eles adoram. Adoram tudo o que faço. E ela fez comigo uma coisa que não faz nem com o PMDB: me deu o ministério de porteira fechada. Vou nomear todos vocês!

– Não fode, Joca.

– E agora?

– Agora é isso, já avisei, Ilan. Dois anos de ajuste pesado, vai ter solavanco, vai ter porrada, a base pode chiar um pouco, a CUT vai gritar, mas a vida é assim. Eu falo de novo: eles estão fodidos, cagados, com o cu na mão. E não tem meio ajuste. É até o talo. Vamos abrir mais empresas, vender o que dá para ser vendido, mexer na CLT, aprovar a terceirização e deixar o pessoal gritar. Sangue frio eu tenho, vocês sabem. E eles não têm culhão para ir pra cima do empresariado, dos bancos…

– E ela?

– Ela fez a escolha dela. E agora não tem volta atrás.

– Putz, você é mesmo um filho da puta, Joca, um grande filho da puta. E sabe que com o Aécio, eu teria mais dificuldade, até pela oposição do PT…

– Pois é, Mínio. Anulamos quem poderia se opor.

– Agora, vem cá… E essas alas do PT. E a esquerda?

– No PT não tem mais nada. Só tenho receio de um cara de esquerda, que de vez em quando, ainda conversa com a presidente… E pode criar confusão…

– Quem? O chefe lá do MST? O garoto do Sem Teto? Os malucos do PSOL e do PSTU?

– Cê ta na lua, mesmo, né, Ilan? Nada disso. Esses tão fora!

– O Lula?

– Puta que o pariu! Vocês não lêem nem jornal. Ficam nessa história de mercado, mercado e não sabem o que acontece no mundo.

– Então quem, porra?

– O Delfim, o cara mais à esquerda que ela ainda ouve…

(Estupor geral)

– O Delfim.

(Gargalhadas estrepitosas, enquanto chegam as caipirinhas e os bolinhos)


Sobre o Autor: Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC e candidato do PSOL ao governo de São Paulo, em 2014

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O “odiojornalismo” não pode ser patrocinado pelo dinheiro público

Copiei a imagem daqui
Veja, exemplo acabado de esgoto midiático 
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Copiei de DCM

Está confirmado: o governo de Dilma não vai mais anunciar na Veja.

Paulo Henrique Amorim deu primeiro essa informação.

É uma decisão ao mesmo tempo tardia e acertada.

É absurdo você colocar dinheiro público – e quanto, e há quanto tempo – numa publicação nociva à sociedade.

A melhor definição para o que a Veja faz veio de uma acadêmica da UFRJ, Ivana Bentes: “ódiojornalismo”.

O ódio que a revista semeia com tanta obsessão se refletiu, recentemente, em coisas como as manifestações criminosas, nas redes sociais, contra os nordestinos.

Diogo Mainardi, o primeiro “ódioarticulista” da Veja, há poucos dias chamou os nordestinos de “bovinos” num programa de televisão que vai se tornando igual à revista, o Manhattan Connection.

O blogueiro da Veja Augusto Nunes, o gênio cosmopolita de Taquaritinga, acha que está sendo engraçado ao tratar Lula como o “presidente retirante” e Evo Morales como “índio de topete”.

Em 2006, ainda militando na mídia impressa, escrevi um texto que dizia que Mainardi “mainardizara” a Veja. Sua má fé, sua falta de princípios jornalísticos – tudo isso saiu de sua coluna e se espalhou pela revista, notei então.

Agora, passados alguns anos, é possível dizer que a Veja “mainardizou” toda a grande mídia. Mainardis e derivados infestam jornais, revistas, rádios, tevê.

O “ódiojornalismo” não pode, naturalmente, ser patrocinado pelo dinheiro público.

O anunciante privado que quiser prestigiar este tipo de pseudojornalismo tem inteira liberdade para fazer isso.

Mas o dinheiro público não pode ser torrado numa coisa tão predadora.

É patética a dependência do “ódiojornalismo” do Estado. Patética porque essa dependência é a negação do espírito capitalista, tão defendido pelas grandes empresas de jornalismo.

Empresas genuinamente capitalistas não se alimentam do Estado. Isto é um fato.

Se houver mercado para o “ódiojornalismo” – mercado, não dinheiro público – que ele financie “jornalistas” como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Rodrigo Constantino, Pondé, Merval, Noblat etc.

O dinheiro público é sagrado. Deve ser usado para construir escolas, hospitais, portos e todas aquelas coisas que compõem uma sociedade digna.

Anunciantes e investidores privados podem e devem patrocinar o “ódiojornalismo”, se entenderem que isso é bom para o país.

É um direito deles. Assim como será um direito dos consumidores eventualmente retaliar, se considerarem que certas marcas estão bancando causas ruins.

Mas esta é outra história.

Parar de queimar dinheiro público na Veja foi um passo importante – ainda que, repito, tardio, dado o comportamento criminoso da revista.

Mas é preciso mais.

O “ódiojornalismo” não se limita à Veja. Onde ele estiver, os recursos dos contribuintes não podem estar.

Silvio Santos tratou de manter calada Sheherazade, outra “ódiojornalista” bancada por tanto tempo pelo dinheiro público.

Ele sabe que quebra se o governo cortar a verba do SBT – 150 milhões de reais por ano.

Caso decida dar voz novamente a ela, Silvio Santos que vá procurar outros anunciantes que compensem um eventual corte da publicidade do governo.

Seja capitalista, em suma, se puder e se souber.

É disto que o Brasil precisa: um choque de capitalismo na mídia.

É hora de passar a um estágio superior de mídia no capitalismo nacional — sem a “Estadodependência” de empresas tão dedicadas ao “ódiojornalismo”.

Eu, bem no fundão, fazendo trepidante solo de bongo!

Copiei a imagem daqui
Robert Plant é lindão, né mesmo?

Mas German é muito mais lindão, né não?

German vive comigo desde que nasceu. Sou avô e pai, não sei bem em que proporção, e considero-me um velhote de muita sorte por ter a criaturinha em minha vida, todos os dias desde 2004. 

Estou hoje a ler breve biografia de Robert Plant (vocalista do Led Zeppelin) e, num outro canto, o piazote cantava Hey Jude e Come Together, músicas que estão entre as minhas preferidas, e que ele aprendeu a gostar comigo, junto com tudo dos Beatles.


Ele canta muito, acreditem, e isso não é conversa de avô babão. Gosto quando ele solta a voz e perde o tom, respira, recomeça e vai atrás da nota certa. 


Sonia Nascimento, a Vó Duda, canta muito bem e Nayre Martins, a mãe, sempre me emociona quando canta tão completamente linda.


Além do mais o piá é muito do lindão, convenhamos, de modo que estou disposto a financiar uma banda pra ele, quando tiver uns 15 anos. Pagarei todos os equipamentos, mas haverá uma condição: serei o tocador de bongo, que ficará lá no fundo do palco, até porque não sei tocar a porra do bongo.


A banda de German, lindão como o Robert Plant, faz o show e as fãs ensandecidas atacam os jovens integrantes da banda, mas eles serão apenas um baixista, um guitarrista, um baterista e German, o vocalista.


Um roadie, que pagarei regiamente, dirá, assim como quem não quer nada: "Mocinhas, os meninos lindões da banda estão já ocupados, mas o velhote do bongo está disponível".


Sonia Nascimento, cruelmente, assim se pronunciou em face deste meu projeto: "Vai sonhando. Sonhar não custa nada".


Eis Nayre, a mãe do German, cantando À moda da cidade.






terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Chamem o ladrão!

Copiei a espantosa imagem daqui
 

A imagem é pornográfica. 

Num desses típicos programas policialescos - na TV do Ratinho, onde mais seria? - o Secretário De Segurança Pública do Paraná quebrado do lamentável Beto Richa, exibe-se ostensivamente armado.

Que mensagem este brucutu está a passar para seus subordinados das polícias civil e militar, instituições intrinsecamente violentas?

Meus receios instintivos aumentaram e redobrarei meus cuidados em relação a policiais.

Você, classe mérdia que adora o acanalhado discurso "bandido bom é bandido morto", esteja desde já avisado: vai dar merda.

Mas muita merda.   

Máfia de Branco e excesso de cesáreas no Brasil

Copiei do Limpinho & Cheiroso

Médicos brasileiros estão revoltados com estímulo ao parto normal?

“Se fosse minha filha, eu faria cesárea.”

Cauê Madeira, via Post Brasil

Mais essa agora! Acabo de desligar o telefone após longa conversa com um amigo meu, médico-obstetra. Ele está revoltado com os desmandos desse governo. Pois agora, depois da absurda medida que trouxe médicos estrangeiros para nossa pátria amada Brasil, querem acabar de vez com seu ganha-pão: criaram novas normas para estimular o parto normal. Como primeira atitude, os planos de saúde poderão deixar de pagar por cirurgias cesarianas desnecessárias.

Desnecessário, para o governo, é todo parto cirúrgico agendado. Caramba, e como fica meu amigo? E o obstetra que fez o parto de minha primeira filha? Coitados, eles também são gente.

Qual é a medida agora? Respeitar as regras do corpo da mulher? Esperar um trabalho de parto por horas e horas? Como fica a vida social de meu amigo? Não dá, isso vai prejudicar a atribulada agenda dele, com dez a quinze partos agendados por semana, tudo bonitinho. Essa história é muito caótica, ele tem contas a pagar, afinal de contas. E se um bebê resolve nascer no meio de suas férias no Caribe, como é que fica?

Meu amigo está muito ofendido, pois Arthur Chioro, o ministro da Saúde, chamou de epidemia a quantidade de cesáreas que vêm ocorrendo no país. Só porque 84,5% dos partos na rede privada são cirúrgicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda no máximo 15%, mas quem confia nela, não é mesmo? É a mesma organização que diz que o ideal é que se amamente até os dois anos de idade, mas alguns médicos não se fazem de rogados em mandar tascar o leite em pó no bebê aos quatro meses, não é isso? Ah, não dá pra confiar, prefiro continuar ouvindo o médico de minha família, o mesmo que mandou ela tomar suco de laranja aos três meses para já se acostumar.

Minha filha, por exemplo, nasceu de 36 semanas, em um parto cirúrgico agendado. Pela idade gestacional ela poderia ser considerada quase prematura. Ao ser arrancada da barriga da minha mulher ela não chorou. Talvez quisesse dormir mais um pouquinho. Mas não tem problema, meu amigo explicou que Deus ajuda quem cedo madruga.

Quem quer uma filha preguiçosa?

Claro, ela teve uns probleminhas respiratórios por causa disso, precisou ficar 14 horas longe dos pais. Infelizmente isso impossibilitou que pudéssemos pegá-la no colo no momento do nascimento. Ela ficou no oxigênio o tempo todo e minha esposa, impossibilitada de se levantar por conta da cirurgia, só pôde vê-la no dia seguinte, enquanto todos os parentes já tinham visitado o berçário e conhecido nossa filha.

Mas como meu amigo disse, ossos do ofício… “Ela tá bem hoje, não tá?”. É verdade. Ela está. Mas ouvi dizer que parto cesariana triplica o risco de morte materna e aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido (como minha filha teve). “Isso é coisa de esquerdista, intriga dos opositores”, bradou meu amigo.

Para ele, o parto cesárea agendado é melhor pra todo mundo.

É melhor para ele, que consegue deixar a agenda organizadinha, bem como a conta bancária. É melhor para os parentes, que conseguem se preparar para vir em caravana visitar o bebê. É melhor para a família, que consegue montar o enxoval em Miami sem dor de cabeça. Só não é muito bom para o bebê. Nem para a mulher. Como minha esposa, que teve uma leve hemorragia na hora da cirurgia, e que por isso me deixaram na sala de espera, sem poder vê-la, em cerca de 90% do procedimento. Quando cheguei à sala de parto minha filha já estava nascendo.

Basicamente, não acompanhei nada. Nem ela, que estava passando mal e não podia virar de lado para se livrar das náuseas.

O parto normal é muito bom, mas é quase impossível de atingir as condições ideais. O bebê pode estar sentado, o cordão umbilical pode estar enrolado no pescoço dele, a mãe pode desenvolver a bactéria streptococcus. Aí não tem jeito, tem de ser cesárea, disse meu amigo.

Estranhei um pouco, pois já tinha lido que nenhuma dessas situações tornava obrigatório um procedimento cirúrgico. E mais, expliquei a ele que 70% das mães em início de gestação têm preferência pelo parto normal, mas que acabavam em uma cesárea no fim das contas, provavelmente convencidas “amigavelmente” por alguém. Talvez pelo médico? Meu amigo ficou nervoso com essa suposição.

Pedi para colocar a mão na consciência. Veja bem, meu amigo, procure entender.

Expliquei para ele a situação da minha família. Nosso obstetra, por exemplo, falou que o parto normal era uma maravilha mesmo, e que ele sabia como conduzir um. Mas, conforme a gestação avançou, foram surgindo vários pequenos motivos para que não ocorresse. E nós, pais de primeira viagem, sem muita orientação, acreditamos. Aliás, ficamos com medo. Pois o ponto não é dar uma escolha: é amedrontar mesmo. É fazer parecer que a escolha é nossa. Ou, como ele mesmo disse, “se fosse minha filha, eu faria cesárea”. Aí não tem como fazer diferente, né?

Claro, depois descobrimos que era tudo balela. Que todos os partos que ele fez e faz são cesáreas, assim como os de meu amigo obstetra. Nisso ele murchou um pouquinho. Por fim, revelou: eu não sei mais como se conduz um parto normal. Esqueci. Mas é que cesárea realmente é melhor, me disseram na faculdade.

Não tenho dúvidas, meu amigo.