SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Bagre que dorme a onda leva...

Eu visito o Urublues todos os dias


Diz-se por ai que a crônica é um gênero literário leve, despretensioso e menor. É verdade e não é, acredito eu. Alguns, os mestres do gênero, faziam da crônica até a não crônica. Rubem Braga, por exemplo. Ele ia desenvolvendo um assunto como não queria nada – às vezes não queria mesmo! – escrevia, colocava uma flor aqui, um livro ali, uma observação acolá, e um final que nos deixava boquiabertos: havia nos enrolado direitinho, nos fazendo ler até o fim aquele monte de nadas que ele ia tecendo com sua Remington, tipo por tipo. Genial. Outros que adoro: adoro ler o Cony e o Ruy Castro, na Folha, assim como adoro ler o Veríssimo, um craque do gênero. 
Antigamente, tinha o Carlos Drummond de Andrade, que riqueza! Tinha também o Lourenço Diaféria, no Estadão. Adorava ler o Mauro Santayanna, que escrevia antigamente na folha de São Paulo. Tempos atrás, tive a oportunidade de dizer isso pessoalmente a ele, num avião que pegamos de Brasília para BH. No começo ele até ficou assustado com meu assédio, depois abriu um sorriso simpático e me deu um aperto de mão. Ganhei meu dia.
E os cronistas políticos? Lia sempre, sem entender nada, o Carlos Castelo Branco, o Claudio Abramo, e outros. Quando era bom, lia o texto do cara, mesmo não concordando com ele. Era o caso do Paulo Francis, que adorávamos odiar. Cuidado com ex-trotskistas, como disse estes tempos Daulo Toberto Nequinel, da boquirrota Ornitorrinco Corporation, ele mesmo se definindo um trotskista moderado (Que quer dizer isso mesmo, Gequinel?). Bom, como já dizia, cuidado com ex-trostskistas. Eles são capazes de tudo, até escrever certo por linhas erradas. Paulo Francis era um desses.
Na crônica esportiva, adorava, na Gazeta Do Povo, o Carneiro Neto, por razões quase óbvias (aliás, faltam 39 pontos pra alcançar 47 e fugirmos do rebaixamento este ano, moçada!!). Hoje, curto muito o José Roberto Torero e o Xico Sá, da Folha, embora ambos tenham uma paixão clubística por certo piscídeo da Baixada Santista. O Juca Kfuri, com seu sambe de uma nota só contra a corrupção no futebol é leitura obrigatória de quem gosta dos temas de bola no pé.
Quando a blogosfera antoninense surgiu, eu lia com muito interesse os textos do meu querido Nerval Pires, que conheço desde os tempos de guri, quando ele tinha um programa na Rádio. Até hoje, não perco os textos do Bó, nosso decano-mor da blogosfera, conosco desde os tempos do jornalzinho de stencil. Também eram interessantes os textos de nosso querido Guardião Do Portinho. Onde andará nosso cavaleiro solitário? Será que ele foi desalojado na tragédia de março?
Tudo isso pra dizer que estou achando nossa blogosfera, inclusive o Bacucu com Farinha, do indômito Neutinho Pires, e o meu Urublues, um tanto sem sal. Tem cerca de 15 blogs dos mais diversos assuntos e interesses, dos mais diversos matizes ideológicos e religiosos e clubísticos, mas o clima está meio assim-assim, de marasmo, de esperar-como-está-pra-ver-como-fica. Ninguém se arrisca a um movimento, ninguém sai da intermediária. Será que, tirando o incansável Bó, nós outros cansamos? Será que está todo mundo esperando a procissão do dia 15? Será que estão esperando pra definir os candidatos nas eleições do ano que vem?
Bagre que dorme a onda leva...
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O Ornitorrinco Hipertenso pede a palavra para, ao dizer-se envaidecido, registrar: nada mal para este bloguezinho de alcance municipal - quando o tempo está bom, destaco -, ser citado no Urublues. 

Este belo texto de Jeff Picanço toca em questões pra lá de pertinentes, a começar pelos cronistas citados, todos de leitura obrigatória, inclusive o Santayanna, que está a escrever na Carta Capital. Realmente, adorávamos odiar o Paulo Francis: lembro dele falando (mal) do senador Suplicy e eu, ao mesmo tempo que ria um pouco, o odiava honestamente. 

Não, prezado Jeff, nem mesmo um trotskysta moderado eu consigo ser. Sempre fui, e olhe lá, algo como um socialista intuitivo, embora hoje muita gente me considere apenas um socialista barrigudo, ou um mero esquerdista genérico, e isso quando o tempo está ensolarado.

Você fala em quinze blogs, mas Antonina tem mais de 40, meu caro, um para cada 500 habitantes, mais ou menos, o que nos torna, proporcionalmente o lugar com a maior quantidade de blogs no Brasil, creio. 

Não sei sobre os outros blogs mas, por recomendação médica, O Ornitorrinco diminuiu drásticamente o sal, por conta da sua escatológica hipertensão, de modo que estamos meio insípidos, inodoros e, pior de tudo, sempre fazemos cocô na caixinha de areia. Um horror, meu caro, um  horror. 

De fato, esperando a procissão e a inefável marcha para jesus, estou a tocar a pelota na intermediária, e a torcida ó, nem consegue vaiar, pois já dorme entediada. Tomar um gol agora, com o time ainda desentrosado, não é mesmo recomendável.

Um comentário:

Jeff Picanço disse...

Cequinel

Obrigado pela repostagem do meu texto. Saiba que me divirto lendo os teus textos escrachados escatológicos e furibundos. Como é que você foi parar em Antonina? Por uma dessas coisas do destino, eu sempre entrei na tangente do trotskismo, sem nunca entrar dentro. Masturbatório, você diria. Sim, pois fiquei ali nesse vai não vem, e as tendências passando: Libelu – me convidaram pra entrar, não entrei – depois Convergência, Em Tempo, e outras. A que eu mais queria conhecer, e até me tornasse militante, eram os posadistas, aqueles malucos que achavam que os discos voadores eram agentes da revolução planetária. Até bolamos uma palavra de ordem: “Brasil, marte, Venus e Bulgária – a classe operária é interplanetária!”. Mas os posadistas não vieram, assim como os discos voadores que apareceram em antonina vieram numa época em que eu ia pra cama cedo pra chegar no Colégio as sete e meia. Sim, teve disco voador em Antonina!
Mas uma coisa era certa: o trotskismo é uma estrada iluminada, cheio de grandes verdades supremas, levantes de massa e greves gerais. A maior parte das coisas era delírio. Masturbatório, adolescente, assim era o trotskismo (ainda é?); no entanto, conheço alguns que chegaram trostskistas à idade adulta, mas são raros, quase candidatos à Paleontologia Imaginária. Entretanto, tenho muito carinho por estes quixotes todos. Ex-trotskistas? Fuja deles!!
O que sou hoje? Sou de esquerda, ainda fico um tempo parado na frente da estante dos filmes do Eisenstein na locadora, tenho horror a tucano, mas o petismo que vejo por aí não me entusiasma a erguer bandeira. E olha que ergui bandeira. Participei – acho que você estava lá, não estava? – dos bastidores da greve geral de 83, que lançou a CUT. Participei de eleição do sindicato dos bancários, de greves estudantis, de piquete em greve de ônibus, estava em São Bernardo no dia do lançamento da Frente Brasil Popular em 89...
Isso é lindo, isso é “magavilha”, mas hoje em dia não gosto de ver alguns “companheiros” que no começo eram periferia e agora estão no centro do poder, gordos e felizes. Dando as cartas e agindo como não era pra um petista agir. O PT está tendo muitos acertos, mas descambou demais na realpolitik, fez os tais acordos com o diabo (e com Deus, é claro!) que a gente sempre lutou pra que não fizesse. Hoje, o PT está longe de ser a “UDN de tamancos” que o pessoal do antigo PCB (hoje gordos, felizes e tucanos!) nos chamava, só porque prezávamos pela ética na política. Ética na política, hoje, com as exceções de praxe, é oco de pote, como dizem os garimpeiros: palavra vazia.
Putz, falei demais!! Valeu, um grande abraço! Outro dia desses eu apareço aí na terra pra gente conversar!!