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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Igreja Católica encobre os crimes sexuais cometidos por padres contra mulheres

O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco saúda os bonifrates de diferentes extrações e origens presentes nesta grandiosa quermesse em louvor de Nossa Senhora da Cúpula Apatifada da Igreja Católica e, com o acato e o respeito devidos, proclama em alto e bom som que a pesquisa não foi feita por um ateu a serviço do comunismo internacional, mas por uma católica praticante, professora de Teologia.
Sinto muito, papa hóstias, sinto muito mas esta é, sem tirar nem por, a santa madre hipócrita, genocida, mentirosa, machista, sexista, LGBTT-fóbica e corrupta igreja católica.
Sinto muito, eu repito. Virem-se!

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Copiei da Revista Época

O pecado do silêncio

Socióloga lança pesquisa que mostra como a Igreja Católica encobre os crimes sexuais cometidos por padres contra mulheres

ELIANE BRUM

A socióloga da religião Regina Soares Jurkewicz é católica. Mas do tipo que provoca calafrios na ala conservadora. Ela passou os últimos dois anos e meio dedicando-se a investigar as estratégias usadas pela cúpula da Igreja para silenciar vítimas, proteger agressores e encobrir crimes sexuais cometidos por sacerdotes. A pesquisa, financiada pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), é parte de sua tese de doutorado em Ciências da Religião desenvolvida na PUC de São Paulo. Ao se debruçar sobre 21 casos denunciados pela imprensa e esmiuçar dois deles em profundidade, Regina concluiu que a Igreja Católica no Brasil se coloca acima das leis do Estado ao tentar - e em geral conseguir - manter os casos de violência sexual dentro de suas sólidas paredes.

A pesquisa será lançada em evento na noite do dia 28, em São Paulo, no Espaço de Cidadania André Franco Montoro, no Pátio do Colégio, pela organização não-governamental Católicas pelo Direito de Decidir, com o título Desvelando a Política do Silêncio: o Abuso Sexual de Mulheres por Padres no Brasil. No debate, estarão três feministas e pelo menos um padre, Ronaldo Zacharias, diretor do Campus Pio XI do Centro Universitário Salesiano de São Paulo. A socióloga recebeu ÉPOCA com exclusividade para a seguinte entrevista.

ÉPOCA - A senhora escolheu investigar a violência sexual de padres contra mulheres em vez concentrar a pesquisa na pedofilia, que é o tema mais em evidência. Acha mais difícil identificar e punir a violência contra mulheres?
Regina Soares Jurkewicz - É muito mais fácil, no senso comum, aceitar a criança como vítima. Mas quando se fala que uma mulher sofreu um abuso ou foi estuprada, a primeira idéia é de que ela seduziu o agressor. Quando as mulheres denunciam, acredita-se menos nelas, pior ainda se forem adultas. E muito pior se o agressor for um padre, um homem envolto em aura de santidade. De vítima ela vira culpada.
ÉPOCA - No início do mês, a diocese de Covington, nos Estados Unidos, criou um fundo de US$ 120 milhões para compensar cem vítimas. Isso já aconteceu antes com outras dioceses americanas. Há mais padres abusadores lá do que aqui ou trata-se de uma diferença de política da Igreja?
Regina - Tenho certeza de que aqui há tantos abusadores quanto lá. Mas lá a consciência de cidadania é muito mais avançada, as vítimas criam redes de sobreviventes. Desde que o escândalo da batina estourou nos EUA, em 2002, aumentaram as denúncias em outros países, inclusive no Brasil. Mas lá as assimetrias são muito menores, existe muito menos diferença social, econômica e cultural entre os padres e as vítimas. Aqui as mulheres violentadas são empregadas domésticas, secretárias da paróquia ou apenas meninas pobres da comunidade. Expressam-se com dificuldade, não têm nenhuma consciência de direitos, estão desprotegidas. Tanto que nunca houve aqui um caso de pedido de indenização de uma mulher violentada ou que tenha sofrido abuso por um padre. Em nenhum dos processos que pesquisamos houve condenação, embora alguns ainda estejam em andamento. No Brasil, a maioria dos casos permanece encoberta, protegida pelo silêncio imposto pela cúpula católica. Nos dois anos e meio em que pesquisamos, em cada lugar aonde íamos pessoas ligadas às pastorais, freiras etc. sempre nos contavam algum caso que nunca se tornara público. Mas ninguém queria fazer a denúncia.

'' A Igreja quer ter o privilégio de não se submeter às leis do Estado. E, em geral, consegue. A maioria dos casos de crimes sexuais cometidos por padres permanece em segredo ''

ÉPOCA - A senhora diz que a Igreja brasileira usa estratégias para encobrir crimes e criminosos, colocando-se acima do Estado. Como é isso?
Regina - O padre que abusa tem uma proteção institucional que os outros homens não têm. Homens não-padres estão mais sujeitos às leis civis. O padre também está, porque antes de ser padre é um cidadão. Mas o que acontece na prática é que a Igreja brasileira fez a escolha do silêncio. E, assim, acoberta fortemente o sacerdote. O bispo ou superior se preocupam em conversar com ele, mas é uma conversa no sentido de compreendê-lo, de saber se está disposto a pedir perdão a Deus e se reconciliar. Dificilmente ele será afastado do sacerdócio. Todos os esforços da cúpula são para que o caso não saia das paredes da instituição. Uma das vítimas com quem conversei contou o crime ao superior do sacerdote que a violentou. O superior lhe disse que era sabido que o padre em questão tinha problemas com as mulheres, mas que na Igreja há uma orientação para que os problemas sejam resolvidos internamente. Em suas palavras, ''irmão tem de acolher irmão''. Então era preciso evitar a denúncia e o escândalo. A pesquisa mostrou que esse é o procedimento-padrão. O escândalo é o grande medo. A Igreja quer ter o privilégio de não se submeter às leis do Estado. E consegue.
ÉPOCA - Nessa lógica, os superiores seriam cúmplices de um crime e poderiam ser processados...
Regina - Num dos casos o bispo chegou a ser processado por uma tentativa de subornar as vítimas. Teria oferecido dinheiro para que retirassem a queixa. Mas foi assessorado por um bom advogado e o caso foi encerrado. Esse bispo foi promovido e hoje tem um cargo importante na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Legalmente, não há problema, já que ele foi absolvido pela Justiça. Encontramos outros casos de promoção. Faz parte da estratégia de proteção seguida pela Igreja quando o caso se torna público. A cúpula homenageia o agressor, ele assume um cargo que o qualifica mais e, portanto, protege-o mais. Em outro caso, o agressor foi promovido a reitor de um seminário. A promoção é um reforço, um prestígio social que torna o abusador ainda mais imune à acusação.
               Regina Soares Jurkewicz
Fabiano Accorsi/ÉPOCA
Dados pessoais
Paulistana, 50 anos, casada, dois filhos

Carreira
Formada em Serviço Social, é mestre em Sociologia da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Ciências da Religião pela PUC-SP,
professora do Instituto Superior de Teologia da Diocese de Santo André, pesquisadora e coordenadora da ONG Católicas pelo Direito de Decidir. Tem um livro publicado

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