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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Direitos humanos: ousar vale a pena. E aí, PT, como é que fica?

Copiei do indispensável Com Texto Livre

 
Saiu neste domingo, no New York Times, uma reportagem de muito interesse para todos os que estão ligados em direitos civis e, especialmente, em cidadania LGBT. O texto é longo, cheio de recovecos, estilo New York Times de domingo, razão pela qual prefiro fazer uma breve paráfrase e partir para as conclusões que quero tirar. Antes que alguém me lembre, deixo claro que estou consciente de que Brasil e EUA são dois países diferentes. Creio, no entanto, que essas diferenças reforçam, em vez de debilitar, as conclusões que quero oferecer aqui. As razões se seguem.
No dia 24 de junho de 2011, o parlamento de Nova York aprovou o casamento gay. Quatro senadores Republicanos (nos EUA os estados possuem Senados) romperam com o partido e votaram a favor da medida, oferecendo a margem necessária para a aprovação da lei. Todos eles haviam sido eleitos com o endosso do Partido Conservador, de ultra-direita – o mais influente entre todos os “terceiros partidos” no estado de Nova York. Dois deles, pelo menos, não teriam sido eleitos sem esse endosso.
Stephen Saland, Roy McDonald, Jim Alesi e Mark Grisanti, os quatro Republicanos que garantiram a aprovação do casamento gay em Nova York, estão bem longe de serem progressistas. No Brasil, eles estariam transitando na órbita do DEM, do PR, do PP, ou seja lá qual for o partido considerado de direita neste momento no Brasil, um país onde ninguém se diz de direita. McDonald é banqueiro, Alesi é empresário e Grisanti só derrotou o seu adversário, afro-americano e democrata – num distrito em que os democratas são uma maioria de 5 por 1 contra os Republicanos e 40% da população é negra – porque, na época, ele se declarou contrário ao casamento gay, defendido pelo seu oponente. O apoio ao casamento gay é baixo entre a população negra e Grisanti teve uma porcentagem do voto afro-americano impensável para um Republicano branco.
Todos os quatro foram declarados cadáveres políticos quando deram seu voto no dia 24 de junho e, de todos eles, Grisanti é o único cuja reeleição está em perigo. A reeleição de qualquer Republicano estaria em perigo num distrito em que os Democratas são maioria de 5 por 1. Mas, se Grisanti for reeleito, terá sido justamente porque mudou de ideia e votou a favor do casamento gay.
Hoje, nos EUA, já é possível dizer que o casamento gay é uma bandeira palatável para conservadores. O apoio ao casamento igualitário subiu, em menos de dez anos, de 32% em 2004 para 53% hoje. Em estados como a Califórnia, esse apoio chega a 59%. Como o poder aquisitivo entre a população gay é superior à média, os quatro Republicanos que desobedeceram seu partido se viram recebendo doações eleitorais inauditas. A conclusão do New York Times, depois de longa pesquisa: votar a favor do casamento gay, mesmo que você seja um político Republicano do interiorzão, não é o risco que costumava ser há uns anos. Os quatro dissidentes não têm a reeleição garantida. Mas, se eles perderem, provavelmente será apesar, e não por causa, de seu voto pelo casamento igualitário.
O contexto brasileiro é diferente, mas as lições ficam. Nota-se hoje, no Brasil, a mesma tendência a sobreestimar o conservadorismo da população, a mesma boba premissa de que as posições conservadoras no eleitorado, se majoritárias, serão inamovíveis, a mesma pintura exagerada do poder dos teocratas e, no caso das forças chamadas progressistas, a mesma covardia que caracterizou o Partido Democrata nestas questões até alguns anos atrás (e que continua caracterizando-o em outras matérias, como o tema Israel, por exemplo).
Pois bem, em pesquisa realizada em meados do ano passado, depois de toda a fúria teocrata das eleições de 2010, antes de qualquer campanha educativa, sem nenhuma discussão arejada do assunto nos meios de comunicação de massa, em plena neura acerca do misterioso “poder” de uma bancada religiosa que reúne pouco mais de 10% da Câmara (e menos de 10% do Senado), quase a metade da população brasileira (45%) apoiava a união civil de homossexuais aprovada pelo STF. Alguém imagina qual seria esse percentual se as lideranças da chamada esquerda resolvessem realmente liderar uma campanha de esclarecimento sobre o assunto? Alguém pode medir o impacto de uma declaração de figura importante da política brasileira que repetisse o conservador Roy McDonald, do Partido Republicano de Nova York, que afirmou que a marginalização que sofriam seus dois netos autistas, por analogia, tornou para ele impossível votar de forma a marginalizar gays e lésbicas? Alguém já parou para pensar o que aconteceria se o governo realmente tomasse iniciativas que garantem direitos iguais para gays e lésbicas, fundamentando-as com remissão sistemática ao texto da Constituição Federal, que estabelece a igualdade de todos perante a lei?
Este blogueiro acredita que é muito mais produtivo fazer e cobrar essas perguntas que ficar eternamente justificando a inação governamental com o argumento de que estamos em um governo de coalizão e que a população é conservadora. A população é menos conservadora do que se imagina, e seu conservadorismo só se conserva porque aqueles que supostamente seriam responsáveis por transformá-lo se acomodam aos limites do possível.
Idelber Avelar
No Outro olhar

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