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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

117 anos de fundação do Movimento LGBTT

O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco cumprimenta os presentes nesta quermesse pelo conhecimento e convida todos quantos queiram aprender um pouco mais sobre o movimento LGBTT. 
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Texto de Walter Silva

A fundação do movimento pelos direitos civis LGBT ocorreu oficialmente no dia 14 ou 15 de Maio de 1897, na Alemanha por obra de Magnus Hirschfeld, idealizador do Comitê Científico Humanitário (Wissenschaftlich-humanitäres Komitee).
Quando Hirschfeld se mudou para Berlim em 1896 já existia uma comunidade gay, lésbica, bissexual e transgênero auto consciente e diversificada; ele observou que homossexuais foram atraídos para a grande cidade como mosquitos para o pântano. Nesse período de fim de século, não era incomum um jovem gay ou lésbica levar para sua casa o seu namorado ou namorada e seus pais aceitarem o relacionamento de ambos. Simon LeVay,em ”The Use and Abuse of Research into Homosexuality”, ressalva que havia uma sombra, entretanto, pairando sobre a comunidade sexo diversa em Berlim; o parágrafo 175, herança do antigo código prussiano.
O comitê científico humanitário tentou revogar o parágrafo 175 do código penal imperial, que criminalizava a homossexualidade com até seis meses de prisão, naquela que foi sua primeira atividade, submetendo uma petição em 1898, 1922 e 1925. Editava uma revista sobre sexualidade e gênero, publicava literatura política de emancipação, apoiava a defesa de acusados de ”coito anal” em julgamentos, fazendo campanha pela descriminalização em toda a Alemanha,Áustria e Holanda, além de engajar-se em pesquisas sobre travestilidade e transexualidade; em 1910 Magnus Hirschfeld escreveu uma monografia em dois volumes, intitulada ”Die Transvestiten”. O termo ”trans”, popularizado por ele, tem ajudado a descrever algumas das experiências transgênero. Ele foi o primeiro a distinguir entre identidade e expressão de gênero e orientação sexual (embora não usasse tais terminologias), e também observou que a expressão de gênero não correspondia sempre à orientação sexual; havia homens heterossexuais femininos, e homens homossexuais másculos.
Trabalhou junto à polícia de Berlim para reduzir as prisões de pessoas trans,acusadas de prostituição, e esteve envolvido nos primeiros estudos e experiências de redesignação genital. O filme mudo “Diferente dos outros”, produzido por Richard Oswald, em 1919, contou com a participação de Hirschfeld; esta película é a primeira a lidar abertamente com pessoas homossexuais. Hirschfeld aparece nela, intercedendo por meio de um apelo apaixonado contra a Seção 175 do código penal. O filme provocou um debate feroz na política e na mídia, e foi proibido em 1920. O médico judeu foi o primeiro a adotar uma visão não eurocêntrica e anti colonialista da cultura a partir de uma perspectiva sexológica; vivendo com duas identidades desprestigiadas (gay e judeu), partidário dos ideais socialistas, defensor da descriminalização do aborto, em sua época foi saudado no Ocidente como o ”Einstein do sexo” e no Oriente como o ”Vatsyayana moderno do Ocidente” (numa referência ao autor do Kama Sutra). Hirschfeld inaugurou em 1919 o Instituto de Ciência Sexual (Institut für Sexualwissenschaft) se antecipando em décadas ao Instituto Kinsey nos EUA.
O esforço dos pioneiros do ativismo no período de Weimar na Alemanha garantiu um relativo clima de liberdade e tolerância para pessoas LGBT; de acordo com alguns historiadores, o número de bares e publicações para o público gay na Berlim de 1920 ultrapassava Nova York seis décadas mais tarde. Uma subcultura desviante prosperava.
Os escritos de Hirschfeld abordam uma variedade de temas que vão desde a análise do impacto da morte de Oscar Wilde sobre homossexuais seus contemporâneos, até estudos a respeito de suicídios na comunidade gay, passando por questões como travestilidade, transexualidade e fetichismo. Em ”Die Homosexualität des Mannes und des Weibes” (1914), um livro de mil páginas que é um dos primeiros especializado na experiência de pessoas LGBTs, ele revela uma conspiração de silêncio em torno da homossexualidade; um testemunho dos efeitos do ódio sobre pessoas sexo diversas. O Comitê Científico Humanitário contava no auge com 500 membros e 25 delegações, quando foi atacado e dissolvido em 1933 pelos nazistas, a biblioteca e o imenso acervo de Magnus Hirschfeld incendiados pela Juventude Hitlerista; 20 mil volumes, 35 mil slides fotográficos e milhares de documentos pessoais arderam publicamente numa grande fogueira. Após intensa campanha política de demonização, o regime privou Hirschfeld da cidadania alemã em 1934; o médico e sexólogo judeu chegou a fraturar o crânio anteriormente num ataque. Enfim teve de exilar-se na França. No ano de 1935, as prisões de homossexuais e travestis passaram de 948 para 3700; imediatamente após a tomada do poder, nazistas invadiram e destruíram clubes, associações e organizações LGBTs.
O movimento LGBT enfrentou a opressão do nazismo, um inimigo poderoso, e foi esmagado por ele. Mas as sementes lançadas por Magnus Hirschfeld atravessaram o oceano e floresceram na América; infelizmente a mítica propaganda em torno dos motins de Stonewall obscureceu o arco íris original, e a glória dos pioneiros, e atualmente pensa-se que este é um movimento que surgiu do vácuo.

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