Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.
“Na
entrevista, Lucena descreveu, com tranqüilidade e frieza, o que viu e o
que fez com os adversários políticos do regime. ‘O sujeito amarrado,
algemado e o executor puxava o gatilho e matava’, disse ele ao narrar
uma das cenas entre as inúmeras das quais presenciou e participou.
…informou
ter apenas um remorso. Foi quando viu o corpo de uma moça de 17 anos
morta pelos militares. ‘Peguei no corpo dela e ainda estava quente. A
moça não tinha ideologia nenhuma’.
Em
Rondônia, Lucena ficou rico como advogado de traficantes e de notórios
assassinos, como o fazendeiro Darli Alves, que matou a tiros, no Acre,
o líder seringueiro Chico Mendes.
Preso nesta semana por porte ilegal de arma, Curió não ficou nem um dia detido
Mostrando
profundo conhecimento no assunto, o advogado disse que, na sua época, o
método mais utilizado era o pau de arara, nas suas palavras, ‘um
instrumento cruel, devastador, que deixa seqüelas. Tem muita gente que
não resiste meia hora e conta tudo. Às vezes, é só mostrar o
instrumento e ele (a vítima) abre’.
Lucena
afirmou ter visto de dez a 15 execuções de guerrilheiros do PC do B no
Araguaia, entre elas, a morte de uma jovem identificada por ele como
‘Sônia’, que foi assassinada pelo hoje major reformado do Exército
Sebastião Curió.
Tanto
Curió quanto Lucena participaram das investigações e prisão da hoje
presidente Dilma Rousseff, então militante política. ‘Ela (Dilma) era
uma menina de 17 ou 18 anos de idade que foi presa e levada para a
Operação Bandeirantes e entregue ao delegado Fleury (Sérgio Paranhos
Fleury, notório torturador)’.”
Aparentemente,
a “moça de 17 anos morta pelos militares”, que “não tinha ideologia
nenhuma”, seria moradora da região e não guerrilheira.
Quanto
à Sônia, Lucena pode estar se referindo a Lúcia Maria de Souza,
estudante de medicina do RJ que chegou a prestar serviços médicos aos
habitantes do Araguaia e a fazer partos.
Sônia: “Guerrilheira não tem nome, seu fdp. Eu luto pela liberdade”
Emboscada
por uma patrulha do Exército em outubro/1973, quando estava em curso o
extermínio de todos os guerrilheiros localizados, levou tiros mas, sem
que que os militares percebessem, tombou em cima de sua arma.
Ao perguntarem seu nome, ela deu a resposta célebre: “Guerrilheira não tem nome, seu fdp, eu luto pela liberdade!”.
E,
puxando o revolver de sob o corpo, atirou neles, atingindo no braço o
(então) major Lício Maciel e na barriga o capitão Sebastião Alves de
Moura.
Foi em seguida metralhada e seu corpo, abandonado insepulto na mata.
O
capitão Sebastião se tornou mais conhecido com a patente que adquiriu
depois (major) e o apelido de Curió. Na reserva, ele é, na verdade,
coronel.
Pensava-se que,
ferido, não tivesse sido ele um dos executores de Sônia. Agora, Lucena
pode ter lançado uma nova luz sobre o episódio.
O
chefão do Serviço Nacional de Informações e futuro ditador João
Baptista Figueiredo chegou a citar numa entrevista a reação de Sônia
como exemplo do “fanatismo” dos guerrilheiros…
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