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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A criação do mundo segundo os meakambuts

Imagem: Facebook Ateísmo Não é Crime 

Este é o relato da criação do mundo segundo os costumes e crenças da tribo nômade dos meakambuts, que vive em remotas cavernas nas florestas de Papua-Nova Guiné.

"No princípio, Api, o espírito da Terra, veio a caverna Kopao e encontrou rios cheios de peixes, o mato repleto de porcos e muitos sagueiros, mas não havia pessoas.
Api pensou: esse seria um bom local para as pessoas, e abriu uma passagem estreita no topo de Kopao.
As primeiras pessoas a sair foram os awins, depois vieram os imboins e outros grupos e finalmente os meakambuts, e estavam todos nus, e se espremeram pela passagem, ofuscados pela luz.
Havia ainda outras pessoas lá dentro, mas depois de de os meakambuts saírem, Api fechou a fenda, e os outros permaneceram lá dentro, mergulhados em completa escuridão.
Os awins, os imboins e meakambuts se espalharam pelas montanhas e viveram em abrigos nas rochas.
Fizeram machados de pedra, arcos e flechas, e a caça foi boa.
Não havia ódio, nem matanças, nem doenças, e a vida era bela e tranquila, e todo mundo tinha o estômago cheio.
Naqueles tempos, homens e mulheres viviam em abrigos separados e, à noite, os homens iam a uma caverna especial para cantar.
Mas numa noite um deles fingiu que estava doente e não foi, e quando viu os outros cantando se esgueirou até a caverna das mulheres e fez sexo com uma delas.
Aos voltar, os homens sentiram que uma coisa muito errada havia acontecido.
Um deles sentiu inveja, outro sentiu ódio, outro, ódio, e outro, muita tristeza.
Foi quando os homens aprenderam todas as coisas ruins, e também quando a feitiçaria começou."
(Copiei da Revista National Geographic, fevereiro 2012, páginas 124 e 125)

Pois é, cristãos em cristo, sentem aqui ao pé do fogo, isso, sejam bem vindos, se abanquem, meninos e meninas. Vamos lá?

Perceberam que os meakambuts e os cristãos contam o começo do mundo de forma muito semelhante? Um espírito, uma força superior, um diretor de criação, um engenheiro da Petrobras, sei lá, um belo dia alguém acorda entediado e decide criar o mundo e os homens, as flores e a Frente Parlamentar Evangélica. 

Api, Deus ou Gervásio, diretor geral de suprimentos, botam a mão no queixo, pensam, franzem o cenho e ó, vou criar isso e vou criar aquilo, e criam, e não chamam nem os estagiários.

Criado o mundo, no começo ó, só alegria, fartura, cantoria, amor e paz, borboletas e passarinhos e muita comida. Na terra dos meakambuts e no paraíso cristão, atentem, tudo igualzinho.

Mas os meakambuts e vocês, amigos cristãos, acreditam piamente que uma mulher cometeu, ó que horror!, essa coisa gosmenta chamada pecado e, a partir daí, o mundo destrambelhou: ódio, inveja, guerras, imposto de renda, matanças, proliferação desenfreada de vereadores, geraldo alckmin, josé serra, roberto freire e beto richa, construção de uma porra de uma fábrica fedida de fertilizantes aqui bem perto de casa, etc e tal e cousa e lousa.  

E qual o terrível pecado cometido pela mulher, seja a anônima meakambuts, seja nossa querida Eva? Sexo, ó que horror, tirem as crianças da sala, ó que horror, que coisa suja, sim, a primeira trepada!

Seja honesto, caro cristão em cristo, e trate de reconhecer que as duas alegorias sobre a criação do mundo são meras invenções humanas, cada qual com inevitavelmente permeada pelas circunstâncias de tempo, lugar, costumes, cultura, modo de vida, etc. 

Seja honesto e reconheça que a alegoria cristã é tão consistente quanto a dos meakambuts, povo primitivo e nômade que vive nas florestas remotas da Papua-Nova Guiné.

E, por favor, não ouse proclamar-se superior, prezado cristão, àquele povo. 

Eles, ainda que vivam em plena floresta, onde imagino existam muitas cobras ó, nos pouparam da inacreditável conversa mole da pérfida serpente falante que engambelou a pobre da Eva e, veja que legal, pelo menos dividiram a invenção do pecado igualmente entre o homem curioso e literalmente muito metido, e a mulher que resolveu experimentar a coisa.

Mas numa coisa os neakambuts são muito, mas muito superiores aos cristãos: não escreveram nenhuma porcaria de bíblia ou livro sagrado e, portanto, não andam a matar em nome de Api, não têm horas de programas religiosos na televisão e entre eles não existe nenhum picareta como o Valdomiro, o Edir Macedo, o Silas Malafaia e, aleluia!, nenhuma banda de gospel gosmento.

Ó glória, ó Api!
O sanque de Api tem poder!
Ó glória, ó menezes!

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