Li no Yahoo - On the Rocks
Reproduzo como homenagem às viuvinhas
sem-porvir e "cansadinhas".
Por Walter Hupsel | On The Rocks – qua, 28 de set de 2011
O ex-presidente
Lula recebeu o titulo de Doutor Honoris Causa pelo Instituto de Ciência
Política de Paris, a Sciences Po. Um titulo honorífico que é concedido
por instituições de ensino respeitadas àqueles que, de certa maneira,
fizeram algo que as instituições acreditem ser relevante.
E a Sciences Po julgou que Lula fez algo de relevante e mereceu o
título. Muita gente e instituições pelo mundo têm o mesmo julgamento.
"O cara", como já foi chamado, foi homenageado em dezenas de lugares ao
redor do mundo. Mas uma parte da imprensa brasileira não vê motivo. Eles
enxergam vários problemas do governo Lula e nenhum mérito (ok, para
esta parte da imprensa o grande "plus" de Lula foi não ter feito nada
exceto continuar as políticas do príncipe FHC).
Valorizar é, por definição, uma ação subjetiva e, como tal, pessoal e
intransferível. Se ela, esta parte da imprensa, não vê valores
positivos no governo Lula, mais do que normal. Entretanto, como bem
retratou o jornal argentino Página 12, a imprensa daqui se portou como escravocrata.
As perguntas que questionavam a escolha do ex-presidente do Brasil
para o título de Honoris Causa foram, no mínimo, rudes. Como alguém que
se orgulha da falta de educação formal pode ser Doutor Honoris Causa?
Como pode laurear alguém que chamou Kaddafi de "irmão"?
Além de mostrar total desconhecimento da homenagem (Honoris Causa é
honraria, oras, e não um título de mérito acadêmico), mostraram também
ignorância sobre política. Afagos, fotos, sorrisos para a câmera e
gentilezas, além é claro dos interesses, fazem parte da política interna
e externa. Chamamos isso de realpolitik (procurem por fotos do mesmo
Kaddafi com Clinton, Condoleeza Rice, Sarkozy e perceberão o tamanho da
ignorância da pergunta)
Eu vou além. Não foram apenas ignorantes e rudes. Foram também um
misto de arrogância e daquilo conhecido como "complexo de vira-lata". Uma repórter do Globo questionou do por quê escolherem Lula e não FHC.
Se os dados econômicos e sociais não falassem por si, e se a pergunta
não demonstrasse a escancarada preferência política da repórter, a
indagação do jornal ansiava por um endosso da Sciences Po ao príncipe da
sociologia e poliglota FHC, como se dissesse: este merece ser
homenageado por vocês, ter seu trabalho reconhecido, um grande
presidente, cultíssimo e que, como brasileiro, tem um pé na cozinha.
Questionava, portanto, aquilo que é subjetivo e, ao mesmo tempo,
pediam um carimbo parisiense de "aprovado" ao ex-presidente-sociólogo,
afinal o que é gringo é sempre melhor que o que é nacional, tupiniquim.
Um pé na cozinha não foi suficiente para a laurear FHC. Não foi a
honraria concedida a Lula pelo seu governo que incomodou tanto, foram
seus dois pés de Lula no cômodo dos fundos.
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