Eu visito VioMundo todos os dias
A tropa de elite e os cucarachas
Por Luiz Carlos Azenha
A “Guerra contra as Drogas” é coisa antiga. Nos Estados Unidos, do
tempo de Richard Nixon. Mas foi no governo Reagan que a “Guerra contra
as Drogas” realmente começou a ser levada a sério em Washington. Reagan
militarizou a interdição do tráfico entre a América do Sul e o
território estadunidense. Envolveu até mesmo a Central de Inteligência
Americana na parada. Eu, por acaso, era correspondente da TV Manchete
nos Estados Unidos.
Portanto, embora tenha acompanhado minha dose de tiroteios no
Jacarezinho, quando fui repórter da Globo no Rio de Janeiro, conheço a
guerra contra as drogas de muito, muito antes.
Logo que cheguei aos Estados Unidos, aliás, acompanhei como repórter o
combate ao que sobrava da Máfia em Nova York. Uma de minhas primeiras
reportagens em Manhattan (desembarquei na cidade em 7 de dezembro de
1985, dia do aniversário de minha mãe) foi sobre o assassinato do chefão
Paul Castellano, abatido diante da famosa Sparks Stakehouse, um
restaurante que servia um belíssimo filé — e que era um dos favoritos do
Paulo Francis, então veterano correspondente na cidade.
Cobri o primeiro julgamento de John Gotti, absolvido em um tribunal
do Brooklyn da acusação de eliminar Castellano para assumir o “cargo” de
chefe dos chefes. Fiz reportagens tanto no Little Italy, onde a Máfia
lentamente definhava, quanto em Queens, diante da casa de Gotti. Quando
ele ainda não era o todo poderoso, Gotti perdeu um filho perto de casa,
atropelado por um vizinho. Uma das acusações contra ele é de que tinha
mandado dar um sumiço no atropelador.
Naquela época, quando eu ainda tinha a cabeça pequena e o peito
grande, cheguei a bater na porta de ferro do que era tido como o salão
de reuniões informais dos mafiosos em Queens (com o Domingos
Mascarenhas, cinegrafista da TV Manchete, filmando).
Gotti foi absolvido mais de uma vez das acusações que lhe foram
imputadas, pelo trabalho brilhante do advogado Bruce Cutler. Cutler,
aliás, esteve no centro de uma polêmica que os Estados Unidos viveram
nos anos 80 e que chegou com trinta anos de atraso ao Brasil: até que
ponto o advogado pode se envolver na defesa de seu cliente. A promotoria
de Nova York, que perseguia febrilmente a condenação de Gotti, pediu o
afastamento do advogado alegando que ele tinha se tornado um acessório
do crime organizado. Conseguiu. Sem Cutler na defesa, Gotti foi
finalmente condenado por liderar a família Gambino (mais tarde morreria
de câncer, na cadeia).
Fiz muitas coberturas relativas à chamada “guerra contra as drogas”, dentro e fora dos Estados Unidos.
O que mais me chamou a atenção, à época — e que guardo até hoje, como
lição — é que Washington pregava para os outros o que não fazia em
casa.
Para os outros e fora dos Estados Unidos, o governo americano pregava a militarização da interdição e do combate às drogas.
Internamente, no entanto, a coisa era diferente.
Nunca vi a Guarda Nacional americana chutando portas atrás de traficantes. Muito menos o Exército.
Em casa, a ênfase era no serviço de inteligência. No trabalho silencioso do FBI.
Tropa de elite, aparentemente, era coisa de cucaracha* (o
cartunista Henfil popularizou a palavra usada pelos gringos para
definir os hispânicos quando voltou ao Brasil de uma estadia em Nova
York e escreveu “O Diário dos Cucarachas”).
Voltarei ao assunto em breve, tratando do general Manuel Noriega e da invasão do Panamá.
* Aliás, essa história de vibrar com homem de preto segurando metralhadora… sei lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário