Eu visito o Blog da Cidadania todos os dias
Imagine poder discutir o semi monopólio da Globo com o motorista de
taxi, com o porteiro do prédio, com a faxineira ou mesmo com um colega
de trabalho. Ou ouvir até de empresários que realmente não é aceitável
que um único grupo empresarial detenha metade da audiência da televisão
aberta e o segundo jornal e a segunda revista semanal de maior tiragem.
De domingo – quando cheguei a Buenos Aires – até agora, não ouvi uma
só pessoa responder que a “Ley de Medios” é um despropósito. A
sociedade argentina está convencida de que é preciso democratizar a
comunicação. E o que é melhor: as pessoas sabem o que é democratizar a
comunicação.
Claro que esse pode ser um fenômeno dos centros urbanos. Contudo,
tente, em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, em Curitiba, em Porto
Alegre, em Salvador ou em Recife, entre outros, discutir o oligopólio
das comunicações. A quase totalidade das pessoas não lhe dará atenção
por mais do que alguns segundos antes de mudar de assunto ou de inventar
uma desculpa para interromper a conversa.
Note-se que não me refiro aos politizados – sejam de direita ou de
esquerda, que, no Brasil, são raros. Refiro-me a essa maioria que pode
conversar por horas sobre futebol ou sobre novelas, mas que não tem
paciência de gastar cinco minutos com política.
O Brasil é uma ilha de alienação em meio a uma América Latina
significativamente politizada. Venho batendo nesta tecla há muito tempo
devido à minha atividade profissional, que me obriga a viajar pela
região.
O que estou vendo na Argentina é ainda mais interessante do que vi em
países como a Venezuela, por exemplo – país em que o mais humilde
cidadão é capaz de discutir a constituição do país e a política
partidária.
A grande diferença do Brasil continua sendo a nossa histórica bonomia
em relação ao jogo do poder e a nossa aversão a conflitos de qualquer
tipo, mesmo quando o conflito é inevitável e necessário.
Ciente da natureza de seu povo, Lula desperdiçou os últimos oito anos
no que diz respeito à democratização da comunicação. Apenas no fim de
seu segundo mandato é que ousou convocar uma conferência para discutir o
assunto. Mas acabou relativizando sua importância quando a mídia
começou com o mesmo trololó sobre “censura” que o grupo Clarín, aqui na
Argentina, recita para as paredes.
O discurso do PIG argentino sobre supostos ímpetos censores do
governo é exatamente o mesmo que o do PIG tupiniquim. Mas neste país é
um discurso já quase envergonhado e que está morrendo a cada dia.
O grupo Clarín, a bem da verdade, tem um monopólio ainda maior do que
o da Globo – alguma coisa perto de 80% do bolo da comunicação. Mas terá
que se desfazer desse império. Será pago condignamente pelo que vender,
mas não poderá manter o controle sobre tantas mídias e muito menos
conseguirá vender seus meios de comunicação para testas-de-ferro.
Os dois governos Kirchner conseguiram explicar perfeitamente à
sociedade os malefícios da concentração de meios de comunicação. A
sociedade quer a diversidade de opiniões e de opções. É irreversível.
Enquanto esse sonho dourado dos democratas se materializa por aqui,
no Brasil estamos completamente alheios ao que está acontecendo neste
país. Deveríamos estar discutindo intensamente o processo em curso na
Argentina. Ao menos na blogosfera. Mas a discussão ainda é insipiente.
Não estamos avançando nesse debate.
Diga, leitor, uma só proposta concreta para acabar com o oligopólio
nas comunicações no Brasil. Nem um órgão para normatizar as
comunicações conseguimos discutir nacionalmente. Globo, Folha, Estadão e
Veja conseguiram interditar o debate porque o governo teme meramente
tocar no assunto.
E o pior é que temos condições muito melhores para propor essa
discussão. Não temos os problemas que têm os argentinos na economia, por
exemplo, e o apoio popular ao governo brasileiro é muito maior do que
ao governo argentino.
Aliás, nada que seja polêmico nós conseguimos discutir. Os crimes da
ditadura, por exemplo. Os criminosos do regime militar argentino estão
sendo julgados e até presos. Enquanto isso, os criminosos que torturaram
e assassinaram pouco mais do que crianças durante a nossa ditadura
zombam de suas vítimas e ainda se dão ao desfrute de fazer ataques a
elas.
Os argentinos estão nos goleando sem parar no que diz respeito à democratização real de seu país. Que inveja.
Um comentário:
Este comentário foi publicado no post A coisa vai feder. Coloco-o aqui, por pertinente.
pedroso disse...
Por que entonces que los porteños viven de crise en crise ? Los porteños, son los argentinos de Buenos Aires y son muy individualistas, un tanto soberbios y arogantes. No tienen la virtud de organización, coesión y agregación que tiene el pueblo brasileño. La politización es relativa por que su esencia és perjudicada por el individualismo excesivo de la gente. En Brasil los avances se dan mas depasito, pero las conquistas populares se efectivan para siempre, no hay como retrocceder. Las vilas miserias en Argentina estan creciendo mucho, a cada año es mas grande y mas violenta. O seja, la concentración de la renta es mayor y por supuesto la "favelización" del país en las ciudades és una realidad. Lula es reconocido en toda latinoamerica por su capacidade de liderar y desarollar un pais continental y complexo en tan poco tiempo. Saludos y viva Lula da Silva.,.
1 de dezembro de 2010 18:19
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