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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Nós ganhamos Bolsa-Família todo ano… Muito maior, e ninguém me xinga




Copiei do Tijolaço

Fernando Brito

Recebo um e-mail do Ângelo, um camarada que não vejo há uns 30 anos, mas que foi um dos envolvidos na primeira "manifestação subversiva" que vi e entendi, depois de uns "tios" estranhos que passaram uns dias lá por casa logo após o golpe de 64.

Ângelo, seus irmãos – filhos do velho Alberto, um homem admirável – e outros moleques se revoltaram quando os outros moradores de um conjunto de prédios modestos na Rua Cabuçu, no Lins de Vasconcelos, subúrbio do Rio, decidiram fazer muros em volta dos edifícios, separando a garotada que crescia junto e junto fazia suas traquinagens.

E picharam os muros novinhos: "vocês estão ficando ricos?" "Pensam que a gente é vaca para botar em curral?"

Pois o Ângelo, neste e-mail, chama-me a atenção para algo que nunca vi ninguém dizer, embora obvio.

Que nós, classe-média – e também os ricos – também ganhamos um bolsa família do Governo, bem maior que o dos pobres...

Pois não é que descontamos, por cada dependente, neste ano de 2014, exatos R$ 2.156,52 no imposto de renda, por ano?

Isso mesmo, R$ 179,71 mensais.

Esta lá, na tabela da Receita Federal.

Portanto, é dinheiro que a gente deixa de pagar de imposto e que se soma às nossas disponibilidades, como diz o Ângelo, para comprarmos o que quisermos, do feijão até bebidas e artigos supérfluos. Ninguém tem nada com isso e os R$ 179, 71 contam para cada filho, não importa se eu tenha um ou 18 bacuris.

Seria dinheiro do Governo e passa a ser meu, seu, nosso.

Mas os pobres do Bolsa-Família só levam R$ 35 por rebento, ou R$ 42, se forem adolescentes.

Com um máximo de cinco semoventes miúdos, aliás.

Somando com o benefício básico, de R$ 77, não dá nem R$ 300 reais por mês, ou mais um pouco, se tiver criança pequena, etc…

Menos do que eu descontaria com dois filhos, só.

Mas eu também ganhei – e muitos ganham – também o "Bolsa-Escola", porque podemos abater mais R$ 3.230,46 por ano com escola particular por cada filho, ou mais R$ 270 por filho estudando, sem limite de filhos.

Por filho, note bem.

Nem falamos no plano de saúde, aliás.

E aí, diz o Ângelo, eu posso beber umas e outras com essa grana que deixo de pagar de imposto, e ninguém tem nada com isso.

Ninguém nos xinga por isso.

Ninguém diz que a gente se enche de filhos para ficar com mais dinheiro, em vez de recolher impostos.

Ninguém nos chama de vagabundos, de inúteis, de parasitas.

Mas diz dos pobres.

Como pergunta o meu amigo de tempos "imemoriais": "Quer dizer que bolsa família pra bacana pode, pobre é que é vagabundo e não pode receber?"

Ângelo, você não se corrige, daqui a pouco vai querer pichar uns muros na Rua Cabuçu.

Se me chamar, eu vou com você.

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