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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Carta de um nordestino para nós todos

Copiei do meu querido amigo Walter Silva

Eu fui para São Paulo com meus pais quando era criança, refazendo o caminho doloroso da migração, assim como milhares de outros, antes e depois.
Moramos poucos anos em um barraco próximo de um córrego sujo que inundava tudo durante as chuvas, chegando muito perto de nós. Nos dias de sol forte, meu pai molhava o teto de zinco, tentando diminuir o calor sufocante.
Lembro da grande metrópole vagamente, as imagens rasgadas e desbotadas, flutuando nas profundezas da mente, de vez em quando evocadas.
As montanhas cilíndricas de concreto, o céu cinza escuro, o chafariz na praça, o zoológico, o dia da feira com flores, pastéis e um suco de uva artificial vendido dentro de um bicho de plástico. E lembro dos tiros de madrugada.
Não era uma vida feliz, não era uma vida próspera, então meu pai decidiu voltar conosco.
Eu me lembro do retorno; ainda vejo as lágrimas de despedida da minha avó, lágrimas do último dia. Ela ficava lá, tinha emprego fixo.
Senti uma emoção estranha e doce naquele evento; tristeza e ansiedade, eu tinha oito anos?
Voltamos; eu enjoei e passei mal durante a viagem terrível de três dias de ônibus. Então chegamos.
Eu me lembro do lugar cercado de luz, do oceano de luz, do céu azul de turmalina, do rochedo orgulhoso e matuto. Eu me lembro da coroa serrana abraçando o povoado.
Eu me lembro da floração do ipê amarelo e roxo, e da canção de balir das cabras.
O ângelus das seis horas.
O vento do oeste trazendo o cheiro da tacaca. O povo dançando alegre nas festas sob as estrelas ou em pavilhões de folhas de palmeira.
Aqui eu passei fome, eu morri e renasci várias vezes.
Não existe nenhum lugar do mundo que eu queira maior amor.
Não existe nenhum lugar do mundo em que eu queira estar.

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