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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Poema

(Se bem me lembro, e não me lembro de porra nenhuma, devo ter cometido este poema lá pelos idos de 1975-1979)

Seu corpo, terra prometida, terra fértil:
na rua suja o anjo promete, eu prometo.

Na rua suja do meu verso o anjo se mostra,
voz aberta para o lixo organizado e ocidental.

O tempo apressa e a rua suja do meu tempo
se fecha para obras de recuperação.

Na causa limpa do meu pranto o vento caminha livre.
E o sangue se derrama na rua suja do meu medo.
Na rua suja dos meus vícios meu verso se assusta,
o meu passo apressa o tempo,

o meu tempo se vende, se veste de concreto a flor sintética,
e choram pelo passado esquecido na chuva.
Na chuva azul do meu pranto o esquecimento aquece o cimento morto.
O cimento sujo com meu sangue vai renascer menos duro, 

mais sentimento.
Na rua suja do meu tempo há o homem destruído.
Na rua suja do meu tempo há o templo construído 

e aberto para sua fé.
Há também o meu segredo.
Na rua suja pelo tempo, os pássaros se apressam e ganham o medo.
Mas, na memória dos seus beijos, nos cobertores dos seus braços,
no descanso do seu corpo, o tempo perde o sentido, e perde o jogo.
Na metade do meu tempo há o poema esquecido, há a lágrima.
Na mentira de quem feriu o poeta bêbado, 

o verso limpo e a água calma, há o cimento.
Na pequena porta se abrindo para o norte é mortal o dia.
Somos seres noturnos de vôos cegos e infinitos.

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