Eu visito o Diário Ateísta todos os dias
Até à náusea, a Rádio e Televisão de Portugal vai repetindo a reportagem dos passageiros que
chegaram a Lisboa, depois de terem apanhado um valente susto a bordo de
um avião da TAP. E a reportagem abre com uma passageira a garantir que
nunca sentiu medo, porque confiou em Deus que, por fim, acabou por fazer
o milagre, evitando o pior.
Note-se que não tenho qualquer razão para duvidar, nem das palavras
da passageira nem do poder de Deus; mas pergunto se não seria mais fácil
a Deus evitar a avaria do motor – como, aliás, faz com todos os aviões
cujos motores não pegam fogo, graças a Deus. A minha mulher, católica,
elucida-me que naquele tempo ainda não havia aviões e, portanto, Deus
não sabia nada de engenharia aeronáutica – nem tinha obrigação de saber,
principalmente agora, que a idade começa a pesar. Era uma altura em que
o Sol andava à volta da Terra, e esta era plana e assente sobre
pilares. Acabei por concordar com a aliás imbatível argumentação.
Na verdade, lendo a bíblia não se vê qualquer referência a aviões…
Adiante. Fico, pois, vencido e convencido de que a mão de Deus esteve no
momento histórico da salvação dos passageiros do avião. E neste momento
outra questão se levanta: de que está à espera, a TAP, para levantar um
rigoroso inquérito à actuação do piloto e do co-piloto? Porque era a
eles que competia levar o avião a bom porto – perdão, aeroporto – e, em
vez de cumprirem o seu dever, demitiram-se das suas funções deixando nas
mãos de Deus o que a eles competia em exclusivo – isto, claro, de
acordo com a referida passageira, cujas palavras não me atrevo a pôr em
dúvida.
Despedimento por incompetência, era o mínimo que lhes deveria
acontecer. E a prová-lo, está o facto de a RTP não ter dedicado uma
única palavra aos pilotos.
José Moreira
O Ornitorrinco que não avoa nem a pau, juvenal, pede a palavra para dizer que, oh, deus nos criou num tempo em que ainda não havia máscaras e aparelhos de mergulho, e tubos de ar, e coletes e coisas assim, de modo que eram tempos de muitos afogamentos entre nosso povo. Nosso amado pastor, que declarou que os ornitorrincos gays são verdadeiramente amaldiçoados por nosso misericordioso deus, nos garantiu, entretanto, lugar no aquoso céu desde que aceitemos em cristo nossos pecados horrrorrrozzos e infames e, é claro, façamos o pagamento do dízimo devido. Oh, estamos agora tão felizes e nos sentimos tão abençoados mas, como sempre, alguns radicais ficam a propor se não seria melhor que nós, os ornitorrincos, mandássemos essa tropa de pastores e padrecos jaguaras para a putaqueospariu.
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