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Passava das 9 da noite dessa quinta-feira e, como acontece quando o
“Jornal Nacional” traz matérias importantes sobre temas políticos, a
redação da Globo em São Paulo parou para acompanhar nos monitores a
“reportagem” sobre o episódio das “bolinhas” na cabeça de Serra.
A imensa maioria dos jornalistas da Globo-SP (como costuma acontecer
em episódios assim) não tinha a menor idéia sobre o teor da reportagem,
que tinha sido editada no Rio, com um único objetivo: mostrar que Serra
fora, sim, agredido de forma violenta por um grupo de “petistas
furiosos” no bairro carioca de Campo Grande.
Na quarta-feira, Globo e Serra tinham sido lançados ao ridículo,
porque falaram numa agressão séria – enquanto Record e SBT mostraram que
o tucano fora atingido por uma singela bolinha de papel. Aqui,
no blog do Azenha. você compara as reportagens das três emissora na
quarta-feira. No twitter, Serra virou “Rojas”. Além de Record e
SBT, Globo e Serra tiveram o incômodo de ver o presidente Lula dizer
que Serra agira feito o Rojas (goleiro chileno que simulou ferimento
durante um jogo no Maracanã).
Ali Kamel não podia levar esse desaforo pra casa. Por isso, na
quinta-feira, preparou um “VT especial” – um exemplar típico do
jornalismo kameliano. Sete minutos no ar, para “provar” que a bolinha de
papel era só parte da história. Teria havido outra “agressão”. Faltou
só localizar o Lee Osvald de Campo Grande. O “JN” contorceu-se,
estrebuchou para provar a tese de Kamel e Serra. Os editores fizeram
todo o possível para cumprir a demanda kameliana. mas o telespectador
seguiu sem ver claramente o “outro objeto” que teria atingido o
tucano. Serra pode até ter sido atingido 2, 3, 4, 50 vezes. Só que a
imagem da Globo de Kamel não permite tirar essa conclusão.
Aliás, vários internautas (como Marcelo Zelic, em ótimo vídeo postado
aqui no Escrevinhador) mostraram que a sequência de imagens – quadro a
quadro – não evidencia a trajetória do “objeto” rumo à careca lustrosa
de Serra.
Mas Ali Kamel precisava comprovar sua tese. E foi buscar um velho conhecido (dele), o perito Ricardo Molina.
Quando o perito apresentou sua “tese” no ar, a imensa redação
da Globo de São Paulo – que acompanhava a “reportagem” em silêncio –
desmanchou-se num enorme uhhhhhhhhhhh! Mistura de vaia e suspiro
coletivo de incredulidade.
Boas fontes – que mantenho na Globo – contam-me que o constrangimento
foi tão grande que um dos chefes de redação da sucursal paulista
preferiu fechar a persiana do “aquário” (aquelas salas envidraçadas
típicas de grandes corporações) de onde acompanhou a reação dos
jornalistas. O chefe preferiu não ver.
A vaia dos jornalistas, contam-me, não
vinha só de eleitores da Dilma. Há muita gente que vota em Serra na
Globo, mas que sentiu vergonha diante do contorcionismo do “JN”, a
serviço de Serra e de Kamel.
Terminado o telejornal, os editores do “JN” em São Paulo recolheram
suas coisas, e abandonaram a redação em silêncio – cabisbaixos alguns
deles.
Sexta pela manhã, a operação kameliana ainda causava estragos na
Globo de São Paulo. Uma jornalista com muitos anos na casa dizia aos
colegas: “sinto vergonha de ser jornalista, sinto vergonha de trabalhar
aqui”.
Serra e Kamel não sentiram vergonha.
O Ornitorrinco pede a palavra para dizer que não se trata de mais uma eleição, meus caros. Antes fosse, eu preferia que fosse só mais uma porcaria de uma eleição. Eu não posso calar-me diante de tanta patifaria da chamada grande imprensa, e da campanha subterrânea mais sórdida que jamais vimos neste país.
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