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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sábado, 27 de novembro de 2010

Rankor, o rancoroso vermelho. A saga de um sujeito rancoroso mesmo depois de ganhar as eleições e de aplicar uma sova na direita esverdeada


Você pode e deve visitar o
Blog do Reginaldo Gouvea
todos os dias.
É difícil, mas necessário.
Sacrifícios que devemos
todos cumprir, entendem?

De um lado, poucas coisas me comovem mais do que apelos à união, oh, vamos todos juntos, oh, precisamos nos unir, oh, o pau está comendo, oh, uma crise está instalada no Rio de Janeiro, oh, Antonina, Paraná, Brasil está, se não nos unirmos, à beira da completa dominação pelo narcotráfico, oh, só jesus salva e cousa e lousa, ai, que medo, ai, estou com o fiofó na mão.

Poucas coisas, entretanto, me causam mais ânsias e crises de vômito, exceto talvez suflê de chuchu e proteína texturizada de soja, que me deram ontem no almoço. Sonia e Jean, mulher e filho, me fizeram essa inominável sacanagem. E riram, os dois, quando eu comia aquela farofa estranha, sem perceber nada. Um horror, meus amigos, um horror vegetariano.    

Quem pode ser contra os apelos desesperados de Reginaldo, o Gouvea, assustado com as imagens que vê no jornal nacional sobre o Rio de Janeiro, e que imagina que Antonina está hoje quase a mercê das Farc? Quem pode ser contra os apelos sobre a necessidade de nos unirmos todos para combater o narcotráfico, mesmo que isso custe algum derramamento de sangue, que ele considera inevitável, porque isso está escrito nos tais Anais, como ele afirma?

Pai e avô, tenho medo que as drogas alcancem meu filhos e netos e quero que traficantes sejam presos, processados  condenados e, como é lindamente apropriado, adoro unidade, amo união e estamos todos juntos, oh, estamos irmanados e porcarias assemelhadas.

Quando penso nisso, lágrimas escorrem em meu rosto vincado pelo sol, pelo sal, pelas lutas todas, e pelas porras das contas a serem pagas nas porras de cada final de mês.

Ocorre que a vida, ela mesma, a porra da vida, meus caros, mostra-nos que não somos e nunca fomos, aliás e ainda bem, capazes de construir essa balela de pensamento único, de única direção, de isso e aquilo. Ainda bem, repito e reafirmo.

Ainda bem que não consigo e nunca consegui construir unidade e união e ajuntamento com gente de direita, esse povo que é capaz de dizer que, para combater o narcotráfico algumas gotas de sangue serão derramadas, mesmo que de gente inocente. Os Anais, dizem e vociferam, provam que isso é inevitável.

Que porra de Anais são esses, Reginaldo? A Bíblia, o Secreto Programa de Governo do Serra, as Promessas Engomadinhas do Beto “Desconforto Psicológico” Richa? De que merda de Anais, meu filho, você está a falar? 

De qual sangue derramado você está falando, RG? Do seu sangue, do sangue da sua companheira, do sangue do seu filho? Do sangue do seu irmão, do sangue do filho do seu vizinho? Do meu sangue, do sangue dos meus filhos, do sangue dos meus netos?

Não, meu caro, o sangue que você considera inevitável e necessário derramar é, como sempre, o sangue de gente pobre, da periferia, das vilas, das favelas, dos morros, dos negrinhos e dos pobres de merda, sangue de gente que você nunca verá e que, no mais das vezes, é quem toma no rabo quando a classe média exige que aviões e porta-aviões, e tanques, e jatos voem e destruam tudo por lá, no Rio de Janeiro, longe daqui, mas que se vierem fazer por aqui as mesmas coisas, desde que não atirem em mim, no meu filho e na minha família, tudo bem, umas porras de gotas de sangue, segundo os Anais do Reginaldo, serão inevitavelmente derramadas.

Não, não tenho opinião formada, completa e sólida sobre os acontecimentos do Rio. Desconfio, entretanto, que a bandidagem está a responder a boas ações que têm sido implementadas, como as UPPs, as Unidades Policiais Pacificadoras, o que não significa, imagino aqui de Antonina, a solução das coisas todas.

Agora, não me venham com alarmismo de quem acredita no Jornal Nacional e é leitor de Veja, meus caros, não tentem transformar Antonina numa espécie de subúrbio do Rio de Janeiro ou coisa assim.

Sim, é certo que há responsabilidades de diferentes níveis de governo, inclusive do governo Lula, mas, pai e avô, não gostaria de ser um dos atingidos, não gostaria que meus filhos, meus netos, que as pessoas que me são caras e essenciais derramassem o sangue previsto nos anais desse sujeito, porque ele fala é do sangue derramado pelos outros, é óbvio.

Conheço o tipo, manjo o discurso, e vou ao banheiro para uma vomitada básica.

Por último, Reginaldo Gouvea, o que precisamente você sugere, quando vem com essa conversa cerca-lourenço, meu filho, de “Pessoas de bem da nossa cidade vamos acordar, vocês não podem ficar omissos as bandalheiras e mazelas que ocorrem em nosso município, lembre-se sempre "nós somos a MAIORIA."

Você pode ser mais claro? Você pode ser explicitamente claro? Você pode relacionar as tais bandalheiras e mazelas? Quem está a cometer bandalheiras e mazelas? O prefeito, o vice, eu, os vereadores, o juiz, o delegado, meu filho Jean, meu vizinho, algum blogueiro sujo ou limpo, quem, afinal de contas, RG, está a cometer bandalheiras?  

Que conversa é essa de “nós somos a maioria”? É uma ameaça, um alerta, um aviso, uma lembrança? Maioria? O que vocês ganharam, rapazes? Quando, onde? Que porra de maioria é essa? Que furdunço é esse, RG?  

Para que tudo fique claramente assentado: sou uma das pessoas de bem desta cidade, nem melhor nem pior que você, Reginaldo.

Mas quero conveniente e higiênica distância de quem considera que os anais justificam algumas gotas de sangue. 

No cú, pardal!

PAULO ROBERTO “RANKOR” CEQUINEL
THE “BIG MAJORITY” ORNITORRINCO COMPANY  

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