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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Água: a oferta é finita, a demanda está a crescer e, ao contrário do petróleo, não há alternativa

Bancos à prova d'água

O que têm em comum Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Citigroup, UBS, Deutsche Bank, Credit Suisse, Macquarie Bank, Barclays Bank, Blackstone Group, Allianz, HSBC Bank, T. Boone Pickens, George H.W. Bush, Li Ka-shing e Manuel V. Pangilinan?
Responde o sagaz Leitor: "São ricos".
Sim, verdade. Mas além disso? "São uns gatunos".
Sim, tudo bem: mas além disso? 
"Fazem parte da restrita elite que condiciona pesadamente o caminho do Mundo".
...e isto é verdade também. Mas além de serem ricos, gatunos e fazer parte da restrita elite que condiciona pesadamente o caminho do Mundo, o que têm em comum?
"Manipulam a Finança para aumentar as suas próprias riquezas e o poder também".
Ok, querido Leitor, vamos fazer assim: esqueça a pergunta, tá bom? E que raio...
O que quero dizer é que todos os nomes citados antes têm outra coisa em comum: e esta coisa chama-se "água".
Os bancos de Wall Street e os bilionários da oligarquia planetária estão a comprar água em todo o mundo, e com um ritmo muito preocupante.
Terrenos com rios, lagos, direitos de exploração, empresas de distribuição, acções das empresas produtoras e distribuidoras, tecnologia relacionada: nada disso é uma novidade absoluta, mas o fenómeno aumenta rapidamente.
Depois há uma segunda tendência preocupante: começam a surgir relatos acerca duma actividade governamental (por enquanto muito limitada, diga-se) para limitar a capacidade dos cidadãos de obter água de forma autónoma. É o caso de Gary Harrington, do Oregon, como vimos há dois anos.
Mas voltemos aos "ricos & gatunos".
Há dois anos, Jo-Shing Yang, um pesquisador independente autor do livro Ecological Planning, Design & Engineering. Solving Global Water Crises: New Paradigms in Wastewater and Water Treatment. Small and On-Site Systems for Water Self-Sufficiency and Sustainability (da próxima vez não seria mal pensar num título um pouco mais curto), publicou um artigo no site Global Research.
O que mudou entretanto?
Abro a página de Google e eis uma breve pesquisa com a expressão "o problema da água". Os resultados são desconfortantes: Falta de água será problema mundial para o século XXI, O problema da escassez de água no mundo, O problema da distribuição de água, Água doce e limpa: de "dádiva" à raridade, Abastecimento de água doce ameaçado, etc. etc.
76.800.000 resultados.
Melhor tentar com uma expressão um pouco mais precisa: que tal "bancos e água"?
Olha, 53.400.000 resultados, nada mal.
Pena que como resultados não sejam propriamente dos melhores: "Bancos à prova d´água" é interessante quando formos obrigados a usar o carro num dia de chuva; "Bancos não recebem mais contas de água e luz" é sem dúvida um problema em Pernambuco; "Audi A4 com água nos bancos traseiros" também é muito triste (experimentem fechar as janelas), mas não é bem isso que tinha em mente.
O que tinha em mente era uma pesquisa acerca dum problema bem mais grave: os principais bancos e investidores mundiais tratam a água como uma mina de ouro. Isso terá consequências desastrosas no futuro próximo, é inevitável. E não há suficiente atenção acerca disso. De todo.
Diz Andrrew Liveris, manager da Dow Chemical: A água é o petróleo do século 21.
Será? Alguns dados: só nos Estados Unidos, a indústria da água vale 425 bilhões de Dólares. Na sua conferência anual sobre os "Cinco grandes riscos", Goldman Sachs disse que a falta de água pode ser, para a humanidade no século 21, uma ameaça mais séria do que, por exemplo, a falta de alimentos ou de energia.
Em 2012, a mesma Goldman Sachs comprou a empresa Veolia, que fornece água a três milhões e meio de pessoas no sudeste da Inglaterra: mas já em 2003, juntamente com o Blackstone Group e o Apollo Management, tinha adquirido a Ondeo Nalco, empresa líder na purificação da água, com 10.000 funcionários em 130 Países. E em 2008, sempre a Goldman Sachs tinha investido 50 milhões de Dólares na China Waters and Drinks, empresa líder na produção e distribuição de água engarrafada na China. Resultado: dado que a China sofre uma das piores escassez de água no continente asiático, a indústria da água engarrafada é uma daquelas que está a crescer mais rapidamente no mundo, com lucros enormes.
O principal economista de Citigroup, Willem Buitler, disse em 2011: A água vai tornar-se o activo mais importante, muito mais do petróleo, do cobre, dos recursos agrícolas e dos metais preciosos.
Um exagero? Nem por isso.
Tomamos como exemplo a tecnologia do fracking, a última fronteira no âmbito da extracção do petróleo: o fracking gera uma enorme demanda por água e serviços relacionados. Cada poço requer entre 10 e 20 milhões de litros de água, 80% dos quais não podem ser reutilizadas pois no final das operações fica 10 vezes mais salgada do que a água do mar.
Por esta razão, Citigroup recomenda aos proprietários de direitos de utilização de água que vendam o líquido para empresas petrolíferas e não aos agricultores: a água para fracking pode ser vendida a um preço 60 vezes maior do que a água para fins agrícolas (3.000 Dólares por acre-pé em vez de 50 Dólares).
Um investimento bem rentável. Ao qual muito não resistem.
A família Bush, entre 2005 e 2006, comprou 1.200 quilómetros quadrados de terra na fronteira entre Bolívia, Brasil e Paraguai. A terra está localizada no maior aquífero do mundo, com volume cúbico de cerca de 40.000 km, suficiente, segundo as estimativas, para abastecer o mundo inteiro de água potável para os próximos 200 anos.
Voltamos ao banco Citigroup: na recente Water Investment Conference ("Conferência de Investimento na Água") do ano de 2012, o banco identificou 10 principais tendências no sector da água:
- Sistemas de dessalinização
- Tecnologias de reutilização de água
- Utilitários para a produção da água
- Membranas de filtração
- Ultravioleta (UV) para desinfecção
- Tecnologias de tratamento de água de lastro
- Desenvolvimentos da osmose utilizada na dessalinização
- Tecnologias para a eficiência da água e seus produtos
- Sistemas de tratamento pontuais
- Concorrentes chineses no sector da água
Enquanto do fracking já falámos, o sector do tratamento da água lastro de água encontra-se em plena expansão, com lucros de 1.35 bilhões de Dólares por ano que poderão tornar-se 30-50 bilhões em breve. O mercado da filtração da água também é muito prometedor, seja comunitário ou particular: as estimativas apontam para 5 biliões de Dólares no futuro contra 1 bilhão actual.
Por esta razão Citigroup está a aumentar de forma agressiva os fundos para participar na próxima vaga de privatização da infra-estrutura: em 2007, estabeleceu uma nova unidade chamada Citi Infrastructure Investors, através da Citi Alternative Investments.
Segundo a agência de notícias Reuters, Citigroup reuniu alguns dos maiores nomes da indústria das infra-estruturas e, ao mesmo tempo, está a construir um fundo de 3 bilhões. O fundo, de acordo com os especialistas, terá apenas um punhado de investidores externos e será focada nos activos dos mercados desenvolvidos.
Portanto, o Ocidente e as economias desenvolvidas são o alvo. O que significa não apenas água, mas também todas as infra-estruturas para o transporte do líquido.
Exemplos? Citigroup, em parceria com o banco HSBC, a Prudential e outros sócios menores adquiriram a concessionária de água do Reino Unido Kelda (no Yorkshire) já em Novembro de 2007.
Ao mesmo tempo, o Citigroup entrou de forma pesada no âmbito das infraestruturas: assinou um contracto de 99 anos com a cidade de Chicago para a concessão do Aeroporto Midway (em parceria com a John Hancock Life Insurance Company e um operador de aeroportos privados canadense). Citigroup está também no grupo envolvido na compra da empresa estatal Letiste Praha, que opera no Aeroporto de Praga (República Checa).
Paralelamente, Citigroup entrou no mercado das infra-estrutura da Índia, através da parceria com o Blackstone Group e duas empresas de financiamento privadas da Índia; no total, 5 biliões de Dólares (dados de 2007).
E Citigroup não está sozinha.
Credit Suisse em Janeiro de 2008 exortou os investidores a tirar proveito da água-tendência e investir em empresas dedicadas à produção, preservação, tratamento e dessalinização do líquido. Sem esquecer as infraestruturas, como é óbvio.
Uma tendência que, de acordo com o banco, terá como ponto central o esgotamento das reservas de água doce, por causa da poluição, desaparecimento das geleiras (a principal fonte de reservas de água doce) e crescimento da população.
Credit Suisse reconhece à água o papel de "megatendência" do nosso tempo, pois a crise de abastecimento pode causar "graves riscos sociais" nos próximos 10 anos; e dois terços da população poderão viver numa condição de "stress hídrico" em 2025.
Passo seguinte? Infra-estruturas.
Credit Suisse, em parceria com a General Electric, em Maio de 2006 estabeleceu uma joint-venture de 1 bilhão de Dólares para lucrar com a privatização das infra-estruturas. Geração, armazenamento e distribuição de água, mas não apenas isso: portos, aeroportos, controle do tráfego aéreo, ferrovias, estradas com portagem. Só nos Países desenvolvidos, as projecções apontam para um mercado de 500.000.000.000 de Dólares. E nos Países em desenvolvimento? 1 trilhão de Dólares no prazo de 5 anos.
Em Outubro de 2007, o Credit Suisse criou uma parceria com a Cleantech Group (que opera no sector das tecnologias limpas) e o Consensus Business Group (uma empresa de capital baseada em Londres, propriedade do bilionário Vincent Tchenguiz) para investir em tecnologias limpas em todo o mundo. Porque aquela da água é tecnologia limpa.
Como afirmado no relatório de Fevereiro de 2008, "a água é um foco para aqueles que conhecem as commodities estratégicas globais. Tal como acontece com o petróleo, a oferta é finita, mas a demanda está a crescer e, ao contrário do petróleo, não há alternativa".
Olhando para os dados dos últimos 6-7 anos, podemos observar como todos os grandes investidores globais tenham seguido um percurso bem definido: água e infraestruturas. JPMorgan Chase, Allianz Group, Barclays, Deutsche Bank, Morgan Stanley, Merrill Lynch (antes da aquisição por parte do Bank of America), UBS. Mas o elenco é muito mais comprido: seria preciso, por exemplo, falar dos fundos de investimento (Mutual, Hedge, Pension, etc.) criados nos últimos anos e todos focados no produto água.
Silenciosa, sem os holofotes dos media, a corrida para a privatização da água é imparável: muitos Estados têm dificuldades financeiras e já não são capazes de manter ou melhorar as empresas de distribuição. Face as ofertas de milhões de Dólares, cidades e inteiros Países terão muitas dificuldades em rejeitar a privatização.
Porque, como afirma Credit Suisse, "ao contrário do petróleo, não há alternativa".
Ipse dixit.

Fontes: Global Research - The New “Water Barons”: Wall Street Mega-Banks are Buying up the World’s Water (nota: no fundo do artigo de Global Research estão disponíveis mais links), ControInformazione

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