Eu visito o Escrevinhador todos os dias
A presença de Dilma na festa (?!) da “Folha” foi o aspecto
mais comentado pelos internautas nas observações sobre o aniversário
de 90 anos do jornal. Eu estava em Buenos Aires, e lá a notícia foi
outra. Numa nota de pé de página, o jornal “La Nacion” trouxe, na
terça-feira, informação de que desconfiei a princípio: “Folha” admite que apoiou a ditadura.
Achei que os argentinos não tinham entendido direito o assunto, até
porque a nota fazia referência também ao fato de a Folha” chamar a
ditadura de “ditabranda”…
Mas leio no blog do Eduardo Guimarães que a “Folha” admitiu mesmo o apoio à ditadura.
Admitiu daquele jeito dela. Disse que apoiou o golpe (mas, veja bem,
quase toda grande imprensa apoiou)… Disse que carros do jornal “teriam”
sido usados por agentes da repressão (mas, veja bem, “a direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins”).
A “Folha” lembrou-me um pouco o Bill Clinton, ao ser perguntado se
tinha experimentado maconha na juventude: “sim, fumei, mas não traguei”.
Ou, pra ser mais escrachado, a “Folha” lembrou-me da frase do roqueiro
Lobão? que meus filhos adolescentes adoram citar: “peidei, mas não fui
eu”.
Melhor não dizer mais nada. Fiquem com a narrativa ”oficial” publicada pelo jornal.
A Folha apoiou o golpe militar de 1964, como
praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da
conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o “Estado”, mas
apoiou editorialmente a ditadura, limitando-se a veicular críticas raras
e pontuais.
Confrontado por manifestações de rua e pela deflagração de
guerrilhas urbanas, o regime endureceu ainda mais em dezembro de 1968,
com a decretação do AI-5. O jornal submeteu-se à censura, acatando as
proibições, ao contrário do que fizeram o “Estado”, a revista “Veja” e o
carioca “Jornal do Brasil”, que não aceitaram a imposição e enfrentaram
a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos
censores.
As tensões características dos chamados “anos de chumbo” marcaram
esta fase do Grupo Folha. A partir de 1969, a “Folha da Tarde”
alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes
que exaltavam as operações militares.
A entrega da Redação da “Folha da Tarde” a jornalistas
entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi
uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes
da ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella, um dos
‘terroristas’ mais procurados do país, morto em São Paulo no final de
1969.
Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou
assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio
da “Folha da Tarde” à repressão contra a luta armada.
Segundo relato depois divulgado por
militantes presos na época, caminhonetes de entrega do jornal teriam
sido usados por agentes da repressão, para acompanhar sob disfarce a
movimentação de guerrilheiros. A direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins.
Leia outros textos de Radar da Mídia
Nenhum comentário:
Postar um comentário