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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Poesias dispensáveis, 1978: Senhora

Ventania senhora dos meus cabelos
hoje estrelas de junco 
e o verão não mais cabe em meu corpo
hoje estrelas de feno 
os faróis escondem o meu corpo
estrelas de feno de terra seca de água suja
estrelas de ferro 
de terra fértil 
de negros olhos grandes
estrelas de olhos 
senhora das estrelas
Estavas de branco senhora dos meus amores 
de brancos dedos de prata
Senhora dos meus dedos pegajosos
estavas de ares novos 
senhora dos meus sonhos pegajosos
arestas senhora dos meus olhos 
arestas perigosas
aranhas senhora anti-corpo olhos pegajosos
Senhora dos meus versos 
em teu corpo, teu corpo 
(minha velha estrada)
senhora dos meus ais 
doces de açúcar mascavo
doces dentes brancos
dentes teclas brancas de piano
Senhora 
os muros altos 
senhora dos meus atos 
e os gritos brancos 
senhora dos meus espaços 
e o meu sonho 
senhora do meu sono
E grandes beijos
senhora da minha boca
Senhora dos grandes olhos negros em festa
senhora da minha pele
Montanhas senhora das minhas naturezas
rios senhora das minhas águas
Minhas eternas luzes brancas
senhora dos meus domínios 
povo descalço grande rio pegajoso
Senhora dos meus vícios
dos meus dedos
dos meus horários
Senhora das minhas necessidades
das minhas idades
das letras do barro pegajoso
das lesmas das lentas mortes das lentes
Senhora das minhas luzes apagadas 
das chuvas de branco
senhora pacificada
Senhora dos meus sonhos 
imensos campos de trigos 
terras secas beijos beijos
Senhora dos meus intestinos 
mãe dos meus ventos 
irmã dos meus desertos
dos rios dos vales
senhora dos pedaços
Senhora dos relógios velhos aposentados
das notícias de sangue
senhora do meu sangue
Senhora das minhas pernas 
das minhas almas
Senhora das minhas armas brancas
dos meus fuzis
Senhora dos lençóis 
dos orgasmos 
luzes apagadas
Senhora dos fenóis
da minha interna química corporal
Senhora das máquinas
das tintas 
das fumaças 
das cores
dos vestidos verdes
Velhos vencidos
senhora dos vencidos branca senhora
senhora dos olhos da noite 
Senhora do drama do tango
do tango a média luz
dos semáforos
dos fósforos 
das varandas
Senhora dos retirantes
Senhora dos pés descalços 
do trigo 
de julho
das lãs
Senhora dos apressados
Senhora dos ares dos tempos dos templos
Senhora do meu espanto
eu te preciso com todos os meus erros de concordância
eu te preciso com todos os meus erros de inglês

(Cometido em 1978, se bem me lembro)

Um comentário:

Luis disse...

Onde andam os meus cabelos 1978?