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O Brasil derrota o Brasil.
Para delírio do Brasil
Por Luiz Carlos Azenha
A população brasileira vibra. “Forças de segurança” garantiram a vitória do Brasil contra… quem mesmo? O Brasil.
Finalmente, nossa gloriosa bandeira está hasteada em Iwo Jima.
A foto foi publicada no site do Sidney Rezende.
O discurso é grandiloquente: o território teria sido “libertado”, o
“momento simbólico entra para a história”, é a “atitude emblemática”.
Na cobertura dos acontecimentos do Rio de Janeiro só está faltando aquela vinheta “Brasil!” que a Globo usa na Copa do Mundo.
Em uma única edição do Jornal Nacional, dois populares apareceram falando na vitória do “bem”.
É a negação, pela força, de que o “mal” também somos nós, brasileiros.
Ou fomos invadidos por uma força estrangeira de traficantes? Seriam
seres extraterrestres os bandidos do Alemão? Seriam resultado de geração
espontânea?
Por trás do heroísmo do BOPE, dos blindados que sobem o morro com a
bandeirinha do Brasil tremulando, dos repórteres que usam coletes à
prova de bala, por trás de todo o circo há uma guerra do Brasil contra o
Brasil.
Os “ratos” que fogem pelo esgoto somos todos nós, brasileiros.
É nessa hora da “exceção” que reconhecemos o verdadeiro Brasil: o que
clama pelo fuzilamento, o que nega direitos básicos elementares para os
outros (inviolabilidade do domicílio, por exemplo), o que se concentra
em soluções de curto prazo, o que esconde a miséria quando vai receber
visita (o mais importante é ‘preparar o Rio’ para a Copa e as
Olimpíadas).
A maconha, a cocaína e as anfetaminas amplamente consumidas nas
festas e casas da classe média brasileira, afinal, aparecem lá por
“geração espontânea”, do mesmo jeito que os traficantes do Alemão e da
Vila Cruzeiro.
Como escreveu o Sakamoto, o Brasil perdoa o Brasil que usa métodos criminosos contra criminosos.
Como escreveu o Luiz Eduardo Soares, o Brasil busca as soluções fáceis, pirotécnicas, maniqueístas.
Para que tudo continue como está, eu acrescentaria. Para que o Brasil
continue gastando mais com juros do que com saúde, educação e salários.
Para que, assim que a farsa acabar, os “heróis” de hoje sejam
acusados de abalar as contas públicas, se continuarem a reivindicar a
aprovação da PEC 300, a que visa criar um piso salarial para os
policiais brasileiros.
Deveríamos ter vergonha de ter deixado as coisas chegarem onde
chegaram. Deveríamos ter a decência de não usar o patriotismo onde cabe a
vergonha.
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