Nas estufas
Pássaros pipilam
E fazem seus cocozinhos
No canto adequado
Sinos bimbalham nas estufas
São lindos os sons dos sinos
E vicejam as teorias floridas
E as consignas descoladas
Tudo sob controle
Temperatura e umidade
Insolação e aeração
Em níveis sempre adequados
Não há erros nas estufas
Teorias e consignas
Estão sempre cheirosas
Limpas e apresentáveis
E revolucionárias
Logo ali adiante
Nas quebradas
Cimento sujo
Esgoto a céu aberto
Telhas quebradas
O vento uivando
O pó entrando
As teorias floridas
As consignas descoladas
Antes tão cheirosas
Empacam seus costados
Na aridez da realidade
Na sordidez da realidade
Na fedorenta realidade
Passam fome
A água é turva
Teoria e consignas
No mais das vezes
Morrem de espanto
Há quem aprenda
Com a sujeira dos erros
Com o fedor dos recuos
Com a aspereza da vida
E permita que as teorias perfeitas
E as consignas sedutoras
Sejam afinal contaminadas pela vida
Teorias devem ver-se assim
Ou deveriam ver-se assim
Há quem permita que teorias perfeitas
Sejam lambuzadas pela porra da vida
Mas há quem insista em viver
Debaixo de estufas
Eis-me aqui admitindo meus erros
Eis-me aqui vivo
Cabeça erguida
Eis-me aqui
Encarando olho no olho
Meus filhos e netos
Afinal não é muita coisa
Mas é o que tenho
Mas quem vive nas estufas
Terá sempre acolhida aqui em casa
Mesmo que não me queiram nas suas
Mesmo que não me queiram nas suas
Nenhum comentário:
Postar um comentário