Eu visito o Maria da Penha Neles todos os dias
É
duro ter que viver no mesmo planeta de um Silas Malafaia, caros
leitores. Quero dizer, é duro viver nesse planeta, ponto. A Terra inclui
palmeiras e sabiás, que gorjeiam como lá, mas também inclui música
nativista, reggae, Los Hermanos e brócolis. Ah, e o teatro do Zé Celso
Martinez.
Ela
inclui malária, febre amarela, beri beri, mosquito borrachudo e alarme
de automóvel, sempre no meio da noite. Ela inclui paixões não
correspondidas, táxis Corsa Sedan, Sala de Redação e a República
Islâmica do Irã. Ela também inclui auroras boreais, banhos nas termas ao
ar livre e cheio de estrelas no Chile, sagu da minha avó, a Jessica
Alba e os Beatles.
Tudo
isso no âmbito da normalidade dos gostos e desgostos, caros
sulvinteumenses. Tudo isso nas nossas preferências genéticas ou
adquiridas. Tudo isso a partir do que é termos um planeta e seres
humanos o habitando, seres que se constroem e são construídos e com os
quais lidamos, amando, gostando, não achando lá grande coisa, ou não
suportando, mas suportando.
E
aí vem o Silas Malafaia, quebrar esse delicado equilíbrio. Os Silas
Malafaia desse mundo são, e não são desse mundo. Como a Paquetá de
Macedo, eles começam nesse mundo e não sabem onde acabar. Eles podem ser
muitas coisas, e quase nenhuma delas muito saudáveis para quem pretende
que o mundo seja mediado pelo que existe de humano na humanidade. E,
pior, eles têm O Livro.
Um
livro é a diferença entre mais um maluco ignorante, intolerante e
intolerável, e um sujeito capaz de produzir grandes e enormes problemas.
E, caros leitores, esse aí tem um livro.
Um
livro é o que justifica e legitima. Preferencialmente, o livro deve vir
diretamente de Deus em uma de suas múltiplas e convenientes formas.
Isso não é assim tão necessário. O livro de Mao fez essa função, assim
como o do Kadafi, e todos eles têm em comum serem um grande ponto de
encontro de todas as respostas para todas as perguntas jamais feitas, ou
não. E, melhor, eles são interpretáveis.
Já
que os Malafaia jamais conseguiriam escrever coisa com coisa, eles se
tornam intérpretes e daí vê o seu poder. Eles explicam o inexplicável.
Quer coisa mais importante, ou melhor?
Livros
tem enormes vantagens. A Xuxa por exemplo, explicou: “Os duendes
existem. Tem até livro a respeito”. Se tem livro, então existe. Os
Malafaias em geral, e esse em particular, existem por isso.
E
nesse mundo de muitas carências e com televisão, a união de um
Malafaia, um livro e um monte de desesperados produz um fenômeno
assustador, que é o poder político. No segundo turno da eleição
presidencial, Dilma foi chantageada por esses sujeitos, e o Serra se
aliou a eles. A consequência é o retrocesso da sociedade, que vê
dificultado o caminho da melhoria pelo obstáculo de um fanático, cercado
de fanáticos, munidos de um livro e uma televisão. Cada vez que um
político de verdade cede diante dessas chantagens, morre bem mais do que
um filhotinho de foca na Antártica.
E é esse o mundo em que estamos.
Uma matéria recente do NY Times analisa
o fenômeno Malafaia. Sendo um jornal americano, eles conhecem de perto
essa realidade, que faz parte da formação da sociedade norte-americana,
que a exportou ao Brasil. Lá, esse pentecostalismo associado a uma
sociedade puritana, com uma fortíssima extrema-direita, já ameaça
transformar um país über bem-sucedido em várias frentes, em um sistema disfuncional.
Aqui?
Malafaia
não passa de um terno de gosto duvidoso, munido de um livro, um avião,
uma tevê, cercado de desesperados por todos os lados. Ou nem tão
desesperados. Ele é da Assembléia de Deus, à qual pertence Marina Silva,
lembrem.
Mas
ele parece adorar o poder auto-atribuído, e aparentemente real que
construiu. E aí está o problema. Nossos governantes eleitos serão
chantageados, se aliarão por afinidade ou conveniência, ou resistirão,
enfrentando esse pessoal para finalmente descobrirmos com quantos paus
se faz uma canoa televangelista, e o que é preciso para ela afundar?
Me
choca e entristece ver essa mensagem de ódio e intolerância tomar forma
e ocupar espaços, sempre com a embalagem de amor divino por todos os
lados. Me preocupa pelo futuro, gostaria de saber se vamos neutralizar
essa maluquice ou seremos ainda vítimas dela. Hoje, ele ataca as
minorias, as historicamente mais frágeis. É inaceitável para pessoas que
acreditem em justiça e igualdade. Cabe a nós defendermos vigorosamente a
quem quer que ele ataque, dando um sinal claro de que ele pode vender,
pode enriquecer, pode se achar o que quiser. Mas nunca deixará de ser o
que é, um tolo com uma fatiota e um microfone. E do lado de cá estamos
nós, sem livro na mão, mas com o sentido da justiça e da humanidade,
dispostos ao que for preciso para que o lado de cá, o do bem, vença.
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O Ornitorrinco Deselegante pede a palavra para reafirmar o vem dizendo faz já muito tempo: Silas Malafaia é uma ameaça concreta à vida, ao progresso, à fraternidade, à tolerância. Este enganador joga e aposta todos os dias contra cada homem, cada mulher, cada ser humano. Mas que fique sempre bem claro que devemos juntar a este notório patife o Edir Macedo, o Waldomiro Santiago, o RR Soares, os padrecos cantores de merda, a renovação carismática dos católicos de merda, as igrejas todas e suas curas e milagres que, sejamos francos, mereceriam sumária abertura de inquéritos policiais.
Mas devemos também chamar às falas todos aqueles que, bovinamente, aceitam o que dizem estes estelionatários. Eles existem porque vocês permitem, porque vocês pagam as contas deles. Eles existem, cagões em cristo, por conta desta sua fé obtusa.
Um comentário:
Meu caro Cequinel
Eu tenho uma forma mais delicada de classificar este energúmeno que se intitula um "God's Anointed"...
Digamos que... este sujeito possui um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de caráter...,
...em suas pregações, existem ausência de sentimentos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios.
Sujeito manipulador, egocêntrico, sem remorso e sem culpa com as consequências (segundo ele) além da vida...,
E para finalizar em apoteose os seus discursos, o lembrado em questão, sempre recorre a sua inflexibilidade...
...inflexibilidade essa em tratar com as pessoas leigas sobre o seu ponto de vista, onde sempre culmina em castigos e punições "divinas".
Para a sua glória é lógico.
Um abraço.
Neuton Pires
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