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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Nove décadas de todos nós, os comunistas que somos, as comunistas que morremos no Araguaia, os comunistas que desaparecemos nos porões da ditadura, as comunistas que permanecemos na luta, os comunistas nerudas da poesia que nós, aqui do lado esquerdo, fazemos todos os dias

Copiei do Viomundo e inventei o título

Gilson Caroni Filho: Nove décadas de todos nós

Há 90 anos, precisamente a partir de 25 de março de 1922, os comunistas passaram a existir de fato na sociedade brasileira.  Independentemente de  divergências no campo progressista, não se pode negar ao PCB sua importância histórica como um dos referenciais elementares na articulação da cultura e política contemporânea do Brasil moderno. 
E neste lapso histórico, até a legalização em 1985, contam-se nos dedos os anos em que os comunistas se beneficiaram de garantias cívicas — que,  genericamente, se realizam no direito à existência legal como partido político.
É claro que a discriminação cívica  dos comunistas não foi um fenômeno peculiar. Ela se inseriu como  um dos aspectos particulares daquele que, durante muito tempo, foi um padrão constante da formação social brasileira: a exclusão das massas trabalhadoras do processo político. 
A negação da vida pública aos partidos de esquerda fez parte da negação maior realizada sistematicamente pelas classes dominantes brasileiras: a tentativa de impedir e ou neutralizar a intervenção do povo na nossa história.
Entretanto, este aspecto  particular da tradicional natureza antidemocrática, antipopular e excludente da ordem política brasileira revestiu-se de um sentido absolutamente decisivo no processo de declínio histórico do regime implantado com o golpe de 1964. 
E pelo que contém de pedagógico não podemos deixar de passar em branco esse ponto.
A  nossa experiência política revela a que serviu a interdição da legalidade aos comunistas. 
Todos sabem que o anticomunismo e a repressão a seus quadros foram o pretexto  e o vestíbulo ao cerceamento de todas as correntes do pensamento progressista, uma espada de Dâmocles, que  se manteve suspensa sobre todas as cabeças que exercitaram o dever de dissentir, de discutir e de projetar um futuro diferente a partir do presente transformado. 
No momento em que o capital financeiro, apoiado pelas grandes corporações midiáticas, dissolve conquistas históricas da classe trabalhadora européia, a lembrança viva desse passado recente é um imperativo democrático para brasileiros e demais povos sul-americanos.
Sempre é bom recordar que a luta pela livre organização e a legalização das mais diversas correntes de opinião concentrou muitas das determinações da questão democrática brasileira. 
Nestas condições, a luta dos comunistas foi pertinente a todas as forças democráticas. 
O impedimento de existência legal do PCB significou para elas uma restrição, uma ameaça, um instrumento de chantagem.
O partido que contou com quadros da estatura de João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Diógenes Arruda Câmara e Luís Carlos Prestes condensou a consciência possível de uma parcela expressiva das populações trabalhadoras da cidade e do campo e as melhores tradições de nossa intelectualidade. Apesar dos erros cometidos e dos percalços de seu itinerário, instaurou-se como uma constelação política nacional, como uma vontade política genuinamente nacional.
Combateu por uma legislação social justa, pela defesa da industrialização, pelo monopólio estatal do petróleo, pela educação pública fundamental e superior, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pela proteção à infância, contra discriminação racial, religiosa e cultural, contra todas as formas de censura e  obscurantismo, pela democratização  da vida social e por melhores condições sociais para todos os trabalhadores. 
Estiveram presentes na campanha das  “Diretas Já”, contribuindo para o avanço da luta democrática. 
O aporte que ofereceram à cultura  e às ciências históricas e sociais com a difusão pioneira do marxismo é de uma relevância íntima.
Vinculados à solidariedade internacional, lutaram contra o fascismo espanhol e denunciaram sempre o colonialismo. 
Deram seu sangue nos campos de batalha da Itália e nas câmaras das ditaduras que macularam a dignidade nacional. 
Se entendemos o socialismo como desejo  e tarefa de homens e mulheres, como obra coletiva dos trabalhadores, devemos reverenciar a trajetória de homens como Mário Alves, Gregório Bezerra, Henrique Cordeiro e Apolônio Carvalho entre tantos outros. 
Eventuais divergências táticas não justificam o esquecimento de atores que lutaram pela democracia como valor estratégico.
Ao presenciarmos a ação de sistemas despolitizantes que pretendem reduzir questões sociais e políticas públicas a problemas técnicos, que devem ser elucidados mediante a interação entre cúpulas de organismos multilaterais, agências de risco e corporações midiáticas, precisamos resgatar o legado dos que lutaram por uma vida à luz do dia, regida pelas normas de convivência pluralista e democrática.
Viva a paz! Viva a democracia! Viva o socialismo!

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