Copiei de Africas
Ou um diálogo com os heterossexuais não-homofóbicos
Há uma singular correspondência entre o presente que os evangéligos
fundamentalistas pretendem dar à comunidade LGBT no dia do Orgulho Gay
e o assassinato do jovem José Leonardo no município de Camaçari, Região
Metropolitana de Salvador, no último domingo 24 de junho. Enquanto os
deputados fundamentalistas querem submeter a autonomia do Conselho de
Psicologia aos seus dogmas religiosos, para permitir a cura da
homossexualidade, eles espalham conscientemente um discurso do ódio, com
a conivência tácita de parcela expressiva das bancadas progressistas.
E, como todo discurso do ódio, não podem controlar as consequências.
José Leonardo morreu após receber várias pedradas. O irmão José
Leandro dele teve a face afundada. Trata-se de um típico crime de ódio,
motivado e justificado por um discurso do ódio, nesse caso contra
pessoas supostamente gays. Elementar entender quais signos foram
associados aos jovens para “definir” que eram, na opinião do grupo
agressor, um casal gay. Eles estavam demonstrando afeto, andando
abraçados.
É um comportamento comum entre irmãos, pais e filhos e amigos, gays
ou heterossexuais. Essa não é a primeira notícia de agressão contra
parentes confundidos com casais gays. Em julho do ano passado, um homem
teve parte da orelha decepada por uma dentada após ser agredido por um
grupo de homens que, aparentemente, confundiram o afeto com seu filho
com uma relação homossexual. À época, a vítima pergunta se um paí não
podia abraçar seu filho. O novo caso ocorrido na Bahia ajuda a
responder.
De lá para cá, outros casos de agressões ocorreram contra pessoas
que reivindicavam identidade heterossexual, sempre legitimidas por uma
suposta “confusão”. Eles apontam para algumas questões. Primeiro: o
discurso do ódio tem aumentado as agressões morais e físicas contra
pessoas gays, travestis, transexuais e lésbicas. Segundo: o mesmo
discurso também oferece legitimidade social para práticas covardes de
agressão que atingem, também, a pessoas heterossexuais. Terceiro: o
discurso gera medo e obriga as pessoas a escolherem entre aqueles que
agridem ou aqueles que são agredidos. Quarto: as novas práticas geram
subjetividades que alteram o comportamento social, em direção à uma
sociedade mais hostil, fragmentada e violenta.
É bastante interessante notar que os deputados e senadores
evangélicos legimitam o ódio para, supostamente, defender as famílias em
seu discurso. Ou seja, o amor deles se demonstra com ódio aos demais. O
que o fundamentalismo evangélico tem a dizer à família das vítimas? Que
amor cristão é esse, que não pode ser demonstrado publicamente? Quando
acreditamos que existem formas de amor legítimas e outras não, é preciso
definir a linha de separação entre as duas. Nessa separação, o que é
“legítimo” também perde, tendo de se submeter diante do imperativo de
controlar e excluir o “ilegítimo”. Toda a discriminação gera perdas para
a sociedade como um todo, e não apenas para os grupos submetidos a ela.
Não é à toa que os deputados evangélicos querem promover a
heterossexualidade condenando a homossexualidade. Também não é à toa que
os homofóbicos que agridem lésbicas, travestis e gays precisem
reafirmar seu “heterossexualismo”. O problema do qual somos vítimas é,
na verdade, um problema do agressor. Os homofóbicos odeiam porque não
têm amor alguma para defender.
A Rede Afro LGBT lamenta a morte do jovem José Leonardo e se
solidariza com seu irmão gêmeo José Leandro, com sua esposa e filho
ainda não-nascido, e sua família em Pernambuco. Esperamos que esse caso
ajude os heterossexuais a perceberem a importância de rejeitar a
discriminação mesmo quando legitimada por um discurso de “amor”.
O Dia do Orgulho Gay jamais foi uma data para comemorar: 28 de
junho é um marco da organização política de LGBT na luta por igualdade
na diferença. Não queremos promover uma auto-segregação, mas partimos de
uma resistência à exclusão imposta a nós. Na direção oposta, nossa luta
é um diálogo com a heterossexualidade, no sentido de demonstrar que não
há nada de anormal que necessite ser curado ou exterminado em qualquer
expressão sexual. Nós sempre soubemos que a homofobia, na verdade, era
um problema de toda a sociedade.
Quando a bancada evangélica usa o Congresso para reafirmar
discursos obsoletos de cura das homossexualidadas a favor das
heterossexualidades, a realidade demonstra que gays e heterossexuais
precisam se unir para curar a homofobia.
TODAS E TODOS PELA CRIMINAÇÃO DA HOMOFOBIA!
APROVAÇÃO DO PLC 122 JÁ!
Rede Nacional de Negras e Negros Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
Coordenação Nacional
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