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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Anotações sobre amigos e vinho grego de uva Xinómavro (ou inomavro, sei lá)



Desculpe o tratamento informal, meu velho, mas você está meio desmoralizado depois do fiasco do dia 21 de maio, e a culpa é toda sua: durante anos um engenheiro americano maluco, o que me parece exemplo claro de tripla redundância, proclamou que você acabaria com o mundo 7 mil anos depois do dilúvio e você, ó, já cansado com estas previsões que nunca se concretizam, de saco divinamente cheio e por pura preguiça não tomou nenhuma providência, deixou o velhote doido falando as bobagens todas, e nada aconteceu. Sim, o mundo está meio acabado, como sempre, mas ainda dá pro gasto.

Chame aí o papa e mande o Bento Alemão XVI fazer um pronunciamento qualquer explicando o que deu errado, usando aquele linguajar maroto da transcendência e dos seus desígnios insondáveis e tudo ficará melhor na sua biografia. A safada da santa madre e genocida igreja católica tem muita experiência acumulada nesta área da propaganda enganosa, e você sabe disso, não é mesmo?

Não vou tripudiar sobre o seu mais recente fiasco, meu bom e cansado velhote, quero é falar e, ao final, pedir sua atenção para um amigo muito especial. Por uns poucos minutos deixe de lado a gritaria dos evangélicos – como você aguenta? – e trate de ouvir este ateu boquirroto e inofensivo, muito menos danoso que padres, bispos, pastores, missionários e profetas de araque que estão a enganar incautos aqui nos andares de baixo. Isso, sente naquela sua poltrona divina favorita, revestida com o couro daquela cobra que começou o furdunço todo, e peça a um dos seus querubins uma boa dose de cognac, francês naturalmente que, se até eu sei o que é bom, imagine você, que criou tudo o que é bom. Vamos lá?

Ontem, 22 de maio, domingo, desde muito cedo estivemos fora de Antonina, e regressamos lá pelas oito da noite, todos nós varados de fome e fomos direto para a Casa Verde, parecíamos um destacamento de Átila, e queremos comer, e querermos comer, e queremos comer!

André – atenção para este nome, ó deus desatento – abre logo um largo e acolhedor sorriso, e nos desarma e nos acalma, e nos faz sentar (ele aprendeu estas técnicas diabólicas todas, no bom sentido, no Sebrae) e nos garante, modos suaves mas firmes, não apenas um pouco de comida, mas sobretudo boa comida, ó glória, ó menezes! E anota os pedidos todos, e conversamos animados e ele nos informa que a Casa Verde será, as partir de julho, também uma galeria de exposições, tudo isso em parceria com uma agência muito chique de Curitiba, o nome me escapa em cristo, acho que é o vinhote que estou a bebericar, mas esta é uma baita notícia.

E os pratos são servidos e os hunos começamos a comer, e resolvo pedir uma taça de vinho e, André, que já fez o Caminho de Santiago da Compostela duas vezes, creio, e quer repetir a caminhada, me surpreende, me encanta: abre logo uma garrafa de Alexander Red, um vinho grego, tinto seco, combinação de uvas Cabernet Sauvignon e Xinómavro, esta típica e exclusiva da Grécia, da região da Macedônia onde nasceu Alexandre, o Grande.  

Para você que, dizem, criou todas as coisas, uva grega Xinómavro não é nenhuma novidade, mas para este Ornitorrinco meio bugre, que jamais havia tomado um vinho grego, porra, ó aleluia, foi o máximo. Pois o André, ó deus que está a pestanejar, abriu e dividiu comigo uma garrafa de um vinho tinto grego, feito com uma uva da qual jamais eu ouvira falar, e abriu e dividiu pelo simples e definitivo prazer de dividir uma garrafa de vinho com um amigo. Um vinho divino, e isso não tem nada a ver com você, velhote preguiçoso, não seja metido.

Dito isso e benedito aquilo, com fulcro na legislação aplicável e considerando que seus lamentáveis intermediários garantem, em seu nome,  que este nosso mundo vai acabar, espero de você, deus phodão, que:

1. Retire-se, aposente-se, dispense seus intermediários apatifados, e vá para alguma praia do Nordeste curtir o sol e bebericar alguma cachaçinha da boa;

2. Se não houver mesmo escapatória, no dia do fim do mundo trate de fraudar a licitação de modo que a Casa Verde e o André permaneçam intactos, desde que, aqui e ali, abram uns vinhotes para os amigos. Sim, convidaremos você, deus, não se preocupe, mas as passagens e a hospedagem serão por sua conta, que a vida permanecerá sendo dura.  

3. Não se iluda com meu conversê malemolente porque, para interceder por um amigo eu até finjo que acredito em você. Por falar nisso, você realmente acredita em deus?

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