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25 de outubro de 2010
Violência virtual
Há um modismo na
praça. Artificial. Utilizado, porém, por segmento específico do mercado
eleitoral. Quando pessoas da classe média consolidada - a velha classe
média - se encontram, um tema surge na conversa.
"Campanha
violenta, não?" Estas pessoas não saem do interior de suas casas.
Consomem, contudo, doses cavalares de emissões televisivas. Envolvem-se
emocionalmente com acontecimentos isolados e de nenhuma significação.
São militantes
verbais de um conflito que não existe. A atual campanha eleitoral
desenvolve-se com normalidade surpreendente. Os candidatos se deslocam
pelo imenso território nacional. São recebidos por seus
correligionários, em número equivalente ao respectivo grau de simpatia.
Nas ruas,
militantes ou contratados exibem bandeiras de seus partidos e
candidatos, uns próximos dos outros, entre sorrisos e sadias
provocações.
Nada que indique violência. Agressão ou desrespeito.
Na verdade,
segmentos remanescentes dos velhos quadros conservadores - reacionários
que levaram Vargas ao suicídio - utilizam-se da tática do terror verbal
para anunciar anormalidades que não existem.
É louvável e
salutar o comportamento dos eleitores, em todas as oportunidades.
Portam-se com dignidade e recato cívico exemplares. Não usam insígnias
ou quaisquer indicativos de opção partidária.
Reservam-se
para registrar suas opções pessoas na urna eletrônica. Quem viveu
outras épocas e outras situações, conheceu violência contra a militância
política.
Nem sempre de
natureza física, mas sempre presente a coação moral representada pelos
órgãos de repressão de ditaduras. O temor das palavras proferidas e suas
inevitáveis conseqüências: as perseguições de todas as espécies.
Agora, os
candidatos expõem - se assim quiserem - o próprios pensamento ou de suas
agremiações partidárias. Ninguém o repreende. Só o eleitorado poderá
definir se recebeu bem a mensagem ou a rejeitou.
A onda de
histeria, presente em diminutos setores, aponta para uma regressão ao
passado, particularmente para os anos cinquenta e sessenta, quando um
ódio de minorias urbanas explodia contra políticos progressistas.
É ingênuo este
posicionamento. A sociedade avançou e um eleitorado das dimensões do
brasileiro se movimenta com rapidez e busca os candidatos
correspondentes às suas necessidades e conquistas.
Sentir medo do
novo é próprio do conservadorismo. Nada se mantém estático. Tudo evolui e
a sociedade não é diferente. Avança e agrega sempre novos contingentes
capazes de pensar e agir livremente.
Nesta campanha,
em vários momentos, retornou-se ao passado. Os chamados setores "bem
pensantes" foram em busca dos argumentos mais heterodoxos.
Nada abalou a
tranquilidade do eleitorado. A paz esteve presente em todos os
movimentos eleitorais. Tudo correu com exemplar regularidade por toda a
parte.
Onde, pois, o
fundamento para infundados temores? A concepção de artifícios recorda
outros tempos, quando cartas falsas derrubavam governos.
Na atualidade, as
instituições funcionam com normalidade absoluta. Os encarregados de
preservar a soberania agem com respeitabilidade exemplar.
Só alguns,
portanto, portadores de velhos hábitos golpistas, agora em desuso pleno,
mostram-se amedrontados. Encontrarem violência onde apenas existem
episódios próprios de campanhas extensas no tempo.
Os candidatos
estão esgotados e o eleitorado já massivamente decidido. Só resta
aguardar o próximo domingo. Os agentes verbais de violências
inexistentes devem - sem dureza - digitar o número de seu candidato.
O erro de escolha, sim, indicará uma violência contra os próximos quatro anos. O resto é ficção.
Artigo de Cláudio Lembo,
advogado e professor universitário. Filiado ao DEM, foi vice-governador
do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como
governador. Publicado no portal Terra Magazine, edição de hoje.
O Ornitorrinco pede a palavra para dizer que não precisa dizer mais nada. Pano rápido. Fui.
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