Este modesto Ornitorrinco, tendo uma ou duas certezas e umas trezentas dúvidas, divide com seus quase 9 leitores diários este diálogo de altíssimo nível, meninos e meninas.
UM PROFÍCUO DIALOGO ENTRE PETISTAS
(porque apesar de tudo, neste partido, há ainda gente que gosta de dialogar sem medo de ser feliz)
Obrigada Carlos Abicalil e Breno Altman, pelas provocações e interlocuções.
ANDREA CALDAS: É serio que o Lula condenou o financiamento privado de campanhas? Só para esclarecer: isto não vale para a campanha da Dilma que, pelos números do TSE, arrecadou mais de 100 milhões.
Entendi certo?
CARLOS ABICALIL: Não acredito na ingenuidade nem em ignorância politica ou histórica para considerar abordagens pueris. A sociedade politica não cria a sociedade civil e um modelo de representação só rui por demanda civil. A posição de Lula e do PT sobre financiamento e coligacoes proporciomais tem muito mais de doze anos... Entramos em campo para o jogo e continuamos a batalha politica e civil pela mudança das regras na democracia representativa. Há grupos que não querem mudanças. Há outros partidos no jogo que desejam mudança. Não creio que qualquer destes seja mago. A personificação desses temas só atende a um personalismo na cena atual que ocupa temporariamente outra sigla.
A proposta de constituinte exclusiva foi apresentada pelo deputado Jose Genoino/PT e não prosperou no congresso. Talvez por carecer da mobilização social que agora pode eclodir. A candidata Dilma propos formalmente o debate ao congresso. Agora, há a chance real do movimento crescer como debate das bases sociais organizadas.
Não sera a magia, a indiferença ou a crença de que a estrutura do estado substitui a sociedade civil no enfrentamento das contradições que movem a história. Evidentemente, há quem aposte em outras vias. A clara manifestação de Lula e do PT sobre sua plataforma em plena campanha demonstra altivez frente aos financiadores que não abdicam de influenciar a politica.
ANDREA CALDAS: Assim espero. Não foi o que vimos no Congresso no recuo diante da Reforma Política chancelado pelo governo e por gente importante do PT. Mas sigamos! Só continuo não entendendo por que a candidatura Dilma é a recordista de arrecadação entre o Capital. Será que eles estao iludidos?
BRENO ALTMAN: Andrea Caldas, temos grandes concordâncias, mas dessa vez discordo. O fato de Dilma ser a campeã de arrecadação não é um distúrbio para a declaração de Lula ou para a luta pela reforma política. Ao contrário: revela que o PT ainda tem energias para reivindicar mudanças que, mesmo eventualmente o afetando a curto prazo, ajudam a radicalizar a democracia e aprofundar as mudanças. Até porque o grande nó do sistema atual não está no presidencialismo e sua forma eletiva, mas na maneira como são compostas as bancadas parlamentares, através do voto uninominal e do financiamento empresarial. No mais, por característica do sistema, qualquer que fosse o presidente, viria a ser o recordista de arrecadação, pois a lógica das doações por empresa, na disputa de cargos majoritários, tende a privilegiar quem já detém a direção dos governos.
ANDREA CALDEAS: Breno Altman, como disse, sigo torcendo. A pergunta é: por que não fizemos isto nos 12 anos? Resposta possível: porque não havia correlação de forças, por que o Congresso é conservador, etc, etc (digamos que aqui nesse pedaço não podemos deixar de mencionar a atuação protagonista de Vacarezza). Ou seja, se não mudarmos a correlação de forças isto não será possivel, de novo. Indago-lhe, se não fizemos isto no auge da popularidade de Lula e Dilma, quais os argumentos objetivos temos para convencer a geração de jovens, descrentes com a política (sou professora deles) de que agora vai! Com a campanha mais cara da história, com os tentáculos dos grupos econômicos cada vez mais enraizados, com acomodação de muitos candidatos e militantes à vida boa das campanhas caras e "profissionalizadas". De verdade, é uma duvida sincera, preciso de argumentos para seguir acreditando, que não podem ser baseados só na fé e esperança. Tenho este defeito de origem, de ser marxista e não teóloga. De toda forma, agradeço pela paciência e deferência da interlocução inteligente, que está cada vez mais rara neste nosso partido.
BRENO: Andrea Caldas, minha resposta, de tão simples, corre o risco de parecer patética: porque erramos. O PT errou, Lula errou, José Dirceu errou: em 2003 jogamos todas nossas energias no plano econômico e social, para construir uma ampla base de massa para nosso projeto de transformação, em um cenário de minoria parlamentar e de hegemonia burguesa. Achávamos, que esse era o caminho para conquistar maioria social. Foi, de fato, estratégia que trouxe maioria eleitoral presidencial, mas nos deixou aprisionados nas velhas instituições do Estado oligárquico e mercê dos poderes fáticos. Felizmente líderes petistas estão acordando dessa ilusão, desse taticismo. Isso não é uma boa notícia?
ANDREA CALDAS: Sim, aí concordamos, Breno Altman! Digamos que voce traz um bom argumento, honesto e inteligente. Só tenho medo dos compromissos assumidos nestes financiamentos. Mas, sim acredito que se mudarmos a forma de fazer a política, a começar por valorizar as instancias partidarias (e não os Institutos personalistas), se investirmos na autonomia dos movimentos sociais e não em sua mera cooptação, se avançarmos na democratização do Estado e não no nucleamento das políticas em torno do governo... Estamos juntos nesta batalha! Mais uma vez obrigada pela interlocução!
---xxx---
Copiei de Andrea Caldas
UM PROFÍCUO DIALOGO ENTRE PETISTAS
(porque apesar de tudo, neste partido, há ainda gente que gosta de dialogar sem medo de ser feliz)
Obrigada Carlos Abicalil e Breno Altman, pelas provocações e interlocuções.
ANDREA CALDAS: É serio que o Lula condenou o financiamento privado de campanhas? Só para esclarecer: isto não vale para a campanha da Dilma que, pelos números do TSE, arrecadou mais de 100 milhões.
Entendi certo?
CARLOS ABICALIL: Não acredito na ingenuidade nem em ignorância politica ou histórica para considerar abordagens pueris. A sociedade politica não cria a sociedade civil e um modelo de representação só rui por demanda civil. A posição de Lula e do PT sobre financiamento e coligacoes proporciomais tem muito mais de doze anos... Entramos em campo para o jogo e continuamos a batalha politica e civil pela mudança das regras na democracia representativa. Há grupos que não querem mudanças. Há outros partidos no jogo que desejam mudança. Não creio que qualquer destes seja mago. A personificação desses temas só atende a um personalismo na cena atual que ocupa temporariamente outra sigla.
A proposta de constituinte exclusiva foi apresentada pelo deputado Jose Genoino/PT e não prosperou no congresso. Talvez por carecer da mobilização social que agora pode eclodir. A candidata Dilma propos formalmente o debate ao congresso. Agora, há a chance real do movimento crescer como debate das bases sociais organizadas.
Não sera a magia, a indiferença ou a crença de que a estrutura do estado substitui a sociedade civil no enfrentamento das contradições que movem a história. Evidentemente, há quem aposte em outras vias. A clara manifestação de Lula e do PT sobre sua plataforma em plena campanha demonstra altivez frente aos financiadores que não abdicam de influenciar a politica.
ANDREA CALDAS: Assim espero. Não foi o que vimos no Congresso no recuo diante da Reforma Política chancelado pelo governo e por gente importante do PT. Mas sigamos! Só continuo não entendendo por que a candidatura Dilma é a recordista de arrecadação entre o Capital. Será que eles estao iludidos?
BRENO ALTMAN: Andrea Caldas, temos grandes concordâncias, mas dessa vez discordo. O fato de Dilma ser a campeã de arrecadação não é um distúrbio para a declaração de Lula ou para a luta pela reforma política. Ao contrário: revela que o PT ainda tem energias para reivindicar mudanças que, mesmo eventualmente o afetando a curto prazo, ajudam a radicalizar a democracia e aprofundar as mudanças. Até porque o grande nó do sistema atual não está no presidencialismo e sua forma eletiva, mas na maneira como são compostas as bancadas parlamentares, através do voto uninominal e do financiamento empresarial. No mais, por característica do sistema, qualquer que fosse o presidente, viria a ser o recordista de arrecadação, pois a lógica das doações por empresa, na disputa de cargos majoritários, tende a privilegiar quem já detém a direção dos governos.
ANDREA CALDEAS: Breno Altman, como disse, sigo torcendo. A pergunta é: por que não fizemos isto nos 12 anos? Resposta possível: porque não havia correlação de forças, por que o Congresso é conservador, etc, etc (digamos que aqui nesse pedaço não podemos deixar de mencionar a atuação protagonista de Vacarezza). Ou seja, se não mudarmos a correlação de forças isto não será possivel, de novo. Indago-lhe, se não fizemos isto no auge da popularidade de Lula e Dilma, quais os argumentos objetivos temos para convencer a geração de jovens, descrentes com a política (sou professora deles) de que agora vai! Com a campanha mais cara da história, com os tentáculos dos grupos econômicos cada vez mais enraizados, com acomodação de muitos candidatos e militantes à vida boa das campanhas caras e "profissionalizadas". De verdade, é uma duvida sincera, preciso de argumentos para seguir acreditando, que não podem ser baseados só na fé e esperança. Tenho este defeito de origem, de ser marxista e não teóloga. De toda forma, agradeço pela paciência e deferência da interlocução inteligente, que está cada vez mais rara neste nosso partido.
BRENO: Andrea Caldas, minha resposta, de tão simples, corre o risco de parecer patética: porque erramos. O PT errou, Lula errou, José Dirceu errou: em 2003 jogamos todas nossas energias no plano econômico e social, para construir uma ampla base de massa para nosso projeto de transformação, em um cenário de minoria parlamentar e de hegemonia burguesa. Achávamos, que esse era o caminho para conquistar maioria social. Foi, de fato, estratégia que trouxe maioria eleitoral presidencial, mas nos deixou aprisionados nas velhas instituições do Estado oligárquico e mercê dos poderes fáticos. Felizmente líderes petistas estão acordando dessa ilusão, desse taticismo. Isso não é uma boa notícia?
ANDREA CALDAS: Sim, aí concordamos, Breno Altman! Digamos que voce traz um bom argumento, honesto e inteligente. Só tenho medo dos compromissos assumidos nestes financiamentos. Mas, sim acredito que se mudarmos a forma de fazer a política, a começar por valorizar as instancias partidarias (e não os Institutos personalistas), se investirmos na autonomia dos movimentos sociais e não em sua mera cooptação, se avançarmos na democratização do Estado e não no nucleamento das políticas em torno do governo... Estamos juntos nesta batalha! Mais uma vez obrigada pela interlocução!
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