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será que me dá? todos os dias
Texto publicado em 01/01/2011
Lula não me engana
Tudo que esse cara fez antes de
ser presidente foi conquistar confiança, apoio e simpatia. Quando era um
simples torneiro mecânico, soube organizar sua categoria num sindicato forte e
atuante que fez história. Foi nesta época que o conheci. Lembro quando foi
preso, como se fosse bandido. “Julgaram” a greve dos metalúrgicos do ABC ilegal
e Lula, seu líder, foi preso. A fúria dos empresários devia-se ao fato de que
aqueles trabalhadores não eram simples peões, peças de fácil reposição. Na
época, ser metalúrgico era ofício quase de artesão. Não havia tecnologia e
robótica como hoje. Para ser metalúrgico, tinha que ter talento, sensibilidade
e precisão.
No final dos anos 70, eu era
jovem e idealista. Fiz parte de um grupo de teatro que aderiu à luta dos
metalúrgicos, assim como centenas de outros grupos que arrecadavam doações para
ajudar no sustento de suas famílias. Nos esforçávamos para vender os bônus da
greve, simples recibos de contribuição à causa. Muita gente organizava shows,
eventos, churrascos, enfim, qualquer pretexto para arrecadar dinheiro. Foi
construída uma pirâmide humana que levava o dinheiro até uma conta corrente e
de lá era repassado para a compra de alimentos para as famílias dos grevistas.
E estes trabalhadores, batalhando pelos seus direitos, simbolizaram os anseios
da nova geração da esquerda brasileira. A luta foi uma das mais longas na
história: quase dois meses. Foi a primeira ação política coletiva da qual
participei. Mal sabia eu que estava vivendo o embrião do que viria a ser o
Partido dos Trabalhadores. Mesmo antes de existir oficialmente, o PT já era uma
camisa que vestíamos há algum tempo. E sua fundação foi um marco histórico.
Uniu todas as vertentes da esquerda brasileira. Talvez seja por isso que é tão
perseguido. E também por isso que cresceu tanto.
Lula não me engana. Foi conduzido
à política quase contra a vontade. Entendeu que para modificar a realidade de
milhares de trabalhadores iguais a ele, precisava alcançar novos instrumentos
de transformação. Elegeu-se o deputado mais votado do Brasil e fundou o PT. Sua
força cresceu por ser um líder autêntico, carismático e de origem humilde.
Quando percebeu que outros sindicalistas, igreja, economistas, escritores,
intelectuais, filósofos, artistas, enfim – boa parte das melhores cabeças
pensantes do país filiavam-se ou passavam a apoiar o PT, teve a noção de que
ser presidente não era utopia: era destino. Incorporou. Participou de todas as
eleições seguintes sempre acumulando capital eleitoral.
Fez as campanhas eleitorais mais
emocionantes que este país já viu. Uma das canções mais marcantes foi a
inesquecível “LulaLá”, da campanha de 89. (Mesmo Collor confessou,
recentemente, que na época, dormia com a canção “LulaLá” colada no ouvido…)
Quase vira hino! Obrigou a direita a se mostrar, se assumir. “Ou você é a favor
ou é contra. Contra ou a favor de quem? Do PT do Lula”. O PIG se esforçava para
conter a avalanche. Não me esqueço da capa da Veja – uma montagem em que Lula
aparecia cumprimentando Collor (antes do debate decisivo na Globo) como se
estivesse numa escada, dois degraus abaixo, fundo preto. Depois teve aquela
famosa edição dos “melhores momentos” do debate, retirando as falas de Lula do
contexto, fazendo-o perder o sentido e parecer despreparado. Além disso, a
Globo passou o dia inteiro da eleição exibindo flashes ao vivo do sequestro do
empresário Abílio Diniz e atribuindo a ação a elementos ligados ao PT. Uma
mentira que não durou 24 horas. Diniz, anos depois, ainda sentiria orgulho de
apoiar Lula.
Em 2002, quando finalmente venceu
a mídia e os adversários, renovou minhas convicções e me fez chorar no discurso
da posse (clique aqui
para rever). Montou uma equipe de governo técnica e competente para
garantir uma boa administração. Honesto com suas origens, deu o tom social ao
seu governo. Lula não me engana – sabia que só assim poderia ganhar a aprovação
do povo brasileiro, fazer um bom governo e, quem sabe até, reeleger-se.
Em 2006 foi reeleito dando uma
goleada de votos no paulistinha Alckmin. E finalmente começou a colher o que plantou:
o país começava a crescer fortemente. A economia bombava, o desemprego caía
pelas tabelas e o Bolsa Família já havia deixado de ser o Bolsa-alimentação
figurativo de FHC para tornar-se o maior programa de combate à fome do mundo. E
ainda garantia 50 milhões de crianças nas escolas. As obras de infraestrutura,
o enfrentamento da crise financeira mundial em 2008, a descoberta do Pré-sal e
a luta para garantir que essa riqueza beneficiasse, acima de tudo, o povo
brasileiro, os investimentos do PAC, o ProUni, Minha Casa, Minha Vida, Luz para
Todos… Não me engana: tudo visava melhorar a vida do povo para ganhar sua
confiança e quebrar recordes seguidos de avaliação positiva do seu governo e de
si próprio.
Ao ser reconhecido mundialmente,
acima das direitas e esquerdas, como o melhor presidente das Américas – ser
chamado de “O Cara”, ao vivo, pelo presidente da nação mais poderosa do mundo e
além disso, receber premiações dos órgãos de imprensa e entidades de direitos
humanos mais conceituadas do planeta pelas suas realizações, Lula sentiu que
poderia – imaginem só – fazer sucessor! E como se não bastasse, ousou escolher
uma mulher para dar continuidade ao seu governo! É certo que Dilma conhece tudo
que está sendo feito no Brasil, já que foi seu braço direito. Mas não me
engana…
Sabe que não me engana, Luiz. Sei
muito bem de onde veio. Até assisti o filme que fizeram sobre sua vida. Sei que
não vai abandonar a política como se o teu sonho já estivesse totalmente
realizado. Tenho certeza que seguirá de perto o novo governo, dará palpites e
terá influência natural e decisiva quando for preciso. Sei que vê no Brasil
atual um bebê nascido do ventre do seu governo. Por isso tem um sentimento
possessivo pelo país e pelo povo daqui.
Ah, Luiz Inácio da Silva! Você não
me engana. Sabe por que? Porque é um homem simples, honesto e transparente como
a água. E não sou o único a pensar assim: 87% dos brasileiros
também sabem que você não engana ninguém.
Vai lá, passa a faixa pra Dilma e
volta pra São Bernardo – que tem um monte de amigos seus esperando pra te
abraçar e festejar este novo Brasil e sua democracia! Depois voltamos a falar
sobre política.
Um comentário:
Meu caro Paulo, você me fez chorar lendo este texto! Temos uma história parecida na nossa relação com o Presidente Lula e o PT. Colaborei para a greve do ABC enviando o máximo de dinheiro que eu podia, através de meus amigos do Partidão. Sou um sonhador e só deixarei de ser comunista no dia que eu morrer. Percebi durante a greve do ABC que ali estava o futuro da Esquerda Brasileira. Acreditei no Lula como você
e continuo acreditando em Dilma Rousseff e com Lula no Coração. Obrigado por ter colocado o meu blog nos seus favoritos. Farei o mesmo com o seu. Já sou teu seguidor e sinceramente gostei
muito do seu blog. Dei boas gargalhadas e também
chorei. Um abraço, Maurício Porto. Saudações Lulistas e Socialistas !!!
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