SOBRE O BLOGUEIRO

Minha foto
Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A homofobia nas escolas públicas e a teoria dos dois corpos do gay

Copiei este texto instigante de Evolução LGBTT

Dou aula numa escola pública do Rio de Janeiro há algum tempo. Uma coisa que sempre me surpreendeu nas escolas públicas é a quantidade de alunos gays e lésbicas ASSUMIDOS. Mas eles não são só assumidos. Eles são absolutamente inseridos na escola e absorvidos. Há até relatos de que rola uma meinha solta nos banheiros.
Durante muito tempo eu quase cometi o erro de dizer que não havia homofobia na escola pública.
No entanto, a despeito das aparências, é preciso analisar os fatos de forma mais aprofundada. Se é bem verdade que muitos gays estão em salas de aula bem integrados, NENHUM, ABSOLUTAMENTE NENHUM DESFILA COM O NAMORADO PELA ESCOLA.
Então, a história é um pouco mais diferente do que como eu pensava.
Para analisar o fim da homofobia, proponho uma teoria baseada no historiador Ernst Kantorowicz que dizia que os Reis na Europa tinha não um, mas DOIS CORPOS - o seu corpo natural ou material e o corpo místico, que era o imaginário esotérico-religioso construído sob a imagem real.
Analogamente, os gays também tem dois corpos - O INDIVIDUAL E O SOCIAL.
O corpo individual do gay é aquele que se relaciona com a sua existência individual. A aceitação do corpo individual do gay se dá quando ele - enquanto indivíduo - é aceito ou "tolerado" em certos espaços. Pode-se dizer que a aceitação desse corpo do gay é quando os heterossexuais fazem o "graaaaaande favor" de tolerar a presença ou a existência dos LGBTs.
Com relação à aceitação do corpo individual, muito já foi feito em nossa sociedade.
No entanto, DE FORMA ALGUMA ISSO SIGNIFICA O FIM DA HOMOFOBIA.
O corpo social é uma outra dimensão do gay. É aquela que o vê e o CONSIDERA enquanto um ser social merecedor dos mesmos direitos e deveres impostos a qualquer outro indivíduo da sociedade.
Já disse isso anteriormente, mas agora está estruturado na forma de uma teoria.
Muitos gays acham que seus pais não são homofóbicos por eles os terem "aceitado". Mas eles NUNCA foram com o companheiro na casa dos pais mesmo depois de ter feito o outing há 30 anos!
Muitos gays acham que a instituição religiosa que frequentam não é homofóbica porque elas toleram a presença dele - gay assumido - ali. Mas e se ele quiser se casar, o que aconteceria?
Assim, muitos acham que na escola pública não há homofobia. Mas e se um casal de meninos andasse de mãos dadas na escola, o que aconteceria?
Ainda hoje eu me faço essa pergunta. Espero que algum dia um aluno meu possa me responder. 
A aceitação do corpo social do gay é poder circular livremente com seu cônjuge nos espaços públicos, se ver representado positivamente nos meios de comunicação e ter o acesso ao casamento civil.
A definição e o entendimento da aceitação do corpo individual e do corpo social dos LGBTs é fundamental para uma boa compreensão do que é homofobia e de como anda a luta contra ela.
Às vezes eu penso que o corpo social é até mais importante do que o corpo individual.
Para mim, tolerar a minha presença enquanto indivíduo e dizer que me ama, É LIXO. A verdadeira inclusão está na aceitação dos dois corpos do gay - o individual e o social. Na verdade, acho até que se a inserção do corpo social estivesse resolvida, o fato de as pessoas vão tolerar ou não a minha presença enquanto indivíduo é TOTALMENTE IRRELEVANTE.
Prefiro que as pessoas aceitem os dois corpos me odiando, do que aceitando um só e tendo a pachorra de dizer que me ama.
O que vocês pensam sobre isso?

Um comentário:

Silvia/ Esmeraldas:Gestar II disse...

Você já percebeu que alguns desses jovens migram de escola em escola? Não têm sossego. São empurrados porta afora de nossas escolas públicas (não sei como são tratados nas escolas particulares).
Um aluno muito jovem, que ainda nem chegou à adolescência, reclamou comigo certo dia que a escola onde ele estuda não tem glamour nenhum. Que ele queria estudar em uma escola que tivesse um banheiro para cada aluno. Isso e muitas outras situações me levaram a repensar nas atitudes que temos em relação aos alunos desde cedo: filas de meninos e meninas, azul para os meninos e rosa para as meninas, e assim vamos inculcando nas crianças que não há outro caminho ou identidade possível.