Eu visito o Bule Voador todos os dias
Autor: Pedro Almeida
O
Supremo Tribunal Federal decidiu ontem em favor do reconhecimento de
uniões estáveis entre casais do mesmo sexo, denominando-as, desta forma,
como entidade familiar. A decisão foi unânime, com 10 votos a favor e
zero contra, e marca uma vitória numa longa luta por direitos civis que
eram negados a casais homoafetivos.
Nada menos que 112 direitos passam agora
a se aplicar a estas pessoas, direitos que, até então, seriam de única
exclusividade de casais heteroafetivos. “Ex facto oritur jus” –
o direito nasce dos fatos, e o fato é que estes 112 direitos eram
negados aos 60 mil casais homoafetivos presentes hoje no Brasil.
Numa sociedade democrática, como a
nossa, a extensão de direitos civis a mais uma parcela da população é
sempre um ganho, e não uma perda – apesar da larga gama de indivíduos
que pensam o contrário, por conta de convicções pessoais; na sua
estreita visão de mundo, devem ser estendidas a todos os cidadãos formas
de “limites para a pluralidade”, nas palavras da própria CNBB.
A decisão do STF não era para ser algo
fora do comum – a Holanda já reconhece direitos de casamento para todos
os cidadãos há 10 anos, independente da natureza da união, enquanto aqui
na América do Sul, Argentina e Uruguai o fizeram antes do Brasil. Mas
não, a decisão foi algo fora do comum, graças a insistente mania de
certos segmentos sectários da sociedade brasileira de tomar para si o
direito de conceituar em torno da entidade familiar.
Esta decisão é uma vitória simbólica
para nós, do movimento humanista secular, dentro ou fora da equipe do
Bule ou dos membros da LiHS, pois não somente vimos uma decisão em favor
da pluralidade e equalização de direitos, como também tivemos o prazer
de presenciar um momento histórico para o país, no qual o relator Ayres
Britto deu leitura inclusiva à Constituição e o ministro Celso de Mello
teve a oportunidade de esfregar na cara da CNBB (que constou entre os amici curiae)
e demais entidades sectárias que “a República é Laica!” e que não se
pode nem se deve legislar por convicções pessoais destes grupos.
Os pastores Silas Malafaia, Marco
Feliciano e os Bolsonaros da vida podem espernear o quanto quiserem,
agora. Enquanto não tiverem um argumento mais sólido do que, por
exemplo, o das obrigações morais do so-called “povo de Deus” de
Malafaia, ou aqueles que citam Levíticos, como muitos no Twitter, serão
ridicularizados a esmo e terão seus preconceitos colocados em segundo
plano pela legislatura. Faço das minhas palavras as de Thomas Jefferson,
célebre defensor do estado laico: “O ridículo é a única arma que pode
ser usada contra proposições ininteligíveis.”.
O Ornitorrinco pede a palavra para lembrar, por necessário, que a tropa do atraso não é composta apenas pelos evangélicos acima citados, que marcham com patifes da extração de Bolsonaro: a santa, madre, genocida e hipócrita igreja católica fez e permanecerá fazendo de tudo para manter portas e janelas fechadas de modo a impedir que sejamos iluminados e impedidos de respirar ar puro.
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