SOBRE O BLOGUEIRO

Minha foto
Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Anotações sobre a barbárie em São Paulo

A PM paulista demonstrou o zeitgeist de sua existência: bater, em nome da segurança nacional, nos mais frágeis. Suprimir a democracia. Barbarizar jornalistas e manifestantes. Usar as armas de que dispõe graças ao financiamento público para atacar o público que a financia.
Em nome de manter a avenida Paulista “aberta ao trânsito”, a PM paulista fechou a cidade de São Paulo. (Luiz Carlos Azenha)
---xxx---
Bom dia a você que também está torcendo para que chegue rápido o tempo em que essa geração de jovens manifestantes estará no poder. E, estando lá, que eles e elas não esqueçam, como fizeram muitos de seus pais, os ideais que hoje defendem. (Leonardo Sakamoto)
---xxx---
Erram os prefeitos, erram os governadores, erra a mídia, erra o ministro, erra a policia, e ninguém esta certo nesta historia, só o povo que vai as ruas.
Insisto num ponto, até não se discutir os lucros das empresas não haverá uma saída para um transporte ruim e caro em todo o pais. (Luis Beto Olivera)
---xxx---
E aquele velho militante abraçado à velha e desbotada estrela. Tremendo, ele observa a Paulista da janela do grande banco, com os bolsos cheio de grana, com a barriga gorda dos favores públicos; lá embaixo vê o povo apanhando e grita de ódio: "essa rua era minha, a revolução era minha, as palavras de ordem eram minhas: seus usurpadores, bem feito para vocês, quem mandou ser povo!" (José Fernando Nandé)
---xxx---
Nada mais assustador para um conservador do que a baderna. 
Um dos discursos mais comuns à direita brasileira é esse: peçam o que quiserem, digam o que quiserem, mas não façam baderna. E, sobretudo, não atrapalhem o trânsito. Não por outra razão, qualquer cobertura da mídia nacional sobre passeatas, manifestações e grandes movimentações de massa acabam, sempre, em manchetes de trânsito. Os camponeses foram a Brasília pedir reforma agrária? Atrapalharam o trânsito. As mulheres da Marcha das Margaridas invadiram as Esplanada dos Ministérios para pedir saúde e educação no campo? Provocaram engarrafamentos. A moçada parou São Paulo para reclamar do aumento da tarifa do transporte público? O promotor mentecapto, parado no trânsito, pede a PM para espancar e matar os manifestantes. Afinal, o filhinho dele está na escola. Mas como chegar para pegá-lo a tempo, se os bárbaros impedem o trânsito?
Quando, além de parar o trânsito, os manifestantes fazem baderna, aí não! Aí já é demais! Não pode ter baderna. Tem que ser como aquelas passeatas pela paz na Zona Sul do Rio de Janeiro, todos de branco na Avenida Atlântica, copos-de-leite às mãos, o trânsito compreensivelmente parado para a procissão de cidadãos contritos. A polícia, claro, à distância, com as sirenes reverencialmente desligadas. Tudo assim, sem baderna, dentro da lei e da ordem. A manifestação do mundo ideal. 
Pena que para quem pega quatro conduções por dia e gasta em média quatro horas dentro delas (ou esperando por elas) a realidade seja outra. No mundo do transporte público não tem hakuna matata. O pau come no ponto, no ônibus lotado, nas estações de trem e metrô diariamente conflagradas. Para o usuário de transporte coletivo, todo dia tem confusão e baderna, mas é difícil explicar isso para o mundo da Avenida Paulista. Para a classe média bem motorizada, as demandas do transporte coletivo são subterrâneas, confinadas a um universo específico sobre o qual só se tem notícia quando motoristas e cobradores entram em greve. É o dia em que a patroa de Higienópolis se inquieta porque a empregada vai chegar mais tarde ou, horror dos horrores, nem vem trabalhar. Quem vai fazer almoço? E os petizes, sob a guarda de quem ficarão no playground? 
E, de repente, vem a baderna. 
Multidões de cidadãos, jovens, velhos, brancos, negros, empregadas, office-boys, desempregados, professores, trabalhadores, trabalhadoras, desocupados. Baderneiros. Quebram ônibus, depredam vidraças, picham paredes, revolvem a cidade e deixam marcas no asfalto.
O horror, o horror!
Então, todos se unem contra a baderna. Podem pedir o que quiserem, podem se manifestar, cruzar as ruas com bandeiras, mas, por favor, não atrapalhem o trânsito. Políticos de todos os matizes se unem para bradar: baderna, não! Antigos militantes de esquerda que ainda acham um lindo momento histórico as barricadas de Paris, em 1968, estão, ora vejam, revoltados com a baderna. Pedras, paus, coquetéis molotov, é preciso conter os bárbaros e acabar com a baderna. Não interessa se eles vivem em panelas de pressão, amontoados em latas automotivas superlotadas, se ganham uma miséria e, agora, terão que pagar mais 20 centavos pelo mesmo sofrimento diário. O que importa é que eles, baderneiros, estão atrapalhando o trânsito. 
Então, a solução é descer a porrada. Passar a borracha no lombo desses baderneiros, enfiar-lhes o cassetete na cuca, tocar o gado revoltado para o corredor polonês. 
Que a violência policial contra os manifestantes venha do governo de São Paulo, não causa espécie a ninguém. O PSDB é um partido de direita, o governador Geraldo Alckmin é um numerário da Opus Dei, organização católica de extrema-direita, e a PM de São Paulo é um substrato intocável do aparato policial-militar herdado da ditadura. Os policiais que tomaram o centro da cidade para espancar e prender manifestantes e jornalistas são os cães de guarda desse sistema. Não há disfunção alguma no que estão fazendo: eles existem, basicamente, para isso. Para tocar a negrada a pau, para dar paz a Higienópolis e garantir a brisa fresca de domingo nos Jardins. Dessa gente e de sua guarda pretoriana devem cuidar, nas próximas eleições, o povo de São Paulo.
Mas, onde está o PT? Onde está o prefeito Fernando Haddad, este que já avisou, de Paris, pelo Twitter, que não irá “tolerar vandalismo”? Onde estão os vereadores, deputados e senadores do partido que nasceu nas monumentais greves do ABC paulista, em plena ditadura militar, que os chamava, ora vejam, de baderneiros? Nada. Ninguém de braços dados para enfrentar a tropa de choque. Todos quietinhos, com seus militantes sempre tão subordinados, para saber o que vai sair no Jornal Nacional e na Veja de domingo. Até lá, melhor deixar as barbas de molho. Para os que ainda têm barba, claro.
Nessa vergonhosa escalada de violência tocada pelo governo tucano de São Paulo, não podia faltar, claro, o apoio da mídia. Não há manifestantes para a ela, mas só baderneiros. Manifestantes são franceses, suecos, turcos, chineses. No Brasil, são vândalos e desocupados interessados em depredar o patrimônio público, como se a imprensa brasileira, hoje povoada de engomadinhos formados em cursinhos de trainee, alguma vez tenha se preocupado, de fato, com a segurança física dos ônibus usados pelos pobres.
Perdão, gente indignada com os vândalos. Mas entre a hipocrisia e a baderna, eu fico, alegremente, com a segunda.(Leandro Fortes)
---xxx---
Eu gostaria de ver os parlamentares, dirigentes e representantes de partidos de esquerda se manifestando contra a repressão militar e a favor da livre manifestação. Com exceção de alguns poucos, não vejo isso. Será que ao chegarem ao governo, se irmanam em um silencio obsequioso cúmplice dos agentes do Estado ofensor da liberdade? Por favor, não postem fotos de festas...postem a sua indignação, se e que tem alguma... (Daniel Godoy Junior)
---xxx---
Estupidez é palavra de diferentes sentidos. A polícia paulista quer adotar todos para caracterizar seu fracassado papel contra os protestos que perturbam o centro paulistano. 
Depois da estupidez dos tiros de balas de borracha e das bombas de gás lançadas a esmo contra os manifestantes, em enorme quantidade, vem o indiciamento por formação de quadrilha de dez detidos na terça-feira. Uma polícia que não distingue entre os que se valem de um momento caótico para fazer baderna, mesmo com vandalismo, e os que se organizam com a finalidade de ganhar pelo crime, não pode se impor nem a arruaceiros. 
É inacreditável que as polícias, não só as nossas, jamais pensem em ações mais simples diante de manifestações coletivas. Ou, ao menos, desprovidas de violência. Com a quantidade de policiais, carros e motos postos no centro de São Paulo terça-feira, é incrível que à PM não tenha ocorrido alguma coisa como um cerco à manifestação em determinadas quadras. Para depois estreitar o aperto, fora das ruas necessárias ao trânsito intenso. Em vez da tentativa de desmontar a manifestação a poder de gás e balas de borracha. 
Aqui ou fora, as manifestações são sempre as mesmas, com dificuldade de variação maior. E as polícias são sempre as mesmas na estupidez inútil da sua violência armada e da irracionalidade. Logo, os oportunistas estarão sempre prontos, entre os manifestantes, para entrar em ação. E quem lhes dá a oportunidade é sempre a polícia. As bombas de gás, os tiros, os cassetetes incitam as respostas desafiadoras: é a hora dos arruaceiros. (Janio de Freitas)
---xxx---
O Brasil em ebulição.
Quem disse que construir uma grande nação democrática seria fácil?
Conflitos, disputas, embates, verdades e mentiras... (Heriberto Pozzuto)
---xxx---
A quem interessa convulsionar o pais? Quando a policia militar parte pra porradaria, a ordem vem de quem? (Antonio Veronese)
---xxx---
Estado não pode torturar, bater ou barbarizar, como fez nos tempos da ditadura militar.
Jovens podem agir de forma irresponsável. O Estado, com o monopólio da violência, não.
Infelizmente, ontem vimos o Estado agir como um jovem irresponsável, disparando bombas, atacando jornalistas e barbarizando transeuntes.
Como na ditadura militar. Vimos, também, o oportunismo de petistas, tomados por uma amnésia profunda sobre os primórdios do próprio partido, nos anos de chumbo em que a mesma PM atuou para abortar o PT e os movimentos sociais.(Luiz Carlos Azenha)
---xxx---
Ah, como é fácil administrar uma cidade a partir da página do Facebook... (Rita Machado)
---xxx---
Difícil ter uma posição crítica a manifestações populares. Mas continuo em minha posição que elas só fortalecem a direita e confundem o eleitorado. Agora mesmo no O Globo Elio Gaspari escreve exatamente o que eu disse hoje neste espaço: que o confronto feito pela PM em São Paulo é deliberado e no blog Brasil247 já aparece uma charge colocando Alckmin e Haddad juntos reprimindo a manifestação. O confronto favorece Alcimin, pois é exatamente isto que seu eleitorado espera dele. Ao contrário, Haddad que não teve nem tempo de colocar nada em prática (está há 6 meses no governo) e que tem proposta clara de melhoria do transporte público, como colocou na campanha e como Marta fez quando governou, quando fizer será visto como alguém que cedeu às pressões e necessariamente sairá enfraquecido. A possibilidade de vencermos em São Paulo 2014, derrotando o PSDB depois de 20 anos no poder, está ameaçada. (Marcio Tenenbaum)
---xxx---
Estudantes na ruas
Os estudantes estão nas ruas não apenas contra o aumento das tarifas; 
Muito mais do que isso;
Indignação com os SUV’s que privatizam os espaços públicos;
Contra a precariedade da vida;
Contra a péssima qualidade dos serviços públicos;
Contra o autoritarismo do Estado;
Da “nova política” que continua “velha”(Cesar Sanson)
---xxx---
O bagulho é tão tenso que desde ontem tem uns malucos e malucas petistas cegos que continuam tentando descobrir um cérebro de código PSTUPSOLPSDBDEMREDEPIG por trás do movimento. Desce pra rua moçada. Descobrirão que o cérebro do movimento são os celulares e as redes sociais. Perdeu, malandro! Se atualize! (Antonio Celso Ferreira)
---xxx---
Penso que vai chegando a hora de trocar a briga entre defensores e críticos das manifestações pela análise do que está acontecendo por todo país. Conversando com alguns cientistas sociais agora à noite, ouvi opiniões intrigantes. Estou trabalhando no relato. (Eduardo Guimarães)

Um comentário:

Anônimo disse...

Toda manifestacao pacifica e legitima, na decada de 80 derrubamos um preesidente sem quebrar uma vitrine. Esses joves estao sendo usados como massa de manobra para outras intencoes que a propagada.