Copiado daqui direto do portal Vermelho
Não é por “problemas técnicos” que, volta e meia, o blog do
jornalista Esmael Morais (http://esmaelmorais.com.br) sai do ar. A
página, uma das mais influentes do Paraná, sofre ataques à margem da lei
do governador Beto Richa (PSDB) — que não suporta a publicação de
nenhum tipo de crítica ou mesmo notícia que lhe seja desfavorável.
Por André Cintra
Richa promove uma versão alternativa
do modo tucano de reprimir jornalistas independentes. O expoente maior
dessa tradição é o ex-governador José Serra. Se um jornalista da grande
mídia o incomoda com perguntas indesejáveis, Serra não pensa duas vezes:
telefona para o dono da empresa e pede a demissão do desavisado
entrevistador. No caso dos blogueiros — que não têm patrão —, o ex-governador se limita a lançar infâmias contra eles, tachando os blogs progressistas de “falanges do ódio”, “sujos”, entre outros rótulos. Beto Richa também partilha da estratégia de patrulhar a imprensa e ofender a blogosfera — mas, como não tem tanto apoio midiático quanto Serra, faz parcerias é a com a Justiça.
Um tema particularmente constrangedor para o tucano — e corajosamente denunciado pelo Blog do Esmael — diz respeito ao chamado Comitê Lealdade. Em 2008, quando Richa disputou a reeleição à Prefeitura de Curitiba, o PRTB decidiu apoiar Fabio Camargo (PTB). De uma hora para outra, 23 candidatos a vereador do partido desistiram da candidatura, anunciaram uma inusitada dissidência e organizaram a fundação de um comitê em apoio a Richa.
Soube-se, meses depois, que a adesão foi paga com "Caixa 2" (dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral) e cargos na gestão municipal. O chefe do esquema era Alexandre Gardolinski, que foi pessoalmente indicado por Richa e se responsabilizou pelos pagamentos — em espécie. O Comitê Lealdade parecia funcionar como fachada.
Em depoimento ao Ministério Público Regional Eleitoral do Paraná, o empresário Rodrigo Oriente — um dos arrecadadores do Comitê Lealdade — denunciou a participação pessoal de Richa na negociata. O órgão confirmou a existência de "Caixa 2", mas inocentou o prefeito — apesar de a Resolução 22.175/2008 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizer que “os candidatos são responsáveis solidários por qualquer informação ou ilegalidade” na campanha.
Em 2010, depois de renunciar ao cargo para concorrer ao governo estadual, o tucano tentou emplacar na campanha a fama de “gestor moderno”. Mas a marca mais notória de sua candidatura foi a ofensiva judicial para proibir a divulgação de todas as pesquisas de intenção de votos que mostravam seu adversário, Osmar Dias (PDT), na liderança.
Ao mesmo tempo, Richa desencadeou a perseguição a jornalistas independentes e à mídia alternativa. “Ele já me tirou do ar duas vezes. A censura ao blog começou durante a campanha de 2010”, diz Esmael ao Vermelho. O blog reconstituía as denúncias do Comitê Lealdade e refrescava a memória do eleitor paranaense. “Não fui só eu que disse que houve desvio de dinheiro para comprar políticos. As acusações apareceram até no Fantástico e derrubaram integrantes do alto escalão da Prefeitura.”
Por decisão de um Judiciário local sempre simpático a Beto Richa, Esmael teve de apagar “postagens ofensivas” ao tucano. Para todos os efeitos, o blogueiro aproveitou o próprio blog para denunciar Richa na ocasião:
Eu, Esmael Morais, comunico a todos os
internautas que por livre vontade visitam o meu blog que medida liminar
deferida em ação intentada pelo Sr. CARLOS ALBERTO RICHA (CANDIDATO DO
PSDB AO GOVERNO DO ESTADO) determinou a retirada do meu blog de todo
conteúdo que considerou ofensivo ao autor. A decisão tem um alcance
ilimitado e considero humanamente impossível verificar mais de 20 mil
postagens. Isto levaria semanas ou talvez meses.
Assim, em razão da decisão não indicar expressamente quais as inserções seriam ofensivas, e diante da ameaça de imposição de multa e retirada do site do ar, decidi, por cautela, suspender as inserções até que seja delimitado o alcance da decisão.
Estou adotando as medidas judiciais para revisão da referida liminar, ingressando com os recursos cabíveis, de modo a continuar expressando a minha opinião.
“Como eram mais de mil publicações sobre o Richa, pedi para o juiz
determinar o que é e o que não é ofensivo. No final, sob ameaça de
receber multa de R$ 10 mil por dia, tive de retirar umas 500 postagens, a
maioria sobre o Caixa 2”, recorda-se.Assim, em razão da decisão não indicar expressamente quais as inserções seriam ofensivas, e diante da ameaça de imposição de multa e retirada do site do ar, decidi, por cautela, suspender as inserções até que seja delimitado o alcance da decisão.
Estou adotando as medidas judiciais para revisão da referida liminar, ingressando com os recursos cabíveis, de modo a continuar expressando a minha opinião.
Foi tão-somente o começo de uma férrea perseguição. Segundo Esmael, Richa passou a atacar a empresa Locaweb, que, coagida, suspendeu a hospedagem do blog. “Consultei especialistas: só é permitido retirar um blog do ar quando a publicação de conteúdos é anônima. Mesmo assim, fui censurado.”
O jornalista trocou a Locaweb pela americana Just Host em outubro de 2010— mas a repressão não cessou. Na semana passada, a pedido dos advogados do governador, a Just Host tirou do ar, por alguns dias, o Blog do Esmael — o jornalista estaria movendo uma “campanha de ódio” ao tucano. “O governador censura porque não quer ser alvo de críticas. É uma violência, um crime. Ele pode procurar a Justiça, mas jamais atentar contra o Estado Democrático de Direito.”
O caso Esmael já repercute na blogosfera, em emissoras paranaenses de rádio e até na grande mídia. “Conversei longamente, na última sexta, com a repórter Estelita Carazzai, da Folha — mas, até agora, não saiu nada.”
O jornalista promete levar sua causa ao 1º Encontro Estadual dos Blogueiros Progressistas do Paraná, que ocorre nos dias 9 e 10 de abril, em Curitiba. “Num dos painéis do encontro, sobre censura, defenderei a construção de um sistema de hospedagem blindado e imune, com gestão pública”, diz. “Para fazermos blogs políticos que desagradem ao status quo, não podemos ficar reféns dessas empresas privadas, geralmente associadas ao capital estrangeiro.”
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