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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sobre Joaquim Barbosa para a presidência da República

Copiei do Com Texto Livre

Mais cedo ou mais tarde, JB tinha que 
entrar nos sonhos do Perfeito Idiota Brasileiro
        
Nosso Batman, aspas
Presidente Joaquim Barbosa.
Juro. Como eu gostaria de ver Joaquim Barbosa ceder à tentação e concorrer à presidência em 2014.
Teríamos uma real oportunidade de ver o quanto a voz rouca das ruas verdadeiramente admira o nosso Batman, aspas.
Era previsível que a candidatura de JB fosse ventilada e desejada pelo PIB, o Perfeito Idiota Brasileiro. Aos antigos heróis do PIB — Ali Kamel,  Reinaldo Azevedo, Jabor, Dora Kramer, Augusto Nunes, Merval Pereira, Ricardo Setti e semelhantes – somou-se agora, em seu uniforme de Batman e seu palavreado pernóstico, Joaquim Barbosa.
Uma breve pausa para risos.
Na falta de candidato forte, com o sepultamento das esperanças em Serra, ele próprio um PIB, o Perfeito Idiota Brasileiro se agarraria a qualquer esperança que aparecesse, como doentes terminais que correm a cirurgias mediúnicas na busca do milagre.
O que o PIB não percebe é que JB é um problema e não uma solução. Qualquer candidato que queira ser viável no Brasil contemporâneo tem que ser versado em justiça social.
Em todo o mundo civilizado, e o Brasil não é exceção, o maior desafio dos homens públicos é enfrentar a brutal concentração de renda ocorrida nas últimas décadas – e a abjeta iniquidade decorrente dela.
Romney perdeu de Obama, mesmo com os Estados Unidos numa crise econômica que em geral derruba presidentes em busca de segundo mandato, porque Obama explorou nele o símbolo da desigualdade americana, um magnata que despreza os pobres e paga impostos ridiculamente baixos.
François Hollande bateu Sarkozy também porque os franceses viram em Sarkozy o representante do 1% cada vez mais rico à custa dos 99%. Na Venezuela, Caprilles se apropriou dos programas sociais de Chávez, que ele desprezara antes como assistencialistas, e ainda assim foi derrotado por ampla margem porque Chávez vem tendo um enorme sucesso na redução da miséria venezuelana.
Na China, a troca de poder que está se fazendo agora depois de dez anos, como tem acontecido lá, a expressão mais utilizada é “justiça social”. O governo chinês entende que o maior desafio, para o futuro, é evitar que a sociedade se divida entre poucos ricos e muitos pobres, porque isso significa riscos para a coesão do país.
Na Inglaterra, hoje mesmo, os presidentes das filiais de três grandes multinacionais – Google, Starbucks e Amazon – estão explicando ao Parlamento por que suas empresas pagam tão pouco imposto. “É como se as multinacionais pagassem impostos voluntariamente”, disse um parlamentar.
Também por trás desse movimento (que se vai internacionalizando) de cerco a grandes corporações que fazem todos os truques possíveis para evitar impostos está a busca de justiça social.
Dentro deste mundo novo, a figura engalanada de Joaquim Barbosa surge absurdamente deslocada. É um heroi apenas para ele, o nosso PIB, o Perfeito Idiota Brasileiro.
Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Não abra sua janela, meu amigo: quem avisa, Ornitorrinco é!

Copiei a imagem de Ateus e Agnósticos do Brasil

 

... e 1.867 almeidinhas de merda, abanando exemplares de veja, e gritando em frenesi "abaixo as cotas", "Joaquim Barbosa para presidente", "a Venezuela é uma ditadura", "pela redução da maioridade penal", "querem implantar a ditadura gay", "o Brasil é uma porcaria" e outras merdas assemelhadas, isso sem falar de 278 duplas de sertanejo universitário, 56 cantoras de shortinho minúsculo, 4 participantes descerebrados do big brother, 78 bandas de gospel ungido gosmento, 6.789 pastores picaretas, 671 padres enganadores de boa estampa cantando o gospel gosmento da canção nova.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O casório da cabra

O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco cumprimenta os devotos presentes nesta quermesse em louvor de São Reinaldo Azevedo da Merda Anunciada e, estupefacto, divide com seus quase 9 leitores diários este brilhante texto a respeito de mais um cagalhão produzido pela Veja, esgotão midiático que vocês, almeidinhas de merda, encontram nos consultórios da vida.
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Copiei de 100 Homens

Eu criei um jeito de saber se devo ou não ler algumas coisas. Quando enxergo a palavra “homossexualismo” no meio do texto, passo batido. O mesmo acontece ao ver “Valerie Solanas” e “Scum Manifesto”. Recentemente incluí “Femen” nessa lista.
Porque, por mais que existam correntes diferentes na militância, ninguém que fala a sério desses assuntos sequer considera utilizar tais termos.
Só que hoje rolou um artigo assinado por J.R. Guzzo, publicado na revista Veja. O título? “Parada gay, cabra e espinafre”. Você com certeza está pensando “o que uma coisa tem a ver com a outra?”. Pois é. Nada, exceto na cabeça do articulista de Veja e de seu diretor de redação que deixou tal aberração ser publicada.
Acabei de ver o deputado Jean Wyllys dizer que fazer piada da Veja é inútil. Eu tendo a concordar na maioria dos casos, mas quando um texto atinge níveis absurdos de preconceito, simplesmente não dá para ficar quieta.
Uma coisa é quando a gente vê esses blogs com 0 comentários em cada postagem. Dá para ignorar. A Veja, por outro lado, é a revista mais lida do país, gostemos disso ou não. Segundo informação do site da Abril, a tiragem semanal da revista ultrapassa 1,2 milhão de exemplares. Cada revista é lida por, em média, oito leitores (porque fica em consultórios, salões de beleza, etc.)
São quase nove milhões de pessoas lendo; não dá para simplesmente ignorar.
Fingir que essa revista não tem importância é ser muito ingênuo ou muito burro. Tem, sim. Pode não ter diretamente na sua vida, mas a Veja é, sim, a revista mais importante do país.
Bom, isto posto, passemos à análise do texto publicado na edição dessa semana. Eu não vou copiá-lo inteiro; a @bruxaOD já o fez (e vocês encontram aqui). O artigo é todo ruim, mas algumas partes parecem saídas de uma obra de realismo fantástico. Uma obra ridícula, diga-se de passagem.
O *autor* começa assim: “Já deveria ter ficado para trás no Brasil a época em que ser homossexual era um problema.”. Eu não poderia concordar mais. Você até pensa que pode ser um texto positivo, apontando como ainda somos preconceituosos, como  a vida sexual do outro ainda nos  importa, etc, etc. Mas ele não poderia terminar nessa frase. Ele vai além.
Na segunda frase ele manda um “homossexualismo”, o que já seria motivo para eu deixar o texto de lado, como disse no início do post. Porém, Guzzo comete verdadeiras atrocidades:
Ainda agora, na eleição municipal de São Paulo, houve muito ruído em tomo do infeliz “kit gay” que o Ministério da Educação inventou e logo desinventou, tempos atrás, para sugerir aos estudantes que a atração afetiva por pessoas do mesmo sexo é a coisa mais natural do mundo.
Mas é, moço. É a coisa mais natural do mundo.
Mas aí é que está: apesar de sua aparente ineficácia como caça-votos, dizer que alguém é gay, ou apenas pró-gay, ainda é uma “acusação”.
Verdade. Não é louco isso? Chamar alguém de “gay” (ou mulherzinha, viadinho, bichona) É ofensivo. Em 2012.
Para a maioria das famílias brasileiras, ter filhos ou filhas gay é um desastre – não do tamanho que já foi, mas um drama do mesmo jeito.
E o seu texto, senhor Guzzo, será lido por incontáveis pais e mães por aí – eles continuarão morrendo de medo dos filhos um dia se assumirem homo ou bissexuais. Well done!
O kit gay, por exemplo, pretendia ser um convite à harmonia – mas acabou ficando com toda a cara de ser um incentivo ao homossexualismo, e só gerou reprovação.
(segure o vômito a cada vez que esse senhor usa a palavra “homossexualismo”.)
Gerou reprovação de quem? Quem achou que era um incentivo à homossexualidade? É um incentivo à aceitação da diversidade, o que é bem diferente.
O fato é que, de tanto insistirem que os homossexuais devem ser tratados como uma categoria diferente de cidadãos, merecedora de mais e mais direitos, ou como uma espécie ameaçada, a ser protegida por uma coleção cada vez maior de leis, os patronos da causa gay tropeçam frequentemente na lógica – e se afastam, com isso, do seu objetivo central.
Os gays lutam pelo quê? Pelo direito de não serem discriminados na rua. De se casarem legalmente. Isso é querer mais ou mais direitos? Esses direitos já não são garantidos a quem é hetero? Os gays não querem ter MAIS direitos; querem ter os MESMOS direitos.
E ele ainda arremata o parágrafo com um “estão se afastando do seu objetivo central”. Adoro essa gente que não conhece uma vírgula da militância e diz o que o OUTRO deve fazer. Só que não.
O primeiro problema sério quando se fala em “comunidade gay” é que a “comunidade gay” não existe – e também não existem, em consequência, o “movimento gay” ou suas “lideranças”. Como o restante da humanidade, os homossexuais, antes de qualquer outra coisa, são indivíduos.
Não estou falando? É ele quem sabe o que é a militância, minha gente! Que gênio!! Ah, guardem a frase do “os homossexuais, antes de qualquer coisa, são indivíduos”. Em breve ele irá se contradizer nisso.
Na verdade, a única coisa que têm em comum são suas preferências sexuais – mas isso não é suficiente para transformá-los num conjunto isolado na sociedade, da mesma forma como não vem ao caso falar em “comunidade heterossexual” para agrupar os indivíduos que preferem se unir a pessoas do sexo oposto.
Aqui o autor usa uma falsa simetria. Indico este texto do Tulio Vianna a respeito.
Outra tentativa de considerar os gays como um grupo de pessoas especiais é a postura de seus porta-vozes quanto ao problema da violência, imaginam-se mais vitimados pelo crime do que o resto da população. (…) Os homossexuais são vítimas de arrastões em prédios de apartamentos, sofrem sequestros-relâmpago, são assaltados nas ruas e podem ser mortos com um tiro na cabeça se fizerem o gesto errado na hora do assalto – exatamente como ocorre a cada dia com os heterossexuais; o drama real, para todos, está no fato de viverem no Brasil. E as agressões gratuitas praticadas contra gays? Não há o menor sinal de que a imensa maioria da população aprove, e muito menos cometa, esses crimes; são fruto exclusivo da ação de delinquentes, não da sociedade brasileira.
Risos eternos. É a mesma falácia de quem diz que não existe violência de gênero. Nem todos os crimes perpetrados contra mulheres, gays ou negros são por causa do machismo, homofobia ou racismo. Mas há crimes cometidos SÓ por causa disso.
Evidente que a “imensa maioria da população brasileira” não concorda com isso. Imaginem se 100 milhões de brasileiros cometessem crimes. De qualquer tipo. Pois é.
Qualquer artigo na imprensa que critique o homossexualismo é considerado “homofóbico”; insiste-se que sua publicação não deve ser protegida pela liberdade de expressão, pois “pregar o ódio é crime”. Mas se alguém diz que não gosta de gays, ou algo parecido, não está praticando crime algum – a lei, afinal, não obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais, ou de espinafre, ou de seja lá o que for. Na verdade, não obriga ninguém a gostar de ninguém; apenas exige que todos respeitem os direitos de todos.
Outra preguiça: quando levantam o discurso da “liberdade de expressão”. Sou super a favor de qualquer liberdade; no entanto, as pessoas devem ser responsabilizadas pelo que fazem ou dizem. O que se espera é isso: responsabilização.
E, nossa, o espinafre deve ficar realmente muito chateado quando alguém não gosta dele, né? Ops, espinafre não é gente? Hum. Aguarde que já já o autor coisifica DE NOVO os homossexuais.
Há mais prejuízo que lucro, também, nas campanhas contra preconceitos imaginários e por direitos duvidosos. Homossexuais se consideram discriminados, por exemplo, por não poder doar sangue. Mas a doação de sangue não é um direito ilimitado – também são proibidas de doar pessoas com mais de 65 anos ou que tenham uma história clínica de diabetes, hepatite ou cardiopatias.
Eu também não posso doar sangue, pois sou tatuada e “promíscua”. Lá na década de 1980, quando o HIV ainda era um vírus quase desconhecido, tal restrição até fazia sentido. Hoje, com o avanço da medicina, manter tais proibições é puro preconceito. Não existe mais “grupo de risco” baseado no que se faz na cama. Diabéticos e cardiopatas não doam sangue porque isso pode fazer mal a eles mesmos (como pessoas até 50 quilos). Hepatite é transmissível pelo sangue.
O mesmo acontece em relação ao casamento, um direito que tem limites muito claros. O primeiro deles é que o casamento, por lei, é a união entre um homem e uma mulher; não pode ser outra coisa. Pessoas do mesmo sexo podem viver livremente como casais, pelo tempo e nas condições que quiserem. Podem apresentar-se na sociedade como casados, celebrar bodas em público e manter uma vida matrimonial. Mas a sua ligação não é um casamento – não gera filhos, nem uma família, nem laços de parentesco.
Os limites foram impostos por quem?
Se casais homossexuais podem livremente viver como casais, celebrar bodas e manter uma vida matrimonial, isso não é um casamento? Daí você pode se perguntar por qual razão, então, os gays querem um papel. Porque sim. Porque faz parte da nossa cultura, porque é válido para questões de herança, para o plano de saúde, para comprar um apartamento.
Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar. Não pode se casar com a própria mãe, ou com uma irmã, filha, ou neta, e vice-versa. Não poder se casar com uma menor de 16 anos sem autorização dos pais, e se fizer sexo com uma menor de 14 anos estará cometendo um crime. Ninguém, nem os gays, acha que qualquer proibição dessas é um preconceito. Que discriminação haveria contra eles, então, se o casamento tem restrições para todos?
Essa parte é, talvez, a mais inacreditável. Como pode? E, aparentemente, a direção da revista achou SUPER bacana, porque a ilustra do artigo… é uma cabra.
A mais nociva de todas essas exigências, porém, é o esforço para transformar a “homofobia” em crime, conforme se discute atualmente no Congresso. Não há um único delito contra homossexuais que já não seja punido pela legislação penal existente hoje no Brasil. Como a invenção de um novo crime poderia aumentar a segurança dos gays, num país onde 90% dos homicídios nem sequer chegam a ser julgados? A “criminalização da homofobia” é uma postura primitiva do ponto de vista jurídico, aleijada na lógica e impossível de ser executada na prática. Um crime, antes de mais nada, tem de ser “tipificado” – ou seja, tem de ser descrito de forma absolutamente clara. Não existe “mais ou menos” no direito penal; ou se diz precisamente o que é um crime, ou não há crime. O artigo 121 do Código Penal, para citar um caso clássico, diz o que é um homicídio: “Matar alguém”. Como seria possível fazer algo parecido com a homofobia? Os principais defensores da “criminalização” já admitiram, por sinal, que pregar contra o homossexualismo nas igrejas não seria crime, para não baterem de frente com o princípio da liberdade religiosa. Dizem, apenas, que o delito estaria na promoção do “ódio”. Mas o que seria essa “promoção”? E como descrever em lei, claramente, um sentimento como o ódio?
Esse parágrafo me irrita sobremaneira. Isso porque, para quem não entende muito bem como acontece a tipificação de um crime, pode parecer fazer sentido. Mas só parece. É evidente que há meios de se tipificar um crime de ódio. Não é porque o ódio é um “sentimento” que ele não pode ser mensurado.
No mesmo artigo 121 citado pelo articulista existe a forma tipificada do crime, conforme abaixo:
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
Nossa, como vamos identificar o que é um motivo torpe ou fútil, senhor Guzzo? Pois é. É por isso que as pessoas estudam doutrina e jurisprudência! Direito não é a mera aplicação das leis, meu caro.
Os gays já percorreram um imenso caminho para se libertar da selvageria com que foram tratados durante séculos e obter, enfim, os mesmos direitos dos demais cidadãos.
Opa! Menos o casamento, porque isso aí é só pra quem pode procriar.
Bom, acabei copiando quase todo o artigo. Há outras frases escritas por esse senhor que renderiam verdadeiras teses de mestrado. É muita merda e preconceito junto. Há um longo caminho pela frente, amigos. Sigamos.

sábado, 10 de novembro de 2012

Podem me chamar de gay e que seja bem alto, almeidinhas de merda!

  
Meu filho Jean, meu neto German e eu, no Dia Internacional de Luta contra a LGBTT-fobia. Estrebuchem, almeidinhas de merda!

Desde que passei a tratar de temas ligados à luta do povo LGBTT, por decorrência do dever incontornável que tenho de proteger meu filho mais novo, de quando em vez aportam aqui comentaristas - sempre escondidos nos biombos confortáveis do anonimato - e me "xingam" de gay, de enrustido e epítetos assemelhados.  
Não sabem os imbecis que não me sinto, em absoluto, ofendido.
Valho-me deste belo texto de Fabrício Carpinejar como resposta a todos aqueles que, chafurdando nas pocilgas do preconceito e na intolerância, vomitam sua abjeta e letal LGBTT-fobia e, de modo evidente, ameaçam a vida do meu filho e, portanto, ameaçam minha família. 
Fodam-se vocês todos, almeidinhas de merda!
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Pode me chamar de gay, não está me ofendendo. Pode me chamar de gay, é um elogio. Pode me chamar de gay, apesar de ser heterossexual, não me importo de ser confundido. Ser gay me favorece, me amplia, me liberta dos condicionamentos. Não é um julgamento, é uma referência. Pode me chamar de gay, não me sinto desaforado, não me sinto incomodado, não me sinto diminuído, não me sinto constrangido.

Pode me chamar de gay, está dizendo que sou inteligente. Está dizendo que converso com ênfase. Está dizendo que sou sensível. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me preocupo com os detalhes. Está dizendo que dou água para as samambaias. Está dizendo que me preocupo com a vaidade. Está dizendo que me preocupo com a verdade. Pode me chamar de gay. Está dizendo que guardo segredo. Está dizendo que me importo com as palavras que não foram ditas. Está dizendo que tenho senso de humor. Está dizendo que sou carente pelo futuro. Está dizendo que sei escolher as roupas.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que cuido do corpo, afino as cordas dos traços. Está dizendo que falo sobre sexo sem vergonha. Está dizendo que danço levantando os braços. Pode me chamar de gay. Está dizendo que choro sem o consolo dos lenços. Está dizendo que meus pesadelos passaram na infância. Está dizendo que dobro toalha de mesa como se fosse um pijama de seda.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou aberto e me livrei dos preconceitos. Está dizendo que posso andar de mãos dadas com os anéis. Está dizendo que assisto a um filme para me organizar no escuro. Pode me chamar de gay. Está dizendo que reinventei minha sexualidade, reinventei meus princípios, reinventei meu rosto de noite. Pode me chamar de gay. Está dizendo que não morri no ventre, na cor da íris, no castanho dos cílios. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou o melhor amigo da mulher, que aceno ao máximo no aeroporto, que chamo o táxi com grito.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que me importo com o sofrimento do outro, com a rejeição, com o medo do isolamento. Está dizendo que não tolero a omissão, a inveja, o rancor. Pode me chamar de gay. Está dizendo que vou esperar sua primeira garfada antes de comer. Está dizendo que não palito os dentes. Está dizendo que desabafo os sentimentos diante de um copo de vinho. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou generoso com as perdas, que não economizo elogios, que coleciono sapatos.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou educado, que sou espontâneo, que estou vivo para não me reprimir na hora de escrever. Pode me chamar de gay. Que seja bem alto.

A fragilidade do vidro nasce da força e do ímpeto do fogo.

Fabrício Carpinejar.

Carta a um Almeidinha ressentido

 Para entender melhor, leia antes aqui.

Copiei de Carta Capital

Por Matheus Pichonelli

Caro Almeidinha,

Recebi ontem seu e-mail e li com atenção as suas considerações. Lamento que tenha ficado tão chateado com aquele texto. Não era minha intenção. Aceito de bom grado seu convite para o churrasco no domingo e te respondo: sim, é claro que a amizade é a mesma e não, não estou pedindo a cassação do seu direito de existir. Você tem direito de se manifestar como quiser sobre o tema que quiser. Só não me peça freios quando disser que sua manifestação é ingênua, reducionista e, a meu ver, equivocada. Se eu me equivocar, me corrija. Assim caminha a humanidade.


Um texto é só um texto, meu caro. Por mais que o autor tente, não conseguirá nunca resumir em palavras o retrato de uma realidade complexa, por mais simples que suas aspirações pareçam. (Gostaria só de lembrar que em nenhum momento usei adjetivos que você atribui a mim. Não disse que o senhor era burro. Nem violento. Também não disse que você está acima do peso, repare bem. A imagem do Peter Griffin era mais por homenagem do que por provocação. Por via das dúvidas, releia clicando AQUI, Almeidinha)
Concordo com você quando diz que nossas desavenças não deveriam deixar feridas abertas. O problema, e era isso o que eu tentava dizer naquela roda de conversa, é que essa ferida não foi aberta agora. Ela se manifesta toda vez que tentamos debater um assunto e você me corta: “mas você só diz isso porque vota no partido A”. Ou: “você só diz isso porque estudou na faculdade B”. Desqualificar o interlocutor é um convite para encerrar o debate. Você não sabe, mas eu quebro um copo de vidro com a mão de tanto apertá-lo toda vez que você diz que São Paulo está um caos por culpa dos baianos que chegam “aos montes”. E toda vez que eu tento fazer as vezes de contraponto você me corta. Você volta para casa crente de que os seus problemas no mundo têm nome e sotaque. E eu volto frustrado por não conseguir te convencer do contrário.
Por isso a referência ao contraponto, em seu e-mail, está deslocada. É justamente a ausência de contrapontos nessa história toda que me levou a escrever sobre você. Você diz que nasceu assim, foi criado assim e está velho demais para mudar. E que, mesmo se mudasse, não seria obrigado a concordar comigo. Concordo. Mas lamento. E isso não significa que eu torcerei pela sua exclusão. Exclusão é outra coisa. Por exemplo. Imagine você se, por um revés da existência, você tivesse sido processado por aquela história que adora contar na roda: o dia em que se livrou da apreensão da carteira de motorista pagando um churrasco para o guarda. O nome disso é corrupção ativa. Ou quando você adulterou a gasolina do posto que você administrou em parceria com o Palhares. O nome disso é fraude. Ou quando você colocou aquela fita preta na placa do seu carro e desviou a multa para outro motorista. Isso também é fraude. Ou quando você ligou para o primo do amigo do prefeito para livrar o Almeidinha Junior do Tiro de Guerra. Isso é tráfico de influência. Ou quando você encomendou uma carteirinha de estudante para assistir “Os Mercenários” pela metade do ingresso. Isso é falsidade ideológica.
Tudo isso são crimes pequenos. Por nenhum deles o Bope vai colocar sua cabeça num saco e te jogar num rio. Mas são passíveis de processo. Se você um dia viesse a ser acusado, denunciado, julgado e condenado, você teria de pagar suas contas com a Justiça como qualquer outro cidadão, de bem ou não. E se eu, num arroubo de bom-mocismo, fizesse piquete em sua casa e criasse um estardalhaço toda vez que você tenta voltar à vida normal (como, por exemplo, sair para votar), você teria razão em dizer que quero a sua exterminação.
Mas não quero, acredite. E minha suposta sede de justiça, por mais seletiva que fosse, não me daria o direito de usurpar o poder do Estado de te investigar, te processar e, eventualmente, te punir.
Digo isso porque, toda vez que alguém manifesta uma opinião – na linha que você costuma resumir como “essa história de direitos humanos” – você termina a conversa dizendo que deveriam colocar a cabeça, minha e dos meus amigos, num saco plástico, como no “Tropa de Elite”. Eu sei que é brincadeira. Mas ouvir isso toda hora cansa. Também não sei o quanto de verdade existe no seu arroubo discursivo toda vez que você se exalta e pede o extermínio de tudo o que é ruim neste Planeta. Você não deveria se estressar quando alguém diz: “ok, falta definir o que é ruim e deixar claro se vale também cortar na própria carne”.
Mas você encerra a conversa. Você despreza o contraponto e se declara “um cara pragmático” quando diz que o negócio é parar de frescura e “sair matando tudo”. Cuidado. Você tem certezas demais. Passou a vida sentado em meia dúzia de verdades, caro Almeidinha, enquanto o mundo dava voltas. Digo isso porque todas as vezes que sentei em minhas próprias verdades me dei mal. E não há a menor chance de isso não se repetir. Mas de uma coisa eu desconfio: todas as grandes tragédias da humanidade (à direita e à esquerda) foram provocadas por quem tinha certezas demais. Por quem teve a coragem (ou a covardia) de colocar essas certezas em prática. Tudo sob os aplausos de uma maioria conformada e amedrontada com esse mundo em transformação. E quando duas certezas perenes se chocam, não há tese nem antítese. Há guerra. E quando uma guerra estoura, meu amigo, é como uma briga de elefante: sobra destroços para todo lado. Sobra para o mocinho, para o suposto inimigo, para a grama, para a formiga, para quem estiver em volta.
Acredite: temos visto guerra demais em nossos dias, mesmo as não declaradas. O problema é o excesso delas e não a falta. Quando você aplaude uma execução na favela você não está manifestando o seu senso de justiça. Você está legitimando uma guerra. E se a guerra se encerrasse toda vez que se inicia uma chacina, eu juro pra você que ficaria quieto diante do seu aplauso. Mas ela não acaba. A guerra continua. Desde a ocupação do velho oeste vemos fotos de “procura-se vivo ou morto” para bandidos. Por aqui, Lampião e um bando inteiro foram degolados. Nem por isso as barbáries ficaram no século passado. Quando você sobe numa favela e produz uma chacina, você dá espaço para o revide. E esse revide não estoura nas mãos dos mandantes (os tais elefantes, estes de terno e gravata). Ele estoura no lado mais desprotegido da história: os servidores do Estado desarmados, de folga, tratados pelos próprios chefes da segurança ora como bedéis de faculdade ora como boi de piranha de uma guerra que não se evitou (com inteligência, com asfixia financeira, com testemunhos, com o devido rito legal, enfim). Se o problema tivesse uma solução simples ele simplesmente estaria resolvido. Mas não é. E não é justamente porque tem o envolvimento de muita gente que você fosse considera “humano direito”. Muitas vezes até dentro de casa. Nossa bolha não está hermeticamente fechada, caro Almeidinha, e se amanhã alguém próximo a nós cair na nossa armadilha, nosso coro por uma guerra vai ser detonado em outras mãos. A mais bela das cartilhas sobre a convivência humana não livra ninguém de ver pessoas próximas de nós envolvidas com o que hoje condenamos.
Um possível desafio leva a um possível vício, que leva à possível reprodução de um sistema, que leva a uma possível dívida, que leva a um possível crime. Saber disso é cortar na própria carne, e não passar a mão na cabeça e bandido, como você diz. Porque toda ação leva a uma reação. E uma ação bárbara não fará outra coisa que não provocar respostas bárbaras. Quem perde sou eu, é você, é o PM que cumpre seu ofício e vira o alvo mais frágil de uma guerra que ele não declarou.
É só por isso que, diferentemente do que diz, não acho seu discurso engraçado. Acho perigoso. Porque nenhuma grande tragédia provocada por gente cheia de certezas foi desacompanhada de aplausos, esse aplauso que você hoje reproduz. Você me diz que paga seus impostos, apesar de colocar o sítio no nome da empregada para fugir do Leão, e tem direito de defender o que bem quiser. Inclusive ações violentas. E que minha contraposição a isso é censura, papo de intelectual desconectado da realidade. Pode até ser. Mas não estamos medindo forças iguais. Se for assim, não há juízos e tudo está permitido. E sua proclamada liberdade de ter asco de homossexuais te daria carta-branca para estourar lâmpada no rosto de casais gays pela Paulista. Não sei se você teria coragem. Mas você ri muito quando lê este tipo de notícia porque tem sempre a certeza de que alguém provocou demais, se expôs demais, respeitou de menos. Isso desmente outro chavão seu, o de que rir é a melhor saída. Não é. Por isso, diferentemente do que você me diz, eu não rio de você.
Temos conceitos diferentes sobre tolerância, mas só um de nós está pedindo a eliminação do contraponto para seguir vivo. Não me meça com as suas regras, portanto. A minha é bem menos pragmática: está calcada numa velha mania de acreditar que as coisas podem dar certo quando se pensa um pouco além do próprio umbigo. Me desculpa se falo como um adolescente para uma criança. É só uma vacina contra a bolha hermética que falamos antes. Podemos ter soluções diferentes para o mundo. Mas o nosso mundo ainda é o mesmo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crianças pobres já têm maioridade penal. Entenderam, almeidinhas de merda?

 Para saber se você é um almeidinha de merda, clique aqui.
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Copie da imagem de Brasil de Fato
 
Quanto mais se aprofundam os efeitos de um sistema capitalista devastador do homem e da natureza, mais avançam ideias e ações conservadoras

30/08/2011
Cristian Góes*

Na última semana, a rede Globo, em seus principais veículos de imprensa, fez sua parte no coro nacional de uma elite horrorizada com crianças e adolescentes pobres, em pequenos delitos na capital paulista. Uma equipe de tv colou em um grupo de crianças/meninas que agia na madrugada. Presas e jogadas de um canto para outro, elas reagiam, inclusive contra as gravações. O único objeto furtado de toda noite foi um celular de uma camareira de um hotel. Mas as cenas, repetidas várias e várias vezes em todos os telejornais nacionais, revelavam perigo, violência, horror e descontrole.

Era mais uma reportagem despretensiosa sobre a violência? Óbvio que não! No conteúdo da mensagem estava à defesa pura e cristalina da emissora, voz e porta-voz de uma classe dominante, da campanha pela redução da maioridade penal no país. Quanto mais se aprofundam os efeitos de um sistema capitalista devastador do homem e da natureza, mais avançam ideias e ações conservadoras na sociedade para proteger seu patrimônio contra as ameaças das classes perigosas. E aí vale tudo: prisão de flanelinhas, aplausos às execuções de suspeitos em troca de tiros com a polícia, castração química de suspeitos, criminalização dos trabalhadores que reclamam melhores condições de trabalho e salário, redução da maioridade penal, etc, etc.


No caso de crianças e adolescentes pobres, essa maioridade penal pretendida já existe na prática e faz tempo. Os que foram flagrados nas lentes da tv, geralmente são filhos de pais que estão ou já estiveram nas ruas. Aquelas crianças nasceram em condições desumanas, submetidas ao abandono e ao desprezo social. Nasceram e crescem em ambientes de ausência (família, escola, saúde, trabalho, habitação, lazer, etc), de violência, drogas e de sobrevivência selvagem. Crianças pobres e marginalizadas, condenadas a um clico embrutecido de vida. Condená-las ainda ao quê? Quais as penas ainda a serem impostas a elas? Encarcerá-las cada vez mais cedo é a solução? Claro que não!


Na outra ponta, a mesma sociedade hipócrita que cobra a redução da maioridade penal continua a produzir adolescentes ricos e perversos, que sem limites, não aceitam às diferenças e desenvolvem uma cultura de ódio de classe, de homofobia, de racismo. Queimam índios, matam mendigos, xingam negros, espancam quem os contrarie, usam seus possantes carros para as maiores barbaridades, tudo dentro da maior naturalidade. Abrigados por uma parentela influente nos poderes do Estado, gozam de impunidade e, para eles, a maioridade nunca os atingirá. Mais tarde, alguns chegaram a postos de comando na sociedade e devem continuar a produzir uma sociedade assim.


Voltando às vítima da redução da maioridade, na semana passada, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos divulgou estudo da Unicef informando que as crianças e adolescentes eram responsáveis somente por 10% dos homicídios praticados, mas ao mesmo tempo elas são vítimas de mais de 40% dos casos de homicídio. Segundo a Unicef também divulgou, a redução da maioridade penal não resultou em diminuição da violência entre crianças e adolescentes em 54 países pesquisados no ano de 2007 que, a exemplo dos Estados Unidos, adotaram a medida. Crianças saem muito piores do que entraram no sistema prisional. Resta provado por estatísticas, pelos fatos e pela história que a violência, inclusive a estatal, só produz mais violência.


Com a sociedade que se tem, não há necessidade de se encarcerar crianças e adolescentes pobres. Uma vida sem família, sem comida, sem casa, sem educação, sem saúde, sem lazer, sem perspectiva de dignidade vai produzir o quê? Como enfrentar essas ausências? Com prisões?


*Cristian Góes é jornalista em Aracaju/SE

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

“Direitos humanos para humanos direitos”

Aqui em Antonina, dizem, os almeidinhas andam alvoroçados a gritar "Joaquim Barbosa Presidente!"
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Copiei de Carta Capital

Matheus Pichonelli

Almeidinha era o sujeito inventado pelos amigos de faculdade para personalizar tudo o que não queríamos nos transformar ao longo dos anos. A projeção era a de um cidadão médio: resmungão em casa, satisfeito com o emprego na “firma” e à espera da aposentadoria para poder tomar banho, colocar pijama às quatro da tarde, assistir ao Datena e reclamar da janta preparada pela esposa. O Almeidinha é aquele sujeito capaz de rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira. Que guarda revistas pornográficas no armário, baba nas pernas da vizinha desquitada (é assim que ele fala) mas implica quando a filha coloca um vestido mais curto. Que não perde a chance de dizer o quanto a esposa (ele chama de “patroa”) engordou desde o casamento.
O Almeidinha , ativista virtual e cidadão de bem
O Almeidinha, para nosso espanto, está hoje em toda parte. Se espalha em proporção geométrica e, com os anos, se modernizou. O sujeito que montava no carro no fim de semana e levava a família para ir ao jardim zoológico dar pipoca aos macacos (apesar das placas de proibição) sucumbiu ao sinal dos tempos e aderiu à internet. Virou um militante das correntes de e-mail com alertas sobre o perigo comunista, as contas no exterior do ex-presidente, os planos do Congresso para acabar com o 13º salário. Depois foi para o Orkut. Depois para o Facebook. Ali encontrou os amigos da firma que todos os dias o lembram dos perigos de se viver num mundo sem valores familiares. O Almeidinha presta serviços humanitários ao compartilhar alarmes sobre privacidade na rede, homenagens a pessoas doentes e fotos de crianças deformadas. O Almeidinha também distribui bons dias aos amigos com piadas sobre o Verdão (“estude para o vestibular porque vai cair…hihihii”) e mensagens motivacionais. A favorita é aquela sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que ele jura ser do Cazuza mas chegou a ele como Caio Fernandes (sic) Abreu. O Almeidinha gosta também de se posicionar sobre os assuntos que causam comoção. Para ele, a atual onda de violência em São Paulo só acontece porque os pobres, para ele potenciais criminosos (seja assassino ou ladrão de galinha) têm direitos demais. O Almeidinha tem um lema: “Direitos Humanos para Humanos Direitos”. Aliás, é ouvir essa expressão, que ele não sabe definir muito bem, e o Almeidinha boa praça e inofensivo da vizinhança se transforma. “Lógica da criminalidade”, “superlotação de presídios”, “sindicato do crime”, “enfrentamento”, “uso excessivo da força”, para ele, é conversa de intelectual. E se tem uma coisa que o Almeidinha detesta mais que o Lula ou o Mano Menezes (sempre nesta ordem) é intelectual. O Almeidinha tem pavor. Tivesse duas bombas eram dois endereços certos: a favela e a USP. A favela porque ele acredita no governador Sergio Cabral quando ele fala em fábrica de marginais. A USP porque está cansado de trabalhar para pagar a conta de gente que não tem nada a fazer a não ser promover greves, invasões, protestos e espalhar palavras difíceis. O Almeidinha vota no primeiro candidato que propuser esterilizar a fábrica de marginal e a construção de um estacionamento no lugar da universidade pública.
Uma metralhadora na mão do Almeidinha e não sobraria vagabundo na Terra. (O Almeidinha até fala baixo para não ser repreendido pela “patroa”, mas se alguém falar baixinho no ouvido dele que “Hitler não estava assim tão errado” ganha um amigo para o resto da vida).
A cólera, que o fazia acordar condenando o mundo pela manhã, está agora controlada graças aos remédios. O Almeidinha evoluiu muito desde então. Embora desconfiado, o Almeidinha anda numas, por exemplo, de que agora as coisas estão entrando nos eixos porque os políticos – para ele a representação de tudo o que o impediu de ter uma casa na praia – estão indo para a cadeia. Ele não entende uma palavra do que diz o tal do Joaquim Barbosa, mas já reservou espaço para um pôster do ministro do Supremo ao lado do cartaz do Luciano Huck (“cara bom, ajuda as pessoas”) e do Rafinha Bastos (“ele sim tem coragem de falar a verdade”). O Almeidinha não teve colegas negros na escola nem na faculdade, mas ele acha que o exemplo de Barbosa e do presidente Barack Obama é prova inequívoca de que o sistema de cotas é uma medida populista. É o que dizia o “meme” que ele espalhou no Facebook com o argumento de que, na escravidão, o tráfico de escravos tinha participação dos africanos. Por isso, quando o assunto encrespa, ele costuma recorrer ao “nada contra, até tenho amigos de cor (é assim que ele fala), mas muitos deles têm preconceitos contra eles mesmos”.
O Almeidinha costuma repetir também que os pobres é que não se ajudam. Vê o caso da empregada, que achou pouco ganhar vinte reais por dia para lavar suas cuecas e preferiu voltar a estudar. Culpa do Bolsa Família, ele diz, esse instrumento eleitoral que leva todos os nordestinos, descendentes de nordestinos e simpatizantes de nordestinos a votar com medo de perder a boquinha. Em tempo: o filho do Almeidinha tem quase 30 anos e nunca trabalhou. Falta de oportunidade, diz o Almeidinha, só porque o filho não tem pistolão. Vagabundo é outra coisa. Outra cor. Como o pai, o filho do Almeidinha detesta qualquer tipo de bolsa governamental. A bolsa-gasolina que recebe do pai, garante, é outra coisa. Não mexe com recurso público. (O Almeidinha não conta pra ninguém, mas liga todo dia, duas vezes por dia, para o primo de um conhecido instalado na prefeitura para saber se não tem uma boca de assessor para o filho em algum gabinete).
O filho do Almeidinha também é ativista virtual. Curte PlayStation, as sacadas do Willy Wonka, frases sobre erros de gramática do Enem, frases sobre o frio, sobre o que comer no almoço e sobre as bebedeiras com os moleques no fim de semana (segue a página de oito marcas de cerveja). Compartilha vídeos de propagandas de carro e fotos de mulheres barrigudas e sem dentes na praia. Riu até doer a barriga com a página das barangas. Detesta política – ele não passa um dia sem lembrar a eleição do Tiririca para dizer que só tem palhaço em Brasília. E se sente vingado toda vez que alguém do CQC faz “lero-lero” na frente do Congresso. Acha todos eles uns caras fodásticos (é assim que ele fala). Talvez até mais que o Arnaldo Jabor. Pensa em votar com nariz de palhaço na próxima eleição (pensa em fazer isso até que o voto deixe de ser obrigatório e ele possa aproveitar o domingo no videogame). Até lá, vai seguir destruindo placas e cavaletes que atrapalham suas andanças pela cidade.
Como o pai, o filho do Almeidinha tem respostas e certezas para tudo. Não viveu na ditadura, mas morre de saudade dos tempos em que as coisas funcionavam. Espera ansioso um plebiscito para introduzir de vez a pena de morte (a única solução para a malandragem) e reduzir a maioridade penal até o dia em que se poderá levar bebês de oito meses para a cadeia. Quer um plebiscito também para acabar com a Marcha das Vadias. O que é bonito, para ele, é para se ver. E se tocar. E ninguém ouve cantada se não provoca (a favorita dele é “hoje não é seu aniversário mas você está de parabéns, sua linda”. Fala isso com os amigos e sai em disparada no carro do pai. O filho do Almeidinha era “O” zoão da turma na facul).
Pai e filho estão cada vez mais parecidos. O pai já joga Playstation e o menino de 30 anos já fala sobre a decadência dos costumes. Para tudo têm uma sentença: “Ê, Brasil”. Almeidinha pai e Almeidinha filho têm admiração similar ao estilo civilizado de vida europeu. Não passam um dia sem dizer que a vida, deles e da humanidade em geral, seria melhor se o país fosse dividido entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte. Quando esse dia chegar, garantem, o Brasil enfim será o país do presente e não do futuro. Um país à imagem e semelhança de um Almeidinha.