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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Procrastinos, o deus de nosso tempo

Copiei do Urublues
Estatua inacabada de Procrastinos (sec IV aC, Jônia setentrional, a esquerda de quem vai para Mileto) 
Para Ricardo Castillo 
(que não é absolutamente 
devoto de Procrastinos...)

Ateus, agnósticos e outros incréus em geral, creiam neste pobre bagrinho: Procrastinos é o Deus de nosso tempo.
Um dos muitos e mal conhecidos deuses olímpicos, Procrastinos era filho de Cronos, o Tempo, e Réia, a Terra. Desde pequeno, Procrastinos era um deus muito cruel e amoral, o que lhe conferiu uma grande legião de seguidores, cujas origens nascem na Grécia Clássica e chegam a nosso tempo. Procrastinos, em lugar de fazer o que seu pai Cronos mandava, ficava pelas ruas do Olimpo fazendo nada, caçando formigas pra arrancar as cabeças ou matando passarinho com cetra (ou bodoque ou estilingue, dependendo da região da Grécia que estamos falando).
No entanto, houve um tempo em que Procrastinos se revoltou contra seu Destino, e tentou matar o Tempo. Cronos, seu pai colérico e vingativo, sentindo-se ameaçado pelo jovem deus, o atirou num imundo sofá cheio de ácaros e o condenou a assistir Sessão da Tarde até o fim dos tempos. Procrastinos só sobreviveu este castigo com grandes doses de Ovomaltine e bolachas negresco, que lhe eram dadas as escondidas pelas ninfas advertises. Vendo que o comportamento do deus não melhorava, Cronos ampliou o castigo, e o condenou a também assistir Malhação.
Esta existência cruel e tediosa não impediu, porém, que Procrastinos tivesse uma imensa legião de seguidores. Trata-se de um culto brando e cotidiano, exercido em silencio e devoção. De fato, o culto a Procrastinos não tem o voluntarismo do estridente culto das religiões monoteístas modernas. Apesar de ter alguns inegáveis pontos de contato, seu culto também não segue a linha das religiões orientais e seus ritos de silencio e paz interior.
O culto a Procrastinos é um culto do desassossego, da anti-paz de espirito. Seus adeptos estão sempre num grande estado de confusão mental, de desordem interior, procurando um vir-a-ser num futuro próximo e ao mesmo tempo distante, onde tudo terá uma solução mágica e misteriosa. Momentaneamente saciados, os adeptos do deus então se atiram num sofá reverencial, para assistir sabe-se lá o que na televisão, ou, em tempos mais recentes, no computador. Hoje, as Redes Sociais são um grande espaço de culto a Procrastinos.
Não existiam, na Grécia Antiga, muitos espaços para o culto a Procrastinos. O que se sabe é que, embora mais reverenciado que Zeus e muito mais amado que Apolo, os seguidores de Procrastinos não construíram nenhum tempo de culto digno de nota. Ao que parece, houve muitos projetos, mas poucos saíram do papel, dado o empenho dos fieis aos cultos de procrastinação (prokrastineia), como vieram a ser chamados. Algumas vezes, os cultos de Procratinos eram feitos juntamente com os cultos báquicos, desde que não exigissem muito esforço. A ênfase na produção de uva, o culto das videiras e o envase do vinho não eram entendidos pelos procrastinadores, como vieram a ser chamados os seguidores de Procrastinos.
Platão tinha uma visão bastante positiva de Procrastinos, e colocou no Timeu um dialogo com Flésias de Epidauro, onde havia um elogio da atividade dos procrastinadores, muitas vezes mal compreendido pelos platônicos mais diligentes. Já Aristóteles (sempre ele!) condenava o culto a Procrastinos, tendo escrito alguns parágrafos furibundos no terceiro volume de sua Física. No entanto, esta foi uma obra que, por influência de Procrastinos, o Estagirita não conseguiu terminar. Em Roma, os epicuristas viam com bastante simpatia o culto a Procrastinos, o qual, entretanto, era veementemente combatido pelos estoicos.
Já Santo Tomas de Aquino condenou com veemência o culto a Procrastinos, que se desenvolvia sem cessar por toda a Idade Media, mesmo após a morte do culto dos deuses clássicos. Em seu clássico “blasfêmia procrastinas vulgus in teolodiceam nostram" escrita em 1257 em Paris, o sábio e santo iniciou uma veemente  obra contra Procrastinos, a procrastinação e os procrastinadores. No entanto, por motivos que permanecem  um tanto obscuros até para os estudiosos da vida e da obra de S. Tomás, a obra infelizmente não foi concluída.

(este pequeno opúsculo sobre o grande deus Procrastinos deveria prosseguir em quinze volumes e dois tomos, com notas das edições grega, latina e árabe. Entretanto, isso exige muito esforço! Vou deixar a segunda parte, de mais três paginas pra amanhã, e continuo depois do almoço, assim que tomar um café. Eu juro!! Por Procrastinos!!)

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