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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sábado, 29 de setembro de 2012

Não é irônico pensar que se deus morresse ele iria direto pro inferno?

Copiei de Monólogos Com Deus

Suponhamos que o Senhor fosse um ser humano comum, sujeito às penas da lei e fosse pobre como a maioria esmagadora da sua criação, isto é, estivesse impossibilitado de recorrer a um advogado que distorcesse os fatos e contornasse as leis a seu favor. Suponhamos ainda que você fosse intimado ao tribunal para julgamento, e que você não fosse amigo do juiz e nem o tivesse subornado: você tem noção de que nem o júri mais perverso, corrompido e depravado do mundo o livraria da condenação? É óbvio que você está acima de qualquer julgamento terreno, pois é o criador de tudo, onisciente e justo por si, alheio até aos seus próprios mandamentos, mas consideremos isso como um exercício mental, eu sei que isso não o fará se sentir nem um pouco culpado.

Primeiramente você seria indiciado por falsidade ideológica, pois o cristianismo é tão subdividido e suas imagens tão distintas que você tem mais identidades falsas que o próprio Zeus quando se disfarçava para foder alguma mortal. Acrescente a isso formação de quadrilha, pois quando se monta um grupo com mais de cinco criminosos, você está sujeito a isso: o Vaticano, com seus arcebispos e frades, já poderia ser considerado algo como a Cosa Nostra. O Papa seria facilmente condenado por crimes contra a humanidade se ele não vestisse o manto da impunidade, e ele se diz seu representante, assim como cada subchefe das quadrilhas espalhadas pelo mundo em suas igrejas e templos, isentas de impostos e livres para lavar dinheiro e cérebros ao mesmo tempo. Se você não fosse condenado por liderar essa raça de víboras, com sua atitude passiva perante os crimes da igreja você seria considerado cúmplice, e também poderia ser condenado por omissão de socorro às vítimas dos seus “representantes”, pois a maioria delas foi aliciada, roubada, estuprada e assassinada clamando por sua ajuda, pelo seu perdão e consolo.


Porém, ó lástima, a quem elas pediam ajuda? A um déspota assassino semelhante a seu carrasco terrestre. Quantas pessoas você matou desde que criou a humanidade mesmo? Você não sabe, não é? Eu também não sei, mas o único registro que nos resta para averiguarmos isso é a Bíblia Sagrada, escrita ou inspirada por você há mais ou menos 2.500 anos. É um livro antigo, retocado por tantos e com tantos erros de copistas que já não me parece um documento tão confiável, mas vamos a ele, pois se o que estamos procurando são seus crimes, eles não foram censurados: os monges gostam de ostentá-los para coagir os pecadores.


Desde a última vez que eu conferi, se nenhum copista alterou nada desde que morri, você havia matado, mandado matar ou provocado a morte de 2.270.365 pessoas. Dois milhões, duzentos e setenta mil, trezentos e sessenta e cinco assassinatos, sem a menor distinção entre pecadores inescrupulosos e bebês inocentes. Você materializou dois ursos pra matar um bando de crianças só porque elas estavam zoando um careca porra-louca. Qualquer país do mundo que ainda não admitisse pena de morte em suas sentenças entraria em votação e conseguiria unanimidade popular para construir uma cadeira elétrica especial, alimentada a luz solar de dia e energia elétrica à noite, só para ver você torrando 24 horas por dia na principal praça da capital. Meu, e ninguém aqui está contando os mortos do dilúvio – um planeta inteiro habitado –, os de Sodoma ou daqueles massacres que você deixou sem evidências quando se esqueceu de contabilizá-los no seu diário doentio. Ocultação de cadáver também é um dos seus crimes prediletos, não dá pra ter a menor noção de quantas pessoas você realmente matou.


Deixando de lado sua tara patológica por sangue, você pode ser condenado por plágio por cópias como o dilúvio terrestre ou engravidar uma virgem, o que, por sua vez, foi canalhice da sua parte, por fazer uma mulher inocente cometer adultério. Ah, você não vê isso como adultério? Pois bem. Jesus nasceu descabaçando a própria mãe no parto e logo nos primeiros milagres já se mostrou tão plagiário quanto o pai, tornando água em vinho e aprontando peripécias no mar, like a greek god. Em todo caso, eu não quero falar de Jesus, afinal desde quando ele nasceu você tem um álibi perfeito: “Ah, mas nesse dia aí eu estava em Jerusalém”, você diz, o investigador vai lá conferir e todo mundo viu Jesus naquela Páscoa. Como ele é sua cara – e sua pessoa – a polícia fica sem provas.


Voltando um pouco ao antigo testamento um dos seus primeiros crimes (depois de existir) foi o de agressão infantil seguido de abandono de incapaz. Você joga seus dois primeiros filhos em um mundo criado a menos de uma semana, os perturba psicologicamente incutindo curiosidade a respeito do fruto proibido, os castiga duramente logo em sua primeira traquinagem – o que seria equivalente a bater em um recém-nascido por morder o seio na primeira mamada – e os expulsa de casa, abandonados à própria sorte com menos de um mês de vida, condenando o homem ao trabalho e a mulher à submissão e às dores do parto, crueldade que, sinceramente, eu nem sei em que lei se enquadraria. Você os orientou à reprodução sem criar mais um casal sequer, condenando os filhos de Adão e Eva ao incesto. E quando o mundo já está bastante povoado desses filhos incestuosos, você olha e pensa, “Credo! Esses humanos são uns pervertidos!”, e decide afogar todo mundo, salvando apenas um homem decente e justo, Noé, e sua família.


Acontece que um dos primeiros atos de Noé ao pisar em solo seco novamente é condenar todos os descendentes de um de seus filhos à escravidão em favor dos descendentes dos seus outros filhos. Futuramente a igreja católica usaria o argumento de que os negros eram descendentes de Cam, o filho que viu o pai bêbado pelado, para justificar sua escravidão. Quem cala consente. Você demorou tempo demais para colocar um pouco de racionalidade na cabecinha dos cristãos: depois de alguns tratados e muitos anos de navios negreiros e senzalas, a igreja que precisasse de escravos não poderia mais compra-los, teria de convertê-los e convencê-los a trabalhar para ela, em uma pequena parte dos casos sem o uso de tortura.


Depois de matar geral da Terra, você ainda teve ânimo para muitos e muitos massacres, mesmo tendo prometido que jamais faria isso novamente: o arco-íris estava lá para nos lembrar dessa promessa, não é? Aliás, acho que você só prometeu isso ao seu povo escolhido, sua gangue particular de malfeitores, que quando não estava sendo escravizada pelos povos mais evoluídos, estava matando, pilhando, sequestrando e cometendo toda sorte de abusos em seu nome. Dois milênios depois, você os esquece, e seu abandono afetivo faz com que milhões de judeus morram nos campos de concentração nazistas.


Javé Carrasco da Humanidade, foi esse o nome que o padrinho lhe deu? Deveria ser. Cai como uma luva. Você foi o ator, o mandante ou o cúmplice de todos os crimes descritos na Bíblia Sagrada e é o motivador, através da religião, de pelo menos metade de todos os crimes cometidos no mundo atual. E considerando que você é onisciente em relação a passado, presente e futuro, todos os seus crimes foram premeditados! Não vou nem citar a idade média, porque a demência da época era coletiva: os padres diziam que você deixava o Diabo agir através das bruxas para que Sua bondade fosse mais valorizada, nas raras vezes em que era vista. Aqueles padres eram mais doentes do que você no Antigo Testamento. Não vou culpa-lo pelas fogueiras e forcas, mas a suprema corte não deixaria isso passar em branco, principalmente se o promotor fosse ateu.


Se você fosse julgado por todos os crimes “menores” que cometeu ou incitou, seria condenado a setecentas prisões perpétuas, uma atrás da outra. Se fosse julgado pelos assassinatos, no Brasil, pegaria 30 anos de prisão, mas se ficasse de boa na cadeia por uns cinco ou seis anos, acabaria conseguindo liberdade condicional ou prisão domiciliar. Por falar nisso, onde você mora, hein? Enfim... Se seus assassinatos fossem julgados em um país como os Estados Unidos, eles criariam a “pena de morte perpétua”: você seria morto ao fim da tarde, ressuscitaria durante a noite e teria o dia seguinte inteiro para sentir a agonia de saber que morreria de novo ao entardecer e que isso aconteceria todos os dias, até o fim dos tempos. Isso se o homem que condenassem fosse a sua terça parte corpórea: se fosse sua parte onipotente eles o prenderiam àquela cadeira elétrica especial de sofrimento contínuo e se fosse o Espírito Santo, chamariam o controle de pragas.

 
O julgamento de Deus - http://bit.ly/QcmT
 

2 comentários:

Julio Marinho disse...

Perfeito! E pensar que todas essas verdades fazem o autor ser alvo do ódio de quem se diz seguidor de um deus que prega o amor. Nada pode ser mais hipócrita que isso.

Jeff Picanço disse...

Eu morri? Meu Deus!(pelo menos fui pro inferno, dizem que as baladas lá são melhores...)