ER, notório petroleiro e sindicalista do bando de aparelhadores, vivia sozinho até que, num belo
e ensolarado dia, lembrando da sua infância em Ribeirão das Onças, decidiu que
sua vidinha seria melhor se ele tivesse um animalzinho de estimação como
companhia.
Assim, foi até uma pet shop muito chique e anunciou que queria
um bichinho bem bonitinho, mas que fosse incomum. Os caras da loja estranharam
aquilo tudo, a angústia, eu preciso de um bichinho, oh, eu estou tão
solitariamente solitário, oh, a merda do Paraná Clube permanece na segundona,
oh, isso e aquilo, oh, aquilo e isso, mas, depois de algum tempo, o veterinário
e o psicólogo de cães – a loja era muito chique, eu avisei – chegaram à
conclusão que o animalzinho mais adequado deveria ser um ornitorrinco-de-blog-sujo,
macho, já desmamado e vacinado, e com certo grau de independência.
Ocorre que este ornitorrinco específico é especialmente difícil
de ser encontrado, já que vive apenas em determinado blog de Antonina, sempre
protegido por seu ciumento proprietário.
Pois ligaram para o sujeito e contaram a história toda, que o pobre
e solitário petroleiro realmente precisava daquele animalzinho, e cousa e
lousa, e ofereceram uma grana lascada e garantiram que o bicho seria muito bem
tratado já que ER é um destes sindicalistas aparelhadores da Petrobras, mas não
teve jeito, o dono da porra do blog de Antonina não se comoveu com aquela
viadagem toda e mandou aquela tropa de gente inconveniente procurar centopéias
pernetas e a plantar coquinhos-de-prepúcio-inchado, mas que o deixassem em paz.
Uma das duas luzes que ER possui acendeu em júbilo, sim, uma
centopéia perneta é realmente incomum, eu quero uma centopéia perneta, eu quero
é uma centopéia perneta, e isso e aquilo, e coisa e lousa, e chora pra cá, e se
descabela pra lá, eu quero uma centopéia perneta, albina, e que tenha votado no
patife do serra, eu quero, eu quero.
Para encurtar a história e não esgotar a paciência de nossos
internautas, encontraram, meus caros, uma centopéia albina e que votou no
serra, mas, infelizmente, ela não era perneta. O máximo que conseguiram foi uma
com problemas em 35 joelhos direitos, 12 músculos adutores de coxas esquerdas e
56 joelhos esquerdos precisando de uma cirurgiazinha, de modo que o tal
bichinho andava mancando de forma malemolente e graciosa, parecendo um
militante do partido verde diante de uma acácia-cacetuda-roxa derrubada pelo
petismo cortador de árvores. ER, com cara de muxoxo e fazendo a maior barda,
aceitou receber o animalzinho, e com o passar dos dias foi se afeiçoando.
Um dia, ER resolveu fazer uma surpresa para sua centopéia
albina, manca e que votou no serra, e convidou-a para tomar um vinho tinto seco
de uvas tempranillo, e falou com o bichinho, que aliás vivia numa bela caixa de
plástico transparente, com dois quartos, banheiro social e play-ground, e fez o
convite em voz alta.
Como não viu nenhuma reação, ER perguntou de novo, e de novo,
até que abriu a portinhola e perguntou, bem pertinho do centopéia, e falando em
voz bem alta: VOCÊ QUER TOMAR UM VINHOTE TEMPRANILLO COMIGO NO BAR DA ESQUINA?
E ela, com cara de enfado, respondeu: QUIOSPARIU, NÃO PRECISA
GRITAR, EU ADORARIA TOMAR ESSA PORRA DESSE VINHO COM VOCÊ, QUERIDO ER, MAS O
MÉDICO PRESCREVEU-ME UMA POMADA COM CORTICÓIDES E NÃO POSSO TOMAR NADA QUE
TENHA ÁLCOOL. E ALÉM DO MAIS, DESDE QUE CHEGUEI AQUI VOCÊ JAMAIS COMPROU AS
PORRAS DOS SAPATOS E TÊNIS QUE EU PRECISO, E NÃO IRIA TOMAR UM VINHOTE TEMPRANILLO
DE CHINELO VAGABUNDO, MEU PREZADO.
Hoje, ER abandonou a cidade e vive recluso em Ribeirão das
Onças, Norte Pioneiro, criando uma espécie de caramujo do banhado, os
alfarrábios-de-penacho-esticado. Sem sucesso, diga-se de passagem. Pobre do meu
compadre.
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