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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ficar velh@

 
A gente vem pela vida, desde criança, aprendendo e desaprendendo, apegando-se e abandonando coisas e pessoas, com um sentimento de eternidade, como se a vida estivesse ali para te servir, por séculos. Mesmo quando atingimos aquela idade em que as pessoas passam espontaneamente a nos chamar de senhor@s (no princípio é um choque), creditamos à boa educação que alguns pais ainda dão aos seus rebentos. Fazemos de tudo para permanecer  "pertencendo": dietas e plásticas, ginásticas e yôga, estudamos a história da arte e uma nova língua, mudamos de parceir@s e até prestamos vestibular e nos enfiamos no ambiente acadêmico para dar nossos pitacos e contar a história como ela realmente se passou. Nossas idéias, principalmente gente como eu, de esquerda, precisam ser defendidas com sangue, suor e lágrimas, para que nossos ídolos sejam preservados e cultuados. E participamos dos movimentos sociais e dos grandes acontecimentos do país e do mundo, virtual e real. Minha geração não deixa a peteca cair, um ditado da época do Getúlio, que a gente cita como se o tempo não tivesse passado. Então, um dia, você se abaixa para pegar um(a) neto(a) e não consegue mais se levantar. Fica feito uma múmia engessada por dias e às vezes meses. Foi só um mau jeito, você se convence, e volta a agitar suas bandeiras, até que percebe que existem furos na sua memória.Não sabe o que já fez, teima com outras pessoas porque "eu não disse isso". Não fui eu quem colocou o telefone na geladeira. Não fui eu quem queimou o feijão, o arroz, pôs fogo na casa de madeira. E alguém comenta que você está fazendo muita confusão, anda muito brav@, perde as estribeiras e desacata o gerente do banco. Que "se você não tivesse se oferecido para..." teria sido melhor, alguém faria direito aquela coisa e não teria dado tanto trabalho". Você chora, cai das nuvens, esperneia, porque o teu sentimento de eternidade está sendo posto em cheque. Afinal você decide encarar um espelho, coisa que não faz há alguns anos, e percebe as bochechas flácidas e o belo sorriso amarelado pelo tempo.O cabelo branco tingido teimando em se despentear, como uma Ofélia enlouquecida. A crueldade das crianças e jovens, a impaciência dos filhos e filhas, genros e noras, diante da surdez progressiva a (ou o) faz ter pena de si e julgar-se enfim uma coisa prestes a se extinguir. Mas o que fazer com o sentimento de eternidade, você que tem vários deuses e não acredita em nenhum deles? dentro de você aquela menina tímida, metida, topetuda, escritora de histórias inverossímeis e leitora ávida de tudo que lhe caiu às mãos ainda se agita. Não quer dizer adeus. Continua a se abaixar para cavar a terra com uma pazinha de brinquedo para plantar suas sementes em solo nem sempre fértil. Chora nos cantos e finge que não chorou quando lhe indagam da cor dos olhos, você que nunca fumou maconha e em quem ninguém acredita mais. Restam as aquarelas e os contos, ou qualquer coisa só sua,  coisas que você não mudou durante toda a sua vida, que @ definem para você mesm@. Porque a vida é assim mesmo, pra todo mundo.
(Sonia Fernandes do Nascimento)

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