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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

domingo, 9 de abril de 2017

Sobre a "roubalheira" do PT

Copiei do FB de Leandro Nunes

Eu ainda não vi um petista detido, acusado ou com contas descobertas na Suíça ou qualquer outro paraíso fiscal. Na série de prisões de políticos e nas apreensões espetaculosas de bens ocorridas nos últimos anos, não se viu um carro de luxo, jóias, não se viu uma condução coercitiva realizada de alguma mansão suntuosa de políticos ou dirigentes petistas. Pelo contrário, o que ficou registrado das residências, por exemplo, do José Dirceu e do José Genoíno em SP e do próprio Lula em São Bernardo do Campo são casas ou apartamentos até simples perto do que pessoas que ocuparam seus cargos poderiam ter. Mesmo o tal tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia, que tanto se contorcem para atribuir a Lula sua propriedade, e mesmo que fossem, não são castelos nem mansões, são de certa maneira simples também, (em se tratando de um tríplex em Guarujá, nem se compara por exemplo com o dos Marinho em Paraty, em luxo ou na localização), imóveis e locais dignos de serem "zoados" pelo Eduardo Pais, Paulo Maluf dentre outros que "entendem do assunto".
Na lista de políticos cassados pelo TSE ou inelegíveis pelo "Ficha Limpa" o PT não está nem perto de encabeçá-la, nem em números absolutos e menos ainda em média. Esta é encabeçada mesmo por PMDB e PSDB, os partidos do golpe. Partidos muito menores como PP possuem mais políticos cassados ou tornados inelegíveis em números absolutos que o próprio PT. Ora essa, se roubaram tanto, para onde foi este dinheiro? Tem algo errado aí e a conta não fecha. Este discurso de "corrupção" e "roubalheira" foi usado outras vezes na história e sempre da mesma forma e com os mesmos fins, sempre contra líderes e governos populares que desagradavam a elite nacional. Foi assim contra Vargas, João Goulart e até mesmo contra JK, que inclusive atribuíram-lhe a propriedade de um apartamento que na verdade não era seu (alguma semelhança com os dias de hoje?). Passado o tempo, assentada a história, o que tem-se hoje para acusar Getúlio, Jango e JK de corrupção? NADA!
Em finais dos anos 80 o PT tinha um discurso de rompimento com a ordem política e econômica vigente, um discurso de certa forma radical e que também se pautava por um viés moralista, que o mantinha distante das relações com empresários e financiamentos empresariais de campanha. Acontece que em fins da década de 80 e início da de 90 o PT percebeu que para vencer eleições e disputar de fato o poder do país era preciso mudar isto, e foi tornando menos radical o seu discurso e se aproximando do setor privado, aquele que financiava as campanhas. O PT descobriu que para ganhar o jogo era preciso jogar o jogo. Isso culminou com a eleição de Lula em 2002, cujo seu vice, José de Alencar foi escolhido justamente de modo a fazer a ponte com os empresários (digo aqui não a ponte no sentido de corrupção ou caixa 2, mas no sentido de construção política com o setor).
Não estou dizendo aqui que políticos petistas não "roubaram", apesar que este termo é complicado de ser usado em um país onde a polícia não pode sequer entrar de greve que todos viram ladrões, como aconteceu no Espírito Santo. A maioria destes políticos e dirigentes petistas que hoje foram presos, e diga-se de passagem, sem provas, em julgamentos parciais, espetacularizados pela mídia e conduzidos em clima de histeria nacional, estes são velhos militantes, da luta contra a Ditadura ou oriundos de sindicatos e movimentos sociais. São pessoas que guardam o mínimo de utopia em sua trajetória e que cujo crime mesmo foi o de jogar o jogo, que é feito sob medida para que os vencedores sejam aqueles que o sistema quer. Como diz Maquiavel, "aos meus amigos tudo, aos meus inimigos a lei". Aécio Neves e as cúpulas do PSDB e PMDB, não somente soltas, como governando o país é a prova disso.
Outro aspecto disso tudo é que o poder lida com dinheiro, e atrai quem está em busca dele. Esses anos com o PT em ascensão e na presidência do país atraiu muito picareta e vigarista para o seio não somente do PT como também dos partidos mais próximos. O Delcídio do Amaral é um caso clássico, um cara que era do PSDB, jogava com o governo FHC e de repente, de uma hora para outra, muda de partido. Exemplos parecidos e de menor escala ocorreram nos níveis estaduais e municipais, pessoas da elite de municípios, pequenos empresários, médicos, donos de comércio, pessoas mais ricas de municípios pequenos e pobres foram para o PT simplesmente por oportunismo. Ainda assim o PT tinha e tem um controle maior, seja ideológico, seja financeiro e pragmático do seus quadros e de suas ações, mesmo em pequenos municípios do que os outros partidos. Um prefeito qualquer de cidade pequena filiado ao PSDB, o partido não quer nem saber do que ele faz lá e como faz, só quer saber dos votos de lá para deputado, senador, governador, etc. No PT tem-se o mínimo de cobrança, de comprometimento com a pauta popular e do partido.
O erro do PT foi o de jogar um jogo do qual ele não participava da criação das regras, um jogo onde as regras poderiam ser mudadas a qualquer momento, e contra ele. E assim ocorreu. O problema do PT, como diz o Leonardo Stoppa, é que ele enche o saco das elites, da burguesia nacional e do capital financeiro internacional, e por isso, contra ele foram usadas todas as armas de propaganda e jurídicas de modo a destruir sua utopia e seu legado. Não conseguiram, e não conseguirão.

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