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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sobre a violência cristã


(por sugestão de Luciano Cequinel)


Eu estou de fato impressionada. Agora que a pauta é direitos das mulheres, todo mundo que estava posando de "crítico" simplesmente COMPRA, sem questionar, a versão da Globo sobre o que rolou na Marcha das Vadias do Rio.

A versão da Globo é a de que "manifestantes mascarados quebraram estátuas de santas". Não sejam tolos. Não caiam nessa. Desconfiem. Essa percepção é totalmente distorcida. O que rolou foi uma performance artística, passível de diversas interpretações.

Ao comprar a versão da Globo, vocês estão desconsiderando:

1) a luta pelo direito das mulheres ao próprio corpo, na qual a Igreja Católica é inimiga, enquanto instituição;

2) as metáforas muito usadas em Marchas das Vadias, com a palavra "santa" ("Nem santa, nem puta" / "todas santas, todas putas");

3) a oposição central católica entre "ser santa" e "ser vadia/puta" e a condenação, com a palavra "vadia" ou "puta", das mulheres que exercem sua liberdade sexual e lutam para exercê-la sem serem castigadas ou criminalizadas por isso;

4) a indignação geral nas últimas semanas com o espaço dado (inclusive com dinheiro público) a uma única religião, que tem uma influência política enorme no Estado brasileiro desde sempre;

5) o fato de que a JMJ distribuiu panfletos e materiais de marketing para reforçar as pautas anti-liberdade das mulheres e de outras minorias durante toda sua duração;

6) o fato de que a Igreja Católica, enquanto instituição, promove ativamente políticas contras as mulheres e contras minorias sociais há muitos, muitos, muitos, muitos séculos;

7) o fato de que as mulheres são, sim, em nossa sociedade, uma minoria social (é tão difícil assim lembrar, poxa?), oprimidas por valores que são há tantos séculos bandeira dessa instituição.

Em suma, gente: por que vocês estão ignorando TODO o CONTEXTO em que a coisa ocorre e comprando acriticamente a ideia de que o absurdo é quebrar meia dúzia de estátuas? 

Absurdo, meus caros e minhas caras, é a Igreja Católica ter influência no Estado; promover ativamente campanhas contra direitos de minorias; promover o Estatuto do Nascituro; valorizar embriões em detrimento da vida das mulheres (lembram da menina de 13 anos em Pernambuco? já esqueceram? e da moça lá na Nicarágua?); impedir que a ciência avance pois possíveis embriões são mais importantes do que milhares de pessoas em busca de curas, tratamentos, melhorias de vida?

ISSO é absurdo.

Quebrar meia dúzia de estátuas que representam essa opressão milenar contra as mulheres não me parece nada absurdo.

(a não ser que você seja daqueles que acha "vandalismo" o pessoal da Maré quebrar um Caveirão; mas aí, chapa, eu me recuso a debater contigo)

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