Eu visito Viomundo todos os dias
por João Antônio de Moraes*
Uma nova ordem mundial começa a alterar a geopolítica do petróleo e,
mais do que nunca, precisamos entender este processo e tratar o pré-sal
como uma riqueza extremamente estratégica. O acidente nuclear no Japão,
as mudanças políticas no Norte da África e no Oriente Médio e a visita
de Barack Obama ao Brasil são fatos correlatos que colocam em alerta os
movimentos sociais na defesa da nossa soberania energética.
O tsunami japonês varreu, pelo menos temporariamente, os planos de
expansão nuclear de dezenas de países que apostam nesta fonte de energia
como principal alternativa para reduzir a dependência de
hidrocarbonetos (óleo e gás natural). A tendência é que estes recursos
se tornem cada vez mais estratégicos para saciar a fome de energia do
planeta. Hoje os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) são
responsáveis por mais de 80% da matriz energética global. As estimativas
da Agência Internacional de Energia são de que o consumo de petróleo
continue aumentando em termos absolutos, ultrapassando nos próximos dez
anos a marca de 100 milhões de barris por dia.
Em função disso, já estamos assistindo à corrida das principais
nações em busca de novas fronteiras produtoras de petróleo e gás para
garantir suas necessidades de abastecimento. Não por acaso, o Brasil foi
o primeiro pouso de Barack Obama na América Latina. Por trás de sua
“cordial” visita, estão intenções nada amistosas. Os Estados Unidos são o
maior consumidor de petróleo do planeta (utilizam 25% da produção
global) e também o mais vulnerável em meio à onda de revoltas que assola
o Norte da África e o Oriente Médio, principal fonte abastecedora do
país.
Em troca de petróleo, o império norte-americano tem apoiado e
sustentado ditaduras e governos autoritários nestas regiões, intervindo
militarmente sempre que seus interesses são ameaçados. É o que está
acontecendo agora na Líbia, da mesma forma como aconteceu no Irã, no
Iraque e no Afeganistão. Mas as movimentações de peças no tabuleiro de
xadrez do mundo árabe levam os analistas políticos a acreditarem que uma
nova coalizão de forças colocará em xeque a posição confortável que os
Estados Unidos usufruíam no Oriente Médio até então.
Para que Washington diminua sua dependência da região, o Brasil é a
bola da vez. Com o pré-sal, nosso país será uma das maiores reservas de
petróleo do planeta e é de olho nesta riqueza que os Estados Unidos vêm
tentando fechar acordos e parcerias com o governo brasileiro e a
Petrobrás. A FUP e os movimentos sociais são contrários à tese de que o
pré-sal deve fazer do Brasil um grande exportador de petróleo. Queremos
que este estratégico recurso seja explorado de forma sustentável para
desenvolver toda a sua cadeia produtiva. Desde a construção de navios e
plataformas até a indústria petroquímica e plástica.
É desta forma que o país irá gerar emprego e renda e não exportando
petróleo cru para abastecer países ricos, como os Estados Unidos, que
durante décadas exploram e usufruem de recursos energéticos alheios para
sustentar seus absurdos níveis de consumo. O pré-sal, como disse a
presidenta Dilma, é o passaporte para que as gerações futuras tenham um
país desenvolvido, com oportunidades para todos. Mas isso só será
possível investindo na cadeia produtiva do petróleo aqui no Brasil,
fomentando a indústria nacional, gerando emprego e renda para milhões de
brasileiros.
* João Antônio de Moraes é coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros
O Ornitorrinco pede a palavra para dizer que lembro desse companheiro, ainda cheirando cueiros, lá pelos anos 90, época de duros embates contra a direita no movimento sindical petroleiro. Eu sempre disse que, se não o estragassem na capação, seria um baita quadro. Este texto e sua condição de coordenador nacional da nossa Federação provam que o capador era dos bons.
Um comentário:
Paulo, muito boa a matéria e todos sabem que Obama veio aqui por conta do nosso desenvolvimento econômico e energético. Não foi a toa que dezenas de empresários americanos ficaram aqui para se reunirem com a FIESP, enquanto o presidente voava para o Chile. Mas, todavia, contudo, não acredito na estagnação das usinas nucleares, pois o que aconteceu no Japão foi a somatória de dois fatores importantes:
1 - o sistema nuclear tinha 40 anos, portanto ultrapassado.
2 - E o terremoto de grandes proporções, isto é, jamais visto.
No Brasil vem mais angra, como em outros países, só que desta vez com maior segurança.
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