SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Há quem diga que eu fugi da briga, que marquei bobeira e que Durango Kid quase me pegou

Em 20 de agosto às 21:39, muito modestamente como é praxe, tratei de Botar Meu Bloco na Rua, e postei no FB singela observação e, para minha surpresa, o pau quebrou.
Reproduzo os comentários que pontuaram o bom debate que os compas Leandro Nunes, Maerlio Barbosa, Anízio Garcez Homem, Serginho Athaíde, André Castelo Branco Machado e a companheira Sueli Moraes da Luz fizeram.

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Paulo Roberto Cequinel Tem gente que acredita que sindicato não pode negociar, que cada assembleia tem que ser uma sessão de denúncia do capitalismo. 
Em geral, e no mais das vezes, estão muito comodamente bem pagos pelas academias, com estabilidade no emprego e tudo mais.
O modesto cronista que vos fala, obviamente com meus companheiros de direção, organizou greves que pararam a produção da refinaria de Araucária.
O nome disso tudo é essa porra de vida real. 
Mas eu, ai de mim, não sou um intelectual orgânico.

Leandro Nunes "estão muito comodamente bem pagos pelas academias, com estabilidade no emprego"
Muito bem pagos para passar os dias copiando a cópia da cópia da cópia, e tentando disfarçar o plágio e a desonestidade intelectual ou caçando pelo em ovos. Resolver os problemas da sociedade? Acho que não entendem bem o que é isso.

Maerlio Barbosa Greve só sai quando ela é necessária e a direção consegue entender esse anseio e tem a responsabilidade transformá-lo em ação concreta de luta. E à vezes dá muito trabalho, como nos petroleiros, por exemplo, que para fazer greve trabalham dobrado, pois têm a responsabilidade de ir parando aos poucos para não estragar os equipamentos, desaquecendo as caldeiras, os equipamentos, limpando... Deixando tudo pronto para o retorno. Tem certas coisas que as academias do esquerdismo não ensinam. Esse pessoal adora vomitar teorias em assembleias de cansados trabalhadores em luta por melhoria de vida e trabalho dignos. Talvez apenas não tenham aprendido sobre humanidade.

Anizio Garcez Homem Cequinel, me permita: eu acho que toda a assembleia de trabalhadores tem que ser uma sessão de denúncia do capitalismo (adaptada às circunstâncias, obviamente), pois os sindicatos (ao menos os cutistas, e isso está lá na fundação da Central) lutam pelos interesses imediatos e históricos dos trabalhadores, o que portanto exige inocular, a partir de cada atitude exploradora, opressora, de assédio patronal, por mínima que seja, a ideia de que o sistema é antagônico aos interesses dos trabalhadores. Deixar de fazer isso é incorrer no sindicalismo de corporação, sindicalismo de resultados. Relacionar o programa mínimo ao programa máximo sempre foi uma tarefa a que se deram os socialistas, e que depois os social-democratas conciliacionistas transformaram em apenas falar do programa mínimo e deixar pra mais tarde, quem sabe um dia, tocar no assunto do programa máximo. Outra coisa: sindicato é sim pra negociar o preço da força de trabalho no sistema de assalariamento capitalista, mas sempre tendo como limite a defesa do conquistado e nunca aceitar retrocessos. Uma coisa é o patrão e a classe capitalista imporem retrocessos pela relação de forças de uma luta, outra é a direção do sindicato fazer um acordo em que estes retrocessos - muitas vezes sem qualquer luta - são aceitos pelas partes, isso não é negociar é outra coisa, que alguns chamam "negociação de perdas".

Serginho Athaíde Cequinel, Maerlio e Anísio, a vida concreta é sempre maior que o seu discurso, sua interpretação é sempre uma aproximação pobre, as vezes através de uma falação incompreensível para uma trabalhador ou trabalhadora. Isto fica muito claro no discurso acadêmico, poético e esquerdista do Anísio, um exemplo dado com propriedade aos que estão acompanhando esse post e comentários. As torres da academia e de certa poesia sofisticada não conseguem levar os acadêmicos e esquerdistas a luta concreta e nem subjetiva possível da classe trabalhadora, luta que os sindicalistas, mais próximos ou não muito da realidade do dia a dia dos trabalhadores e trabalhadoras, realizam como práxis concreta contra o capital, como Cequinel e Ceará fizeram no passado, mas que talvez o Anísio nunca a tenha feito um dia.

Anisio Garcez Homem Serginho Athayde eu nunca fui sindicalista, portanto, nunca tive um papel direto na direção de entidade sindical alguma e, portanto, não há como comparar minha intervenção sindical com a do Paulo Roberto Cequinel. No entanto, como militante socialista e dirigente político foi incontornável me preocupar por incontáveis vezes com problemas de orientação sindical, o que não me torna nem doutor e nem infalível em nada, mas tampouco autoriza você ou quem quer seja a dizer que não tenho nenhuma aproximação com os problemas sindicais. Aliás, eu não sei de onde você tirou esta ideia de práxis "concreta", que muito se parece com aquilo que você diz abominar que são certos exercícios intelectualóides de academia, que aliás, nada têm a ver comigo que nem diploma de terceiro grau tenho. Práxis, para um socialista (isso vem de Marx) sempre incluí a necessária dimensão teórica das coisas na ação, agora você acrescentou ao conceito de práxis um puxadinho que é essa coisa de "concreto" para livrar-se ou enfraquecer o lugar da necessária teoria. Sua finalidade é da dizer: só quem conhece das coisas é quem as pratica. Por exemplo, Marx conhecia mais sobre a classe operária na produção capitalista que todos os operários juntos a emprestar diariamente seus músculos à exploração patronal. Portanto, menos arrogância e desqualificação pessoal e mais atenção aos temas em debate.

Serginho Athaíde Anísio, não sou teórico, nem acadêmico e nem poeta, penso que a filosofia só é um instrumento útil e verdadeiro quando transforma a realidade. Você esta correto quando fala que é um absurdo falar em práxis concreta, só coloquei esta repetição para reforçar, o que não é um absurdo, da importância imperiosa da prática, da participação, da experiência na luta. Quanto a minha arrogância, nada a ver, mas quando leio sua colocação relativa a Marx, me desculpe, não é nenhuma desqualificação pessoal, mas entendo que você esta muito longe de Marx, não só como teórico, mas como militante, pelo que andei lendo, o barbudo participou de movimentos.

Anisio Garcez Homem Serginho Athayde, em primeiro lugar me permita, infelizmente, ter de concordar com você de que estou muito longe de ser um Marx como teórico ou militante. Infelizmente para mim e para o movimento operário mundial nesta hora difícil de uma crise profunda do capitalismo mas na qual a maioria das direções políticas do proletariado abandonaram a perspectiva da luta socialista em prol da humanização do capital (algo cada dia menos explicável). Mas o fato de não ser uma espécie de Marx, não acho que isso invalide minhas críticas feitas à postagem do Cequinel, sobre as quais você ainda não tratou. Me felicito por ter te convencido de que não existe este fenômeno chamado práxis concreta, pois o conceito de práxis inclui obrigatoriamente a prática junto à teoria. Para terminar, você acredita mesmo que em 37 anos de militância política eu não tenha participado de movimentos, greves, manifestações, campanha eleitoral? Eu poderia te apresentar aqui uma extensa lista de tudo que eu já participei, evocando inclusive, em alguns casos, o teu próprio testemunho, mas acho que isso é desnecessário entre nós. Feito os esclarecimentos, voltemos ao tema do sindicalismo.

Serginho Athaíde Anísio, vamos lá! Marx foi contemporâneo de Darwin e Wallace, isso não se pode negar, logo, muito menos que sua teoria econômica, política e ideológica tenha tido como um de seus pilares filosóficos a evolução. E o desconhecimento disso, me impressiona, porque me coloca a dúvida se não acharmos que os nossos velhos livros são bíblias, inquestionáveis e servem para todos os tempos. Estamos assistindo o emergir de uma sociedade pós-humana, vivemos no furacão de uma crise civilizatória em que assistimos valores e conceitos serem desconstruídos da noite pro dia, numa época diabólica em que o conhecimento científico e o avanço tecnológico caminham na velocidade da luz e desencadeiam transformações nas forças produtivas, na produção, na cultura, etc., ou seja, mágicos tempos em que tudo que é sólido se desmancha no ar. Sem nenhuma certeza, acredito que diante dessa realidade caótica o capital se desespera a nível mundial, não entende o que acontece e não controla, por isso, parte para uma busca cega e desvairada pela implantação do retrocesso e conservadorismo político pelos quatro cantos do globo, tenta impedir que seja atropelado pela revoluções que, não tenho nenhuma dúvidas, estão acontecendo. Logicamente, não conseguimos percebe-las, o marxismo ajuda, mas não para compreende-las ampla e profundamente essa realidade. Por isso, pra mim, o buraco é mais embaixo, a esquerda ainda navega no século passado, não entende que a hegemonia não é mais da classe operária, que já estamos vivendo a revolução digital, ou seja, já caminhamos além da era industrial, que a história esta sendo construída de outra maneira. Todos nós da esquerda deveríamos ter a humildade de perceber que os velhos livros, todos, nos transformam em mortos vivos, deformados por uma profunda alienação e cegueira, principalmente quando a cada dia que passa nos tornamos mais operadores do que pensadores, mas tudo bem, no final tudo é uma máquina, não é mesmo Anísio, ou perdôe-me de não ter ficado nos limites da crítica do Cequinel.

André Castelo Branco Machado Eu já fiz algumas greves, inclusive já ajudei a fazer piquete na refinaria. Já combati o sindicalista pseudo radical, desses que se recusam a negociar, pois pensam que qualquer avanço ou conquista representará uma adaptação do trabalhador ao patrão; e também o sindicalista reacionário, que diz não existir luta de classes ou não aceita "misturar" política nas greves. Tanto um quanto o outro desmobilizam a luta dos trabalhadores. É preciso sempre ter a luta por reivindicações específicas combinadas com denúncias da perversidade do capitalismo, a partir da vida do trabalhador.

Sueli Moraes da Luz Me senti, lendo tudo, em um debate fervoroso, instrutivo, e de formação sindical política de fato. Aprendi mais sobre o sindicalismo e os sindicalistas nestes posts do que vários anos que trabalhei em vários sindicatos. Mas, companheiros, a luta sindical pode e deve ser a mesma entre nós, os socialistas, mas a categoria difere muito. Trabalhei nos Petroleiros, nos Metalúrgicos, e no SIMTAEMA (Sabesp) e CUT, todos de SP, e alem de ver diferenças entre as categorias ainda vejo diferenças regionais. E pra falar a verdade, somente o sindicalista sabe a dor de o ser.

2 comentários:

Unknown disse...

Não bebi, ainda, meu caro Cequinel, mais tarde talvez um copo de cerveja seja bem vindo, pois por mais elegante que possa achar, a taça de vinho não me apetece.
Nossa! Meu nome e postagem num blog, e o melhor, no Ornitorrinco?
Também sou da velha guarda e que bom que hoje temos estes aparelhinhos que nos consome a maioria do tempo em que devíamos estar na rua,mas que tenho saudades do velho TELEX que me tomava a atenção toda nas noites das greves dos Petroleiros isso tenho.

PAULO R. CEQUINEL disse...

Sim, querida Sueli, lembro de subir no trio elétrico e começar a desenrolar o telex, para informar aos compas o famoso quadro nacional. Parecia um papiro sem fim.