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Folha de S.Paulo, 09/01/2011:
Look da presidente põe em xeque projeto de prêt-à-porter brasileiro de prestígio
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Ter uma mulher na Presidência da República é uma espécie de revolução para um país cujo passado patriarcal é dos mais pesados.
Dessa perspectiva, parece fútil tratar da relação de Dilma Roussef
com a moda. No entanto, eis um pequeno tema que deverá estar presente
nos quatro anos de governo.
Antes que me acusem de sexista, gostaria de deixar claro que não
estou preocupado com o estilo da presidente. O que me interessa é a
decisão que tomou de vestir na posse uma roupa feita por uma costureira
particular pouco conhecida, e não um modelo criado por algum dos
principais criadores ou grifes brasileiros.
A escolha de Dilma representa um baque para as marcas nacionais de
moda. Há décadas, estilistas e empresários vêm se empenhando em criar um
prêt-à-porter brasileiro de prestígio, nos moldes do que ocorreu na
França, na Itália e nos EUA.
Naqueles países, a indústria de moda é bastante
forte, uma empregadora de peso e uma poderosa fonte de riqueza. Não é à
toa que Michelle Obama elege cautelosamente a grife americana que vai
vesti-la em eventos expressivos. O mesmo faz Carla Bruni, ao selecionar
seus trajes entre as famosas "maisons" francesas.
Nas escolhas dessas primeiras-damas, está em jogo não apenas a
elegância, mas também o compromisso com um extrato da economia de seus
países.
É certo que Dilma optou por uma roupa brasileira, feita com toda
dignidade pela gaúcha Luisa Stadtlander. Agindo assim, entretanto,
acabou por colocar em xeque a relevância das grifes nacionais de
prêt-à-porter e de luxo, bem como o projeto que elas mantêm de
modernizar o design, a produção e o consumo no Brasil.
A decisão da presidente demonstra outras três coisas: que os
celebrados estilistas nacionais não estão aptos a agradar mulheres
"reais" como ela; que a política de afirmação do prestígio das grifes
está muito longe de se efetivar no país; e que a indústria de moda
brasileira, enfim, parece não ser um assunto significativo para a
Presidência da República.O Ornitorrinco pede a palavra para informar que prêt-à-porter significa, se não nos enganamos, pronto para usar (roupa pronta para usar, no caso) e para dizer que o PIG está mesmo transtornado e que prêt-à-porter é a decisão tomada ainda em 2002: é pau em qualquer governo de esquerda, e se não tem nada relevante não tem problema: dá-se "relevância" para qualquer coisa. E tem gente que ainda lê - e acredita - nessa mídia apodrecida e irrelevante.
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