Nas estufas, pássaros pipilam e fazem seus cocozinhos no canto adequado.
Sinos bimbalham nas estufas e são lindos os sons dos sinos.
E vicejam as teorias floridas e as consignas descoladas.
Tudo sob controle: temperatura e umidade, insolação e aeração, em níveis sempre adequados.
Não há erros nas estufas, teorias e consignas estão sempre cheirosas, limpas e apresentáveis, e como são revolucionárias!
Logo ali adiante, nas quebradas, cimento sujo, esgoto a céu aberto, telhas quebradas, o vento uivando, o pó entrando.
As teorias floridas e as consignas descoladas, antes tão cheirosas, empacam seus costados na aridez da realidade, na sordidez da realidade, na fedorenta realidade.
Passam fome as teorias floridas e as consignas descoladas, a água é turva e a comida é meio rala e, no mais da vezes, morrem de espanto.
Há quem aprenda com a sujeira dos erros, com o fedor dos recuos, com a aspereza da vida, e permita que as teorias perfeitas e as consignas sedutoras sejam, afinal, contaminadas pela vida.
Teorias devem ver-se assim, ou deveriam ver-se assim e há quem permita que teorias perfeitas sejam lambuzadas pela porra da vida.
Mas há quem insista em viver debaixo de estufas.
Eis-me aqui admitindo meus erros, eis-me aqui vivo, cabeça erguida, eis-me aqui encarando, olho no olho, meus filhos e netos.
Não é muita coisa minha modesta militância, mas é o que tenho, e os que vivem nas estufas terão sempre acolhida aqui em casa, mesmo que não me queiram nas suas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário