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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

OS VERMES FELIZES

Copiei do indispensável Urublues

As chuvas estão cada vez mais intensas. Os temporais se avolumam, felizmente sem muito vento. Faz até um tempo mais fresco e agradável. No interior de Goiás, quando esse tempo começava, o pessoal dizia, com o acento característico: “invernô baum”.
O solo ainda não está encharcado, e as frutas “da água” começam a dar suas flores: nosso pé de acerola já começou a dar umas florzinhas tímidas e azuladas. Os passarinhos felizes saem a procurar alimento. Pardais vasculham a grama a procura de minhocas.
Os insetos zunem felizes com o calor e a umidade. Ficamos preocupados com os mosquitos: já houve um caso de chukungunha no bairro. Potes, vasos e utensílios domésticos devem ser virados pra baixo, pra não deixar a agua acumular.
De todos os animais do jardim, os mais felizes, entretanto, são os vermes da composteira. Cada vez que vou jogar alguma coisa por lá eu vejo que eles aumentaram em quantidade. Eles vivem numa superabundância. O calor, a umidade e a oferta contínua de alimento fazem vermes gordos e felizes. Restos de mangas e coisas moles e doces são as primeiras coisas a serem atacadas. É uma comilança feliz.
Estes dias, ao voltar da composteira, pensei nos projetos do governo golpista. O paralelo é claro. Estamos num momento em que tudo é feito com a maior desfaçatez. Milhões são aprovados em renúncias fiscais, em liberação de verbas parlamentares, em distribuição de cargos. Tudo em superabundância, como os vermes da composteira.
Nós, do outro lado, estamos em contenção de despesas, contingenciamento, penúria e escassez. Sem falar dos milhões de desempregados. A chuva e o calor ainda não chegaram.
Os vermes felizes e protegidos. Semana passada, ao tomar posse, o superintendente da Policia Federal fez um discurso obsceno sobre malas e provas. Mas ninguém prestou atenção. No máximo, umas figurinhas de “grr” no facebook.
Índios e pequenos posseiros continuam ameaçados por grileiros e capangas dos fazendeiros. Não há mais proteção, não há mais pudor. O sangue escorre dos grotões.
Nas cidades, pipocam aqui e ali os projetos da grife “Escola sem partido”. Com o discurso da moralidade, a censura ameaça as escolas e os professores. Só falta começar abertamente a caça às bruxas.
Faz calor, o mormaço se instala. O ar fica mais “pesado”, os insetos se agitam. O céu escurece. Vai chover. Os vermes, felizes, prosseguem sua faina de comer e comer e comer.
Parece que nada detém os vermes. As pessoas que diziam combater a corrupção estão felizes. O governo popular que os incomodava está por ora afastado. Os deputados e o presidente golpista estão perto de cercear a Policia Federal: uma mala cheia de dinheiro não prova nada.
Os tais dos meninos liberais estão assumindo sua cara de ogro e provando que o liberalismo brasileiro não é tão liberal assim. Os liberais de 64 aplaudiram a deposição de João Goulart, assim como os liberais da República Velha eram coronéis mandões e os do império não se opuseram a principio contra a escravidão. A perseguição moralista e censuradora que os jovens liberais fazem aos artistas e à liberdade artística está de acordo com as ideias autoritárias dos que querem a volta do autoritarismo militar. Tudo certo.
Os vermes continuam. A “suruba” dos vermes não para.
A primavera se desmancha em calor e umidade. Nuvens negras passeiam livremente pelo céu. Céu roxo, cinza chumbo, como diria o poeta. O pais assiste mudo à catástrofe que se aproxima.
Vamos permitir?
Os vermes – e só os vermes – estão felizes.

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